Augusto Gaspar com a filha Carolina na cidade de Abrantes. Créditos: mediotejo.net

A missão foi um dar as mãos durante 10 dias. Na área de trabalho da equipa portuguesa, na cidade de Antáquia, em trinta corporações, pessoas de diferentes países uniram-se para resgatar as vítimas do terramoto. Ao entrar na Turquia, Augusto Gaspar, que integrava a Força Operacional Conjunta (FOCON) composta por 52 operacionais, sabia que estava numa corrida contra o tempo, num cenário adverso, de uma escala que experimentava no terreno pela primeira vez, em contexto internacional, especificamente na área dos sismos.

Mas a mente daqueles operacionais, apesar da desolação e da esperança em encontrar sobreviventes, não se deixa moldar pelas emoções. O treino assim obriga; foco e segurança são as palavras de ordem.

A Força Operacional Conjunta (FOCON) – coordenada pela Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil (ANEPC) e composta por 52 elementos da Força Especial de Proteção Civil da ANEPC, GNR, Regimento de Sapadores Bombeiros de Lisboa e Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM) e por seis cães — esteve mais de uma semana na cidade turca de Antáquia, atingida em 06 de fevereiro por dois fortes sismos.

Quando a equipa portuguesa chegou à área afetada teve de passar pela RCD – Reception and Departure Centre, o ponto onde todas as equipas dão indicação de entrada no território estrangeiro e recebem indicações para qual setor se devem dirigir.

“Quando chegámos ao aeroporto de Adana sinalizamos neste centro de receção e partida que a equipa portuguesa tinha chegado”, começou por explicar Augusto Gaspar ao nosso jornal.

De seguida os turcos direcionaram os portugueses para a cidade de Antáquia. Fizeram-se à estrada, “para fazermos pouco mais de 200 km demorámos sensivelmente 12 horas porque o trânsito estava congestionado. Toda a gente ia para Antáquia com meios de ajuda ligeiros, médios e pesados, incluindo maquinaria pesada. Foram 200 km de filas”, lembra.

A Força Operacional Conjunta (FOCON) – coordenada pela Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil (ANEPC) e composta por 52 elementos da Força Especial de Proteção Civil da ANEPC, GNR, Regimento de Sapadores Bombeiros de Lisboa e Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM) e por seis cães — esteve mais de uma semana na cidade turca de Antáquia, atingida em 06 de fevereiro por dois fortes sismos. Créditos: Augusto Gaspar

Uma vez na zona afetada, a equipa dirigiu-se à UCC – USAR Coordination Cell, uma célula de coordenação que indicou o setor a ser trabalhado.

“No local onde estávamos a trabalhar tínhamos 30 equipas de diferentes países e continuaram a chegar equipas”, conta. Uma interação entre equipas que diz ser “sempre boa”. Grupos de ajuda internacional, que obedecem a standarts universais de socorro. “Ao nosso lado tínhamos uma equipa tailandesa que por vezes vinha à nossa casa-de-banho – que era boa – e em simultâneo ofereciam comida tailandesa. Na primeira noite estávamos com pouco combustível para os nossos geradores e falámos com os romenos que nos disponibilizaram algum combustível” devolvido no dia seguinte, refere.

Augusto Gaspar nasceu em Abrantes há 49 anos, mas sente-se natural de Alcaravela (Sardoal), onde residem os pais e onde diz sentir-se em casa, nos tão apreciados afazeres da vida rural. O operacional habituado a espaços confinados, gosta particularmente do campo por sentir ter “espaço” e “amplitude” e especialmente por ser o local de excelência para juntar a família.

Longe do seu local de conforto, inevitavelmente o seu primeiro pensamento quando chegou a Antáquia prendeu-se com a destruição que a sua visão alcançava e sobre as dificuldades do resgate numa tal catástrofe. “Se as vítimas estiverem debaixo dos escombros e se conseguirmos detetá-las, o resto são procedimentos operacionais para as retirar”, refere.

Contudo, quando a equipa portuguesa chegou ao terreno, já tinham passado algumas horas desde o evento que deu origem aos colapsos. Augusto indica um gráfico, com uma curva que reflete a probabilidade de sobrevivência, sendo que a curva vai decaindo com o passar do tempo.

“As primeiras 24 horas são denominadas como golden day, quando há grande probabilidade de resgatar vítimas com vida. A partir daí a curva vai decrescendo. Chegámos lá 72 horas depois, a curva já estava um bocado baixa, ainda assim a curva é só estatística”, descomplica.

A Força Operacional Conjunta (FOCON) – coordenada pela Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil (ANEPC) e composta por 52 elementos da Força Especial de Proteção Civil da ANEPC, GNR, Regimento de Sapadores Bombeiros de Lisboa e Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM) e por seis cães — esteve mais de uma semana na cidade turca de Antáquia, atingida em 06 de fevereiro por dois fortes sismos. Créditos: Augusto Gaspar

Explica que “o maior problema” passa por “conseguirmos perceber onde há pessoas dentro daqueles escombros. Para isso direcionamos os nossos esforços de busca para os espaços vazios, como por exemplo um espaço entre o chão e um tecto de um edifício que colapsou. Se naquele espaço vazio houver água e comida e se as vítimas não estiverem com uma grande lesão a probabilidade de sobrevivência aumenta”.

Para encontrar vítimas “temos de deitar a mão a tudo aquilo que temos, inclusivamente a quem lá vive. Essas pessoas são fundamentais para nos ajudarem”, garante. A equipa portuguesa contou com um interprete desde o primeiro ao último momento. “Um amigo” que encontraram naquela cidade completamente destruída: “Tivemos a sorte de ter um guia, uma pessoa excecional, um turco que vive entre a Turquia, a Galiza e Portugal. É pintor”, detalha.

Na chegada da FOCON à Turquia, o intérprete estava no aeroporto, “informou-nos que seria o nosso guia. No terreno era ele quem interagia com a população, porque não há muita gente a falar inglês”. A equipa passou assim de 52 para 53.

Augusto Gaspar integrou a GNR há 26 anos. Desde 2012 que integrar a especialidade de Busca de Resgate em Estruturas Colapsadas. Créditos: mediotejo.net

Augusto explica que, primeiramente, os esforços são enviados para onde provavelmente existem vítimas vivas, o que implica fazer escolhas sendo “difícil” essa opção, reconhece. Mas “as guidelines estabelecem prioridades e ajudam a fazer essas escolhas”, embora concorde que estar no terreno “é relativamente mais complexo” do que um treino, no entanto “como treinamos regularmente e de forma continuada, acabamos por mecanizar” o processo.

Estas ocorrências e catástrofes exigem esforço físico e também emocional, não obstante os elementos da Proteção Civil “estão devidamente treinados”, assegura. No terreno “temos de ser mais racionais do que emocionais porque se formos muito emocionais acabamos por descurar a segurança e tomar decisões que podem não ser as mais corretas. Por isso é importante sermos racionais e o treino leva-nos a mecanizar”, insiste admitindo que “a emoção está sempre lá”.

Apesar das imagens reveladas pelos meios de comunicação social mostrarem a tragédia, Augusto Gaspar confessa que ao vivo a experiência é mais marcante. “Se um casa colapsada ou prestes a colapsar impressiona, uma cidade inteira destruída é mais impactante do que só uma casa”, observa.

A Força Operacional Conjunta (FOCON) – coordenada pela Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil (ANEPC) e composta por 52 elementos da Força Especial de Proteção Civil da ANEPC, GNR, Regimento de Sapadores Bombeiros de Lisboa e Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM) e por seis cães — esteve mais de uma semana na cidade turca de Antáquia, atingida em 06 de fevereiro por dois fortes sismos. Créditos: Augusto Gaspar

Colocado em Coimbra a desempenhar funções como adjunto da secção de formação e treino da Unidade de Emergência, de Proteção e Socorro, da Guarda Nacional Republicana, vai com frequência a Lisboa uma vez que permanece ligado, em termos operacionais e de treino, à valência de Busca e Resgate em Estruturas Colapsadas, para onde conta regressar brevemente.

Explica que a preparação destes operacionais passa pelas referidas guidelines, reconhecidas internacionalmente pela rede INSARAG – International Search and Rescue Advisory Group, que normaliza ou uniformiza a composição das equipas.

Ou seja: ligeiras (com 20 operacionais), médias (com 40) ou pesadas (com 80) – sendo um número de referência. Estas equipas dividem-se em cinco componentes: de comando, gestão (management); de busca; de resgate; médica e logística. Os 52 operacionais que compuseram a equipa portuguesa foram para a Turquia coordenados pela Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil.

No comando esteve Augusto Gaspar e um capitão da GNR, a busca foi efetuada pelos elementos dos Bombeiros Sapadores de Lisboa e da GNR, o resgate também, a parte médica foi assegurada pelo INEM, e a logística assegurada pelos elementos de todas as forças no terreno. José Guilherme, atual segundo Comandante Regional de Emergência e Proteção Civil do Comando Regional do Alentejo, liderou a missão de apoio à Turquia, enviada pela ANEPC.

Um equipa ligeira normalmente não é projetada para fora do país, cabendo essas missões às equipas médias ou pesadas. Uma equipa média deverá ter a capacidade de autonomia durante 7 dias e trabalhar num local durante 24 horas por dia. Uma equipa pesada deverá ter capacidade para trabalhar e ser autónoma durante 10 dias seguidos em locais distintos durante 24 horas por dia.

“Fomos como equipa média. Foi definido se encontrássemos vítimas vivas trabalharíamos 24 horas por dia, se ao final do dia não tivéssemos encontrado nenhuma vítima viva, apenas estivéssemos em operações de busca, então regressaríamos à base de operações ao final do dia para minimizar a probabilidade de haver acidentes ou incidentes porque estávamos numa zona onde havia muitos colapsos”, refere.

Tal chegou a acontecer aquando do salvamento da criança de 10 anos, tendo sido o momento mais importante da missão. “Quando estávamos a tentar retirar o Baran houve uma réplica e a equipa teve que recuar para uma zona segura”, conta.

A Força Operacional Conjunta (FOCON) – coordenada pela Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil (ANEPC) e composta por 52 elementos da Força Especial de Proteção Civil da ANEPC, GNR, Regimento de Sapadores Bombeiros de Lisboa e Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM) e por seis cães — esteve mais de uma semana na cidade turca de Antáquia, atingida em 06 de fevereiro por dois fortes sismos. Créditos: Augusto Gaspar

O ciclo de empenhamento de uma força como a que foi em missão para a Turquia tem cinco fases; a preparação, a mobilização, as operações, a desmobilização e o pós-missão.

“A fase da preparação é aquilo que fazemos todos os dias, como o treino. Mobilização desde que é dado o alerta, neste caso quando foi feito o pedido de ajuda externo até ao início das operações. Estas desde que começamos a trabalhar até que terminamos, desmobilização quando começamos a arrumar as coisas até que chegamos cá, e o pós-missão é aquela fase em que tratamos de toda a parte administrativa, dos equipamentos, para repor a capacidade de trabalho”, esclarece.

É na fase da preparação que acontece a Formação Contínua de Aperfeiçoamento que leva a trabalhar as diferentes áreas que integram uma missão de busca e resgate. Sendo que a busca pode ser primária ou secundária – na primeira os operacionais efetuam uma passagem pelos edifícios, efetuam chamamentos para verificar se há vítimas e é nesta que os cães entram em ação, ou seja, os meios cinotécnicos, e também são utilizados drones. Na secundária quando utilizam equipamentos de base tecnológica como sensores de vibração – se uma vitima estiver a bater no betão o equipamento produz uma vibração e conseguem identificar o local onde se encontra – ou com câmaras de prospeção – depois de confirmada que está ali uma vítima fazem um furo no betão e introduzem uma sonda para ver a sua posição.

E o resgate pode acontecer a três níveis: abaixo, acima ou ao nível do chão. “Abaixo do chão usamos as técnicas de trabalho a espaços confinados com todo o procedimento que é usado na indústria, com avaliação da atmosfera interna, monitorizar se há ou não gases, a montante fazer a validação da estabilidade ou instabilidade da estrutura. Ao nível do chão podemos ter de fazer a estabilização estrutural das estruturas recorrendo a madeiras ou equipamentos metálicos (macacos), acima do chão é trabalho de acesso e posicionamento por cordas”.

A celeridade no processo apresenta-se como essencial. “Rápido, mas sem nunca descurar a segurança de quem está lá… se bem que a segurança naquele caso é sempre muito relativa. Quando abordamos um cenário – e tínhamos um engenheiro estrutural connosco – tem de avaliar se aquele monte de peças está mais ou menos estável e se não nos vai cair em cima”.

Em caso de avaliação positiva, estabelecesse um plano de trabalho para perceber por onde abordar o problema a resolver. “Temos a figura do oficial de segurança, alguém um pouco mais recuado que está a observar a envolvência para perceber se há coisas que caem, se há movimentações que possam comprometer a segurança da equipa”. Isto porque os operacionais trabalham focados naquilo que estão a fazer, sem visão periférica ativada.

No caso de qualquer indício de perturbação, o sinal convencionado, ou seja, três apitos curtos seguidos, indica que todos devem recuar para uma posição segura, também ela definida no início da operação aquando do briefing.

Feito o balanço, para Augusto a missão “foi de sucesso”, particularmente por terem resgatado duas vidas, uma humana e outra animal. “Gostaríamos de ter ajudado muito mais, de ter feito muito mais. Fizemos tudo aquilo que conseguimos, que nos era possível. Viemos de consciência tranquila”, assegura.

Ao ser escolhido para integrar a FOCON conta ter ficado “bastante agradado” por ser uma área profissional dentro da GNR de que gosta verdadeiramente. “É muito importante que exista esta área de intervenção, identifico-me com ela há mais de uma década e fiquei contente. É o resultado de um trabalho desenvolvido durante anos, a possibilidade de ir ajudar, no terreno”.

No limite vê essa ida ao terreno como um teste. “Será que andei tantos anos a trabalhar e vou conseguir ou não vou conseguir?”, interrogava-se. Agora conhece a resposta.

Augusto Gaspar com a filha Carolina na cidade de Abrantes. Créditos: mediotejo.net

Augusto Gaspar integrou a GNR há 26 anos. Após terminar o curso de Guardas em Aveiro e Portalegre foi para Lisboa integrar o Batalhão Operacional durante 10 anos, pelo meio esteve em Timor Leste, na última missão do primeiro contingente. Encontrava-se naquele país aquando da sua independência. No regresso a Portugal licenciou-se em Engenharia Mecânica na Escola Superior de Tecnologia de Abrantes, enquanto incorporava uma companhia de reserva de segurança na residência oficial do primeiro-ministro, no Ministério dos Negócios Estrangeiros e no Banco de Portugal, onde permaneceu durante cinco anos. Esteve um par de anos no Curso de Sargentos e comandou o Posto de Manteigas entre 2010 e 2012. Nesse ano foi para Lisboa integrar a especialidade de Busca de Resgate em Estruturas Colapsadas.

Antes deste sismo, as tragédias já as conhecia de perto. Trabalhou em Borba, aquando do acidente que ocorreu em novembro de 2018, que consistiu no colapso de parte da Estrada Municipal 255, que liga Borba a Vila Viçosa.

“Foi a nossa equipa que resgatou a terceira vítima mortal”, deu conta lembrando que do acidente resultaram cinco vítimas mortais. “Duas foram facilmente recuperadas. Estavam mais duas dentro de uma carrinha no fundo da pedreira. Foi um trabalho que me marcou… estamos a falar de mover blocos de pedra com toneladas. Criou-se uma sinergia muito interessante entre nós e os operários da pedreira. Conseguimos criar uma equipa mista e resgatar os seus amigos. Ainda hoje falo com alguns deles”, relata.

Quer em Borba quer agora na Turquia as pessoas manifestavam vontade de encontrar também os corpos dos entes queridos que não resistiram à catástrofe, “para poderem fazer o luto, saberem onde foram sepultados. Sim, há essa necessidade”, confirmou.

Apesar de enfrentar a calamidade de frente, para Augusto continua a ser surpreendente como “o ser humano consegue resistir mais do que às vezes se imagina”. Durante umas buscas num dos setores na zona baixa de Antáquia, a equipa portuguesa chegou então ao pequeno Baran, mas também resgatou um cão que provocou alegria na equipa, tal como Portugal inteiro pode assistir através das imagens televisivas.

Neste momento, Augusto tal como os restantes elementos da equipa portuguesa, “ainda estamos a processar muita coisa. Mas regressei com o sentimento de que, apesar de toda aquela destruição, o povo turco foi extremamente cordial connosco, amável, agradecia-nos constantemente. Eram muito prestáveis. Até no regresso, no aeroporto de Adana, ao passarem por nós, e por estarmos fardados percebiam que éramos equipas de ajuda internacional, diziam-nos obrigado”.

A Força Operacional Conjunta (FOCON) – coordenada pela Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil (ANEPC) e composta por 52 elementos da Força Especial de Proteção Civil da ANEPC, GNR, Regimento de Sapadores Bombeiros de Lisboa e Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM) e por seis cães — esteve mais de uma semana na cidade turca de Antáquia, atingida em 06 de fevereiro por dois fortes sismos. Créditos: Augusto Gaspar

Recorda ainda que junto da base de operações portuguesa começou a ser criado um campo para alojar pessoas, “estava lá uma equipa de trabalhos e começou a frequentar a nossa base de operações. Traziam-nos sopa, ofereciam-nos chá, traziam cigarros, iam lá beber café connosco convidavam-nos para estar com eles, prestavam-nos toda a ajuda que necessitávamos”.

Fala numa experiência para a vida “até porque, por cá, queixamo-nos que a sopa não está suficientemente quente ou não tem o sal adequado mas quando estamos lá apercebemo-nos que somos uns felizardos na realidade do nosso país; temos muita segurança, em termos naturais é certo que temos os incêndios rurais no verão, é um problema que todos os anos se tenta resolver, mas as coisas estão a andar. Todos temos alguma qualidade de vida, uns mais que outros, mas não temos nada de grave que afeta a nossa qualidade de vida. Somos uns privilegiados”, considera.

Todavia as missões chegam ao fim, têm o seu tempo, e na chegada diz ter sido “gratificante” perceber que os portugueses “ficam orgulhosos e reconhecem o nosso trabalho. Foi gratificante chegarmos a Lisboa e vermos toda aquela receção. Termos sido recebidos pelo senhor Presidente da República”, contudo, sublinha, “aquilo que fizemos é apenas a nossa missão. É para isso que nos preparamos, é para isso que o Estado português nos paga”.

A propósito de compensação financeira, Augusto Gaspar lembra ainda “um episódio” passado na Turquia que classificou de “interessante” envolvendo um local. O turco perguntou-lhe, num dos momentos em que os portugueses se abasteciam de combustível numa espécie de estaleiro de maquinaria pesada, se “estávamos a ganhar dinheiro”. Expliquei-lhe que “éramos pagos em Portugal, e que o meu Governo nos tinha enviado para a Turquia para os ajudar, era a nossa missão. Recebia o salário em Portugal, mais nada. E o grau de simpatia do homem subiu consideravelmente”.

Augusto Gaspar com a filha Carolina na cidade de Abrantes. Créditos: mediotejo.net

E agora a pergunta para um milhão de dólares: Se uma realidade catastrófica semelhante atingir Portugal, estamos preparados? Notando que não poderia dar uma resposta “completa”, sendo uma resposta que exige “um espectro bastante alargado” disse que “do ponto de vista das forças que existem no território, nos últimos anos, dos agentes de Proteção Civil, tem havido uma preocupação crescente no sentido de nos prepararmos para responder a um evento desta natureza. Mas a nossa capacidade de resposta depende da magnitude do evento. Se for uma coisa muito grande costumamos dizer que todos somos poucos. Se for pequena, conseguimos dar conta rapidamente”.

Relativamente à reação, refere que nos últimos anos “todos os agentes de Proteção Civil estão a melhorar as suas competências para intervir nesta área em caso de necessidade. A montante há outros agentes, outros órgãos da sociedade civil, que também têm um trabalho a fazer”, frisou.

Na Turquia, o trabalho agora passa pela remoção de destroços, tarefa a realizar o mais rapidamente possível, para evitar um problema grave de saúde pública, recuperando os cadáveres. “Há um momento em que o decisor tem de pensar em entrar na fase seguinte, para minimizar os dados da decomposição de todas aquelas vítimas”.

Ainda os portugueses estavam na Turquia e “já estavam a efetuar demolições. Não participámos nessa parte porque as equipas de busca e resgate participam e trabalham enquanto houver resgates a efetuar. Se for viável, sem comprometer a segurança da equipa também fazemos a recuperação de cadáveres mas a nossa missão é procurar e resgatar pessoas vivas”, explicou.

Libertar para a vida, é o trabalho que Augusto Gaspar quer continuar a fazer. “Devemos escolher trabalhar em algo que gostamos de fazer para não nos preocuparmos muito com o trabalho. Há uma quantidade de coisas que gostaria de fazer, para não sentir que estou a trabalhar e o resgate é uma delas”.

A cidade de Antáquia, com cerca de 600 mil habitantes, não tem atualmente ninguém a residir em casas, estando os sobreviventes a viver em campos de desalojados. As autoridades informam que os seus habitantes necessitam neste momento de roupas, medicamentos e bens alimentares.

O Presidente da República condecorou, esta quarta-feira, com o grau de membro honorário da Ordem do Mérito os 52 elementos da equipa de resgate portuguesa que foi destacada para as operações de busca e salvamento após os sismos na Turquia. Créditos: Presidência da República

Na cerimónia de chegada da equipa portuguesa, no terminal militar de Figo Maduro, em Lisboa, estiveram presentes os ministros da Defesa Nacional, Helena Carreiras, e da Administração Interna, José Luís Carneiro, e os secretários de Estado da Proteção Civil, Patrícia Gaspar, e da Saúde, Ricardo Mestre.

O Presidente da República condecorou, esta quarta-feira 22 de fevereiro, com o grau de membro honorário da Ordem do Mérito os 52 elementos da equipa de resgate portuguesa que foi destacada para as operações de busca e salvamento após os sismos na Turquia.

Nessa cerimónia, em que também marcou presença o ministro José Luís Carneiro, e a embaixadora da Turquia em Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa considerou que os 52 elementos da Força Operacional Conjunta que estiveram em missão na Turquia foram “excecionais na prontidão, no espírito de grupo, na devoção, na competência, na humanidade”.

No final dos discursos, o chefe de Estado entregou a condecoração ao comandante José Guilherme, em representação da FOCON, mas anunciou que nos próximos dias, vão ser entregues na ANEPC, GNR, INEM e Regimento de Sapadores Bombeiros as “insígnias individuais” da Ordem do Mérito.

Mais de 44 mil pessoas morreram na Turquia na sequência de dois fortes abalos que atingiram o país e o norte da Síria em 06 de fevereiro.

Paula Mourato

A sua formação é jurídica mas, por sorte, o jornalismo caiu-lhe no colo há mais de 20 anos e nunca mais o largou. É normal ser do contra, talvez também por isso tenha um caminho feito ao contrário: iniciação no nacional, quem sabe terminar no regional. Começou na rádio TSF, depois passou para o Diário de Notícias, uma década mais tarde apostou na economia de Macau como ponte de Portugal para a China. Após uma vida inteira na capital, regressou em 2015 a Abrantes. Gosta de viver no campo, quer para a filha a qualidade de vida da ruralidade e se for possível dedicar-se a contar histórias.

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