Desde o dia 11 de março que a Associação de Assistência e Domiciliária de Alcaravela passou a ter valência de Estrutura Residencial para Pessoas Idosas (ERPI). Créditos: DR

Desde o mês de março que a Associação de Assistência e Domiciliária de Alcaravela passou a ter valência de Estrutura Residencial para Pessoas Idosas (ERPI). “Um sonho” ambicionado há 10 anos contou ao mediotejo.net o presidente da Mesa da Assembleia, Jorge Gaspar, que não esconde as dificuldades e o objetivo de ampliar a oferta para assegurar a sustentabilidade do projeto.

O processo envolveu uma empreitada “adaptação do Centro de Dia e remodelação para ERPI” que a AADA levou a cabo e dividiu em duas partes. Para além da criação da capacidade para a nova resposta social ERPI, e com o objetivo de melhorar a qualidade e eficiência do serviço prestado, na parte da “Adaptação do Centro de Dia” o edifício foi melhorado e adaptado à legislação atual, ao nível das condições de trabalho, acessibilidades e segurança contra incêndios.

“Qualquer IPSS atualmente, se não tiver a resposta de lar, as restantes, no nosso caso Centro de Dia e Serviço de Apoio Domiciliário, mas fundamentalmente o Centro de Dia perde um pouco a razão de existir porque perdeu a função de espaço” para minimizar a solidão, explica Jorge Gaspar ao mediotejo.net.

Atualmente “cada vez mais estão nas suas casas e o Centro de Dia passa a ser um local para aquelas pessoas que já não conseguem estar sozinhas. Com o passar do tempo vão percebendo que quando ficarem mais dependentes não têm resposta na instituição”, refere, acrescentando que procuram outras instituições fora da localidade e afastam-se das famílias.

E assim, para evitar esse desapego e afastamento dos mais idosos, quer das famílias quer da sua terra, a AADA empenhou-se na resposta de ERPI. “Um sonho com 10 anos, inclusivamente temos um projeto muito maior, aprovado. Só que, na altura, o financiamento foi atribuído mas os bancos não emprestaram o restante dinheiro e não pudemos avançar”, conta.

Desde o dia 11 de março que a Associação de Assistência e Domiciliária de Alcaravela passou a ter valência de Estrutura Residencial para Pessoas Idosas (ERPI). Créditos: DR

Para a construção da atual ERPI, um projeto instalado no piso inferior do edifício, com a construção de cinco quartos (um triplo, três duplos e um individual, num total de 10 camas), foi necessário haver uma mudança na legislação permitindo às instituições “ter no mesmo edifício várias respostas”. Assim, surgiu o projeto que transformou aquele espaço, até então open space que servia basicamente de arrumos e garagem, em ERPI.

A Associação teve de recorrer à banca para a execução da empreitada, cujo valor global ascendeu a 180 mil euros, mas a AADA viu aprovada uma candidatura ao Programa Operacional Regional “Centro 2020” para a parte da “adaptação do Centro de Dia”, com um financiamento de cerca de 57.137 euros.

A Associação de Assistência e Domiciliária de Alcaravela é constituída em abril de 1990, mas apenas a 15 de maio de 2005 são iniciadas as respostas sociais de Centro de Dia e Serviço de Apoio Domiciliário. “Colocámos o projeto à Segurança Social e esta colocou como condição para o projeto ser aprovado, a adaptação à atual legislação de todo o edifício que tem 15 anos, independentemente de afeto ou não à resposta social ERPI”.

Ou seja, o Centro de Dia, “nomeadamente acessibilidades, higiene e segurança no trabalho como uma sala de pessoal que não tinha. Daí termos dividido a obra em duas, apesar de ser uma empreitada única. Se não fosse o Centro 2020 a ERPI nunca era uma realidade” refere.

E a nova legislação obrigou por exemplo “a que todos os quartos tenham janela para o exterior e por isso ficámos com 10 camas. Por outro lado, os quartos ficaram com condições excelentes porque são muito espaçosos. Um espaço francamente bom”, considera o responsável.

Contudo, dois meses depois da sua abertura, ainda permanecem camas sem utentes porque a Associação não tem protocolos – acordos de cooperação – com a Segurança Social, o que inflaciona o preço de cada cama, neste momento ronda os 1100 euros.

“Tem de ser preços que consigam pagar as despesas desta nova valência”, justifica Jorge Gaspar. “Como são poucas camas, o preço não é muito barato”, reconhece, o que levou a desistências “porque as pessoas têm reformas muito baixas e não têm rendimentos” que permitam pagar o atual preço.

O responsável nota que a valência foi pensada essencialmente para os locais. “Ficamos sempre contentes em ter esta valência mas a esmagadora maioria dos nossos utentes que são do concelho de Sardoal, poderiam viver ali, até ao fim dos seus dias, quase juntamente com a família. As visitas eram garantias, coisa que já não acontece se estiveram a 300 quilómetros de distância”.

É precisamente esse o “amargo de boca” dos corpos sociais no caso da candidatura não ser aprovada. “Ficamos com camas que poucas pessoas podem aproveitar e os outros residentes virão de fora. O que é uma pena!”, lamenta.

E a candidatura com a qual a AADA avançou é ao programa PARES – Programa de Alargamento da Rede de Equipamentos Sociais que “tem o apoio ao investimento inicial. Para esse investimento recorremos a crédito bancário, o que cria uma despesa adicional, no caso concreto 1500 euros todos os meses durante 12 anos. Também uma vez aprovado esses lugares da resposta social candidatada, ficam automaticamente com protocolos com a Segurança Social”.

Desde o dia 11 de março que a Associação de Assistência e Domiciliária de Alcaravela passou a ter valência de Estrutura Residencial para Pessoas Idosas (ERPI). Créditos: DR

Na AADA todos têm “muita esperança que venha a acontecer e os quartos com protocolo descem para preços que se praticam no mercado, em cerca de 400 euros. Assim, como costumo dizer a brincar, temos um pequeno hotel de luxo, quando a ideia passava por ser acessível a todas as pessoas e não apenas àquelas que têm capacidade financeira”.

Uma candidatura que, se aprovada, significará 80 mil euros para a instituição. Jorge Gaspar avança que a Associação pretende “construir três ou quatro quartos para conseguirmos 16 camas, uma situação perfeitamente confortável. Com ou sem acordo já tem sustentabilidade” mantendo-se praticamente os mesmos recursos humanos.

Aliás, os recursos humanos “são a grande dificuldade”. Até ao momento a AADA contava com 10 trabalhadores, com a ERPI “a funcionar normalmente” passará para 14. Se o alargamento da ERPI vier a ser uma realidade, 16 trabalhadores será o número suficiente para o acompanhamento dos idosos, garante o presidente da Mesa da Assembleia.

Neste momento, a AADA conta com 27 utentes em SAD (Serviço de Apoio Domiciliário), 11 utentes de Centro de Dia (ainda em situação de domicilio devido à covid-19) e sete residentes em ERPI.

A AADA tem instalações em Santa Clara, na freguesia de Alcaravela, e orgulha-se de oferecer “um ambiente muito acolhedor e familiar”. Além disso, desenvolve diversos apoios sociais, de inclusão dos grupos sociais mais vulneráveis, através do CLDS e do POAPMC – Programa Operacional de Apoio às Pessoas Mais Carenciadas.

A sua formação é jurídica mas, por sorte, o jornalismo caiu-lhe no colo há mais de 20 anos e nunca mais o largou. É normal ser do contra, talvez também por isso tenha um caminho feito ao contrário: iniciação no nacional, quem sabe terminar no regional. Começou na rádio TSF, depois passou para o Diário de Notícias, uma década mais tarde apostou na economia de Macau como ponte de Portugal para a China. Após uma vida inteira na capital, regressou em 2015 a Abrantes. Gosta de viver no campo, quer para a filha a qualidade de vida da ruralidade e se for possível dedicar-se a contar histórias.

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