No dia da reabertura do posto de saúde de Alcaravela. Miguel Borges e utentes.

Após oito anos sem médico, o posto de saúde de Alcaravela, no concelho de Sardoal, reabriu, esta segunda-feira 29 de janeiro, para contentamento de autarcas e utentes que enchiam a sala de espera. Numa primeira fase, o médico dá consultas à segunda e quarta-feira de manhã, mediante marcação de consulta. Hoje, por ser o primeiro dia, esse regra foi quebrada: o médico atendeu os doentes que apareceram no posto de saúde por ordem de chegada e por grau de enfermidade. Os serviços administrativos e os cuidados de enfermagem funcionarão durante três dias por semana, a partir de agora.

Para colocar de novo em funcionamento o posto de saúde de Alcaravela não foram realizadas grandes obras. O presidente da Câmara Municipal, Miguel Borges, dá conta das “fantásticas condições” do edifício do posto de saúde e de “uma ou outra reparação de manutenção”, nada mais que isso.

O presidente da Câmara Municipal de Sardoal, Miguel Borges em frente ao posto de saúde de Alcaravela.

Este foi um final feliz de uma batalha travada durante alguns anos, “na tentativa de voltarmos a ter um sistema de cuidados de saúde primários estável no concelho”, disse o autarca ao mediotejo.net. Em bom rigor, o posto de saúde “não esteve completamente encerrado”, explicou. Na verdade, “estava sem médico há oito anos mas mantendo um serviço de enfermagem e um serviço administrativo” até há pouco mais de um ano, quando também estes serviços foram encerrados.

Com esta reabertura, os utentes residentes na freguesia de Alcaravela já não necessitam de deslocar-se a Sardoal, embora em situações de urgência possam continuar a socorrer-se do centro de saúde da vila.

Maria Clara Lopes, residente em Presa, é uma das utentes que se manifestou “muito contente” com a reabertura do posto de saúde, considerando que a reabertura só peca por tardia. Apesar de ter carro, Maria Clara sente algumas dificuldades na condução: “Os médicos já não me deixam andar senão a 60 km/h”, explicou. A proximidade ao médico é uma medida saudada.

Também Maria José Baptista considera esta uma boa medida, uma vez que não possui transporte próprio e era obrigada a ir de táxi até ao centro de saúde de Sardoal, enquanto ao posto de saúde de Alcaravela ainda consegue deslocar-se a pé.

Dia de reabertura do posto de saúde de Alcaravela, com a presença do presidente da Câmara Municipal de Sardoal, Miguel Borges.

Na mesma linha vai o pensamento de Ilda. “Foi um anjo que aqui apareceu”, considerou. A viver sozinha, sem ter ninguém que a acompanhe ao médico, tinha de se dedicar “às ‘esmolas’ para ir a Sardoal – e quando lá chegava… já estava muita gente. “Por vezes, restava-me vir embora”, lamenta. A reabertura, diz, “foi muito boa para mim e para todos os da minha idade. Os novos viram-se de qualquer maneira mas nós idosos e doentes… Autocarros temos, mas a horas que não dá para apanhar consulta.”

Miguel Borges compreende o entusiasmo dos seus munícipes: “É muito mais fácil transportar um médico, um enfermeiro e um administrativo saudável do que transportar 30 ou 40 pessoas que estão fragilizadas, em situações de doença. Era algo que se impunha para bem da qualidade de vida das pessoas.”

Nesta manhã especial, relembrou que o município de Sardoal disponibilizou-se para integrar um projeto-piloto, juntamente com outros 15 municípios, em que se testaria a transmissão de competências na área da saúde – mas o projeto acabou por não vingar.

No dia de reabertura do posto de saúde de Alcaravela. Miguel Borges e utentes.

“Um pouco antes das últimas eleições legislativas assinámos o protocolo desse projeto piloto em que havia delegação de competências por parte do Ministério da Saúde para o município de Sardoal”. Mas com diferente entendimento por parte do atual governo, o projeto piloto “ficou sem efeito”.

Apesar disso, dois anos depois, o governo volta a colocar a delegação de competências em cima da mesa. “Estamos novamente disponíveis para as aceitar” garantiu, esclarecendo que tal delegação “não passa pela gestão dos profissionais mas no apoio às infraestruturas. Às vezes, um pequeno problema elétrico num centro de saúde, a máquina burocrática que está no Ministério da Saúde ou à volta do ACES do Médio Tejo leva a gastos de tempo completamente desnecessários e o que pode levar dias a ser resolvido, connosco pode levar horas. É positivo, há uma eficiência, ganhos de escala e de proximidade que só traz vantagens para todos”, considera.

O presidente aproveitou a ocasião para agradecer a Vasco Tavares, diretor do Centro de Saúde, e a Sofia Theriaga, diretora executiva do ACES Médio Tejo, que tiveram “um papel fundamental na colocação de médico em Alcaravela. Quando estamos todos de acordo as coisas acontecem para o bem das pessoas”.

O espaço pertence à Junta de Freguesia de Alcaravela, os médicos são pagos pelos Ministério da Saúde, assegurando a Câmara Municipal “o transporte dos profissionais e a manutenção e limpeza do posto de saúde” explicou Miguel Borges.

A reabertura do posto de saúde de Alcaravela foi anunciada pelo presidente de Câmara na última reunião de executivo, em resposta a um pedido de informações do vereador socialista Pedro Duque, tendo Miguel Borges referido que o mesmo vai, nesta fase inicial, prestar cuidados de saúde primários a cerca de 600 utentes e durante três dias por semana: duas manhãs (segunda e quarta) com serviço médico, de enfermagem e administrativo, e num terceiro dia contará com serviço de enfermagem e administrativo.

Paula Mourato

A sua formação é jurídica mas, por sorte, o jornalismo caiu-lhe no colo há mais de 20 anos e nunca mais o largou. É normal ser do contra, talvez também por isso tenha um caminho feito ao contrário: iniciação no nacional, quem sabe terminar no regional. Começou na rádio TSF, depois passou para o Diário de Notícias, uma década mais tarde apostou na economia de Macau como ponte de Portugal para a China. Após uma vida inteira na capital, regressou em 2015 a Abrantes. Gosta de viver no campo, quer para a filha a qualidade de vida da ruralidade e se for possível dedicar-se a contar histórias.

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