O secretário-geral do PCP, Jerónimo de Sousa, acusou o seu homólogo socialista e primeiro-ministro, António Costa, de “enfeitar-se” agora com medidas propostas pela CDU e às quais o Governo se opôs e resistiu inicialmente. Num comício noturno no Centro Cultural de Samora Correia, Santarém, o líder comunista defendeu que “tudo o que é avanço, tudo o que é medida positiva a favor dos trabalhadores e do povo, tem a marca do PCP e do PEV, dos partidos da CDU”.
“Avanços conquistados a pulso. Pode o Governo do PS tomar para si e enfeitar-se com os avanços que foram alcançados, dizendo que são o resultado das suas opções, que não pode desmentir, nem iludir esta simples verdade: muito do que se alcançou começou por ter o seu desacordo, a sua resistência e até a sua oposição. O que se avançou, é preciso dizê-lo, avançou-se porque o PS não tinha os votos para, sozinho, impor a política que sempre, ao longo de quatro décadas, fez sozinho ou com o PSD e o CDS”, disse.
Entre as medidas citadas estiveram o aumento e fim dos cortes dos salários, a reposição dos dias feriados e do subsídio de Natal, o aumento extraordinário das pensões e reformas, o desagravamento do IRS, a valorização das prestações sociais no desemprego, o aumento do abono de família, a valorização das longas carreiras contributivas, mas também os manuais escolares gratuitos, as reduções nas propinas e nas taxas moderadoras na saúde, entre outras.
Segundo Jerónimo de Sousa, “infelizmente, o PS, tal como antes PSD e CDS fizeram, manteve na sua governação opções subordinadas às imposições de Bruxelas em nome de umas tais ‘contas certas’ que esqueceram o país, confrontado com enormes atrasos e que solicitava uma aposta decidida no investimento público, e vai continuar a esquecer, se vingar a opção estabelecida no seu Programa de Estabilidade submetido a Bruxelas para os próximos quatro anos”.
“Acertam-se as contas com Bruxelas e deixa-se o país a arrastar os pés”, lamentou, sublinhando que “os riscos de andar para trás existem não apenas com o voto no PSD e CDS, mas também com o voto no PS”.
“Veja-se como hoje acenam com o espantalho de novas crises para justificar a recusa de medidas para resolver os problemas dos trabalhadores e das populações e como dramatizam o discurso contra o perigo das exigências excessivas que põem em causa a estabilidade”, alertou o secretário-geral comunista.

Jerónimo de Sousa esclareceu ainda que as eleições legislativas de 06 de outubro “não são para eleger primeiros-ministros, são para eleger deputados”, já que “a vida política nacional recente desfez esse engano, com o decisivo contributo do PCP”.
“Nem a votação é para eleger nenhum governo, como agora se insinua também. Um novo artifício com o mesmo objetivo. Não há eleição automática de nenhum governo. É para eleger deputados e só deputados”, vincou.

Entroncamento | Jerónimo considera tensão BE/PS questão lateral e desvaloriza tentativa de KO de Catarina
O secretário-geral comunista considerou na terça-feira no Entroncamento a tensão do debate televisivo da véspera entre BE e PS uma perda de tempo com “questões laterais”, desvalorizando a tentativa da coordenadora bloquista de deixar o líder socialista KO (“knock-out”).
“Eu não me queria meter nisso? Em relação a essa tensão, acho que não ajuda, particularmente quem está em casa a assistir ao debate. Ao contrário do que muitos pensam, que o grande resultado é deixar o adversário em KO, não é isso”, opinou Jerónimo de Sousa, à margem de uma visita às oficinas da Empresa de Manutenção de Equipamento Ferroviário (EMEF), no Entroncamento.
Segunda-feira, a líder do Bloco de Esquerda (BE), Catarina Martins, já no final da discussão a seis, com as forças políticas com assento parlamentar, confrontou o atual primeiro-ministro, António Costa, acusando-o de tentar reescrever factos que levaram à solução política da denominada “geringonça” – as posições conjuntas assinadas em outubro de 2015 entre PS, BE, PCP e PEV – e de renegar a colaboração dos bloquistas.
“Acho que se perdeu ali um pouco de tempo com esses aspetos quando poderia ter sido aproveitado para cada um expor, defender as suas propostas, ideias”, continuou o líder do PCP.
Para Jerónimo de Sousa, “houve ali, de facto, muitas questões laterais” que não beneficiaram ninguém, “nem quem está a ouvir nem quem está a falar nem quem está a participar”.
“Não conheço. Não tenho nenhum problema de relacionamento com o BE e, no plano político, não é o BE que é o nosso adversário”, limitou-se a responder o secretário-geral do PCP, quando questionado sobre se a coordenadora do BE era uma pessoa “leal” e “confiável”.
