Foto: mediotejo.net

Há concertos que correm bem. Existem outros que conquistam um espaço privilegiado na memória e sobem a expetativa do que virá a seguir. Na sexta-feira, dia 5, a primeira noite do Sardoal Jazz 2017, foi isto que aconteceu. O concerto dos “Cottas Club Jazz Band” teve “cotas” e malta jovem no público, que não se limitou a ouvir a banda do Bombarral, Leiria. O espetáculo no Centro Cultural Gil Vicente pulou, literalmente, do auditório para o foyer e a rua, e incluiu a atuação surpresa de um artista local, o presidente da Câmara Municipal, Miguel Borges.

A noite do arranque da terceira edição do Sardoal Jazz 2017, que se realiza entre 5 e 7 de maio, quase encheu as cadeiras e quem ficou por casa ou optou por investir os três euros do bilhete noutros planos de final de semana (o preço do passe geral para os três dias é o dobro) não viajou até aos loucos anos 20 com a música de New Orleans dos “Cottas Club Jazz Band”.

O cornetim e a voz de de Mário Nunes, o saxofone tenor de Miguel Campos, o sousafone de Jorge Maia, o trombone de Hugo Margalho, o saxofone soprano de João Faustino, o washboard de Alexandre Maia e o banjo de Tiago Fernandes impuseram o ritmo e confirmaram que a prescrição do “Doctor Jazz”, tema escrito por Joe “King” Oliver, resulta.

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Ao longo de mais de uma hora de concerto esqueceram-se as maleitas e as dores de alma. No Centro Cultural Gil Vicente gritou-se por gelado (“I Scream You Scream, We All Scream For Ice Cream”) e passeou-se por Moscovo (“Midnight in Moscow”). Tocou-se, dançou-se e os sete elementos da banda com muito “swing”, criada em 2013, depressa se transformaram em oito com o sapateado de Joana Serrano ao som da banda sonora do filme “The Jungle Book”, numa adaptação de “The Bare Necessities”.

Uma participação inesperada, que não seria a única surpresa da noite. O oito transformou-se em nove quando Miguel Borges, presidente da Câmara Municipal do Sardoal, subiu ao palco para perguntar “Has anybody seen my girl?”. A sua “miúda”, Ana Borges, estava entre a plateia e aplaudiu o convidado especial que no final do concerto, entre os elogios de quem abandonava o centro cultural, nos respondeu se os holofotes que custam mais a enfrentar são os de responsável pelo município ou como artista.

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Os holofotes da música estão presentes desde os cinco anos de idade, os da presidência ligaram-se pouco antes dos cinquenta, em 2013, e Miguel Borges assumiu que a responsabilidade autárquica é “muito maior”, mas que a artística “tem o seu encanto”.

Sendo a terceira edição, o Sardoal Jazz pode parecer criança, mas já dá passos firmes e, segundo o presidente, a iniciativa “veio para ficar e é bom que as pessoas se habituem que no primeiro fim-de-semana de maio todos os caminhos da música jazz vão dar ao Sardoal”.

A tradição jazzística cumpriu-se este ano numa noite em que os “Cottas Club Jazz Band” transformaram a plateia em palco e o encore terminou na rua, depois de uma “visita guiada” por megafone com os elementos da banda ao foyer e à parte exterior do Centro Cultural Gil Vicente. As portas que levaram o público à rua para o aplauso final voltam a abrir-se este sábado, às 17h00, para receber o grupo “Violets Are Blues Trio”, que estreia os concertos do festival no jardim/esplanada do Espaço “Cá da Terra”.

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O auditório volta a receber público este sábado a partir das 21h30 para ouvir o compositor e guitarrista espanhol Javier Alcántara e a sua “Short Stories Band”. Outra estreia, mas ao nível dos cabeças-de-cartaz que partem do outro lado da fronteira nacional.

O espetáculo da despedida realiza-se domingo à tarde, pelas 16h00, e marca o regresso de Carlos Barretto. Na primeira edição do Sardoal Jazz trouxe o projeto “Lokomotiv” e no domingo surge acompanhado pelo seu contrabaixo e António Eustáquio com o emblemático guitolão idealizado por Carlos Paredes.

Sónia Leitão

Nasceu em Vila Nova da Barquinha, fez os primeiros trabalhos jornalísticos antes de poder votar e nunca perdeu o gosto de escrever sobre a atualidade. Regressou ao Médio Tejo após uma década de vida em Lisboa. Gosta de ler, de conversas estimulantes (daquelas que duram noite dentro), de saborear paisagens e silêncios e do sorriso da filha quando acorda. Não gosta de palavras ocas, saltos altos e atestados de burrice.

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