Foi a pensar em Fernando Pessoa e no seu poema, no qual passa a mensagem, que “nunca ninguém se perdeu, tudo é verdade e caminho’ que se assinalou na quinta-feira, 11 de maio, em Sardoal, os 78 anos da inscrição da Estrada Nacional 2 (EN2) no Plano Rodoviário Português. É a via que atravessa 35 concelhos de Norte a Sul de Portugal, entre Chaves e Faro, ao longo de quase 740 quilómetros, e que está confirmada como um sucesso turístico.
Luís Machado, presidente da Câmara Municipal de Santa Marta de Penaguião e da Associação de Municípios da Rota da EN2, e também mentor da união, afirmou que “temos o melhor projeto de coesão nacional” mas manifestou também preocupações: com quase 7 anos a Associação sente “alguma dificuldade de envolvimento e compromisso”, ou “dores de crescimento”, apesar da “capacidade que a marca teve de trazer pessoas para o território”, calculado em 100 mil turistas que já passaram pela EN2.

Certo é que a procura aumentou desde que, em 2016, foi criada a Associação de Municípios da Rota da EN2, embora a ideia tenha nascido em 2014, em Santa Marta de Penaguião. Centenas de milhares de turistas percorrem a via, ou parte dela, a caminhar, a correr, de bicicleta, de mota, de carro ou de autocaravana, mas chegou o momento de discutir os fundos comunitários havendo, segundo Luís Machado, “uma oportunidade extraordinária” para a EN2.
A previsão aponta para cerca de 10 milhões de euros – designadamente cinco milhões em cima da mesa de Investimentos Territoriais Integrados (ITI) e mais dois a três milhões de PEPAC – mas a Associação prevê um problema: os 15% da componente nacional.

Após o “envolvimento e compromisso” sentido até 2021, agora alguns autarcas, onde se inclui Luís Machado e Miguel Borges – ambos em final de mandato – sentem que “algo não está bem”.
Tal montante, “dividido por cada município, não é nada em termos orçamentais” mas o presidente da Associação recordou as dificuldades que envolveram o Grande Prémio de Portugal Nacional 2 em ciclismo. “Vimos as dificuldades que foi para que alguns municípios contribuíssem com 11 mil euros”, lembrou.
E questionou se fará sentido “avançar com candidaturas para tantos milhões sem ter os 15% garantidos? Será seguro fazermos essas candidaturas para depois dizer: desculpem lá mas não temos capacidade de executar porque não nos entendemos nos 15%?”, alertou.
“Se não conseguirmos garantir a nossa parte, dificilmente lá chegaremos”. Daí ter ficado a promessa em Sardoal da Associação “ir bater à porta de todos os presidentes de Câmara” com o objetivo de conseguir “um compromisso”. Luís Machado defendeu que “a nossa capacidade de agregar tem de ser evidente”.

O autarca deu ainda conta que o governo central, através do Ministério da Coesão Territorial, “tem dois projetos âncora nas ITI’s: a EN2 e as capitais europeias da cultura. Temos a secretaria de Estado do Turismo muito disponível para incorporar a EN2 e estamos naturalmente muito preocupados, pelo menos eu, com a questão dos nossos 15%, que são irrisórios, mas que nos tem inibido de termos o à vontade de avançarmos de peito aberto como é nosso apanágio”, insistiu.
Excetuando esta questão, “o ânimo não podia ser mais nem melhor”, frisou, numa sessão em que houve tempo ainda para falar na importância de alterar os estatutos da Associação e criar a figura do embaixador. “Os tempos que se avizinham são muito difíceis, com muito trabalho, mas temos de o fazer”, concluiu.

Por seu lado, Ana Vicente, coordenadora dos distrito de Santarém das Infraestruturas de Portugal (IP), fez uma apresentação sobre o Plano de Ação e Atividades Desenvolvidas.
Começou por um enquadramento histórico, lembrando que nos final do século XIX grande parte daquela que é hoje a EN2 era Estrada Real e Distrital. Em 1914 concluiu-se a ligação rodoviária ao Algarve, com a conclusão da ponte sobre o rio Vascão (KM 680+700 da atual EN2) e troço do Ameixial à Ribeira do Vascão. Em 1945 é classificada como EN2, sendo hoje ainda uma “via estruturante do interior do país”.

Referiu que nos seus 739,26 km “atravessa distintos relevos e paisagens, modelou o território potenciando o seu desenvolvimento, tendo os aglomerados urbanos crescido em função do seu traçado. Pelos valores culturais que encerra, pela riqueza patrimonial das zonas onde se implanta, foi classificada como Estrada Património, no trecho entre Almodôvar e São Brás de Alportel”.
Lembrou igualmente que em 2016 foi constituída a Associação de Municípios da Rota da Estrada Nacional 2 com o “fim principal de criação de riqueza e valorização das pessoas dentro dos territórios atravessados pela N2, o desenvolvimento turístico, e a promoção económica e cultural dos municípios”.
Em 2017 a IP assinou um Acordo de Colaboração com a Associação visando a valorização desta rota, sendo que em 2019 e 2020 verificou-se um crescimento da procura da Rota da EN2 fruto da maior divulgação sobretudo nas redes sociais.
Em 2020 dá-se a articulação entre a IP, a Associação, Autoridade Nacional de Segurança Rodoviária e a Autoridade da Mobilidade e dos Transportes relativamente a aspetos de sinalização da Rota, com a IP a desenvolver a atividade preparatória para valorização da Rota e a estratégia de intervenção, designadamente com obra, isto é, pavimentação, sinalização vertical, marcação horizontal, sistemas de retenção, equipamentos de demarcação e revestimento vegetal/arborização e ainda na divulgação, com um desenvolvimento de um storymap (identificação de pontos de interesse onde consta informação sobre particularidades da construção da estrada, a sua evolução, e histórias à volta da sua existência).
Indicando os números, Ana Vicente avançou que a IP investiu, na conservação corrente da EN2, de 2019 a 2021 3,79 milhões de euros, havendo estimativa de investimento, no que toca a atividades desenvolvidas, de 2021 a 2024, de 13,1 milhões de euros.

O anfitrião, Miguel Borges, falou da EN2 como “uma boa herança para quem vier a seguir” considerando “importante que a acarinhemos”.
Tal como o presidente da Associação, o presidente da Câmara Municipal de Sardoal apontou o projeto da EN2 como “o projeto nacional” de maior “coesão territorial” que importa por isso “valorizar”, apresentando-se como “um grande recurso de valorização e dinâmica”, capaz de “inverter a marcha que o interior tem tido”.
No final da celebração, os convidados puderam assistir à antestreia do documentário ‘N2, a estrada que nos une’, que, em cerca de 60 minutos, consegue transmitir algumas das emoções e sentimentos que qualquer viajante poderá sentir ao longo da Estrada. O documentário estará brevemente disponível nas salas de cinema e auditórios do país.

Esta estrada liga Chaves a Faro perfazendo um total de 739,260 quilómetros, atravessa 35 concelhos que se distribuem por 11 distritos. É uma das formas de descobrir o interior de Portugal, quer seja a caminhar, correr, de bicicleta, de mota, de carro ou de autocaravana. Possibilita conhecer as diferentes culturas dentro do nosso país, a gastronomia e as tradições de cada região.
A Associação de Municípios da Rota da Estrada Nacional 2 foi constituída a 5 de novembro de 2016 com o principal objetivo de criar riqueza e valorizar as pessoas dentro dos territórios atravessados pela N2, o desenvolvimento turístico, e a promoção económica e cultural dos municípios.