A atriz Eunice Muñoz esteve no Sardoal no início deste ano e foi recebida com as honras do município numa homenagem que se juntou à do Teatro Nacional D. Maria II (TNDM II) ao atribuir o seu nome à rede de descentralização que abrange o Centro Cultural Gil Vicente.
Aproveitámos o momento para falar com a atriz que dedicou 75 de vida à carreira, com Miguel Borges, presidente da Câmara Municipal do Sardoal, e Cláudia Belchior, presidente do TNDM II, para conhecer o projeto que leva a cultura dos grandes centros urbanos a fazer as malas e conhecer o “campo”.
O Teatro Nacional D. Nacional D. Maria II lançou uma rede cultural sobre o país no ano passado e quando a recolheu, o Centro Cultural Gil Vicente, no Sardoal, vinha nela, tornando-se um dos três equipamentos culturais abrangidos pelo projeto que homenageia Eunice Muñoz. À rede atribuíram o nome simples de Eunice e a designação não podia ter sido mais acertada pois a conversa que tivemos com a atriz durante a sua visita ao concelho para ser homenageada pelo município revelou que não é preciso dizer muito quando falamos de alguém com a simplicidade dos grandes.
As primeiras recordações datam de 1933, quando tinha cinco anos, nos tempos do “teatro desmontável” dos pais e que acompanhou os quatro elementos da família na viagem para Lisboa. O tempo passou, mas a paixão pelo teatro manteve-se igual e 75 anos depois empresta o nome ao projeto de difusão e descentralização cultural do TNDM II que vai ao encontro da sua noção de público. Não importa se as salas são grandes ou pequenas, trata-se, simplesmente, de “gente que gosta de ver teatro”.

De pergunta em pergunta fomos descobrindo outros pormenores que tornam a atriz de 88 anos num exemplo da teoria inspiradora da peça que visitou o Sardoal com ela,“A Origem das Espécies”, em que Darwin justificava a sobrevivência das espécies mais fortes com a sua capacidade de adaptação ao meio ambiente. Viver quase oito décadas a fazer o que se gosta tem que ter segredo e de Eunice Muñoz recebemos uma fórmula simples que complementa o conselho deixado a quem começou há pouco tempo a trilhar caminho na “Árvore da Vida”.
A Rede Eunice estreou-se no Sardoal com a peça “Ifigénia” que esgotou o auditório do Centro Cultural Gil Vicente em novembro de 2016, ocasião em que foi assinado o protocolo entre o TNDM II e o município sardoalense. A plateia voltou a encher-se na sessão de janeiro, prenunciando nova lotação esgotada com “As Criadas” no maio que se seguiu.
Uma aposta ganha em que Miguel Borges, presidente da Câmara Municipal do Sardoal, e Cláudia Belchior, presidente do Teatro Nacional D. Maria II, acreditaram desde o início.

Juntámos os dois responsáveis pelas homenagens à grande senhora do teatro na mesma mesa que a recebeu minutos antes para nos falarem sobre o projeto que abrange o Centro Cultural Gil Vicente, o Teatro Municipal de Vila Real e o Teatro Municipal Baltazar Dias (Funchal, Madeira). A Rede Eunice contraria a necessidade de deslocação aos grandes centros urbanos para ir “beber” cultura, levando essa mesma cultura a fazer as malas e a viajar pelo país com paragem obrigatória no Médio Tejo para matar a sede nas fontes do Sardoal. (ver video)
*Entrevista publicada em janeiro de 2017, republicada a 29 de dezembro