Arlindo Consolado Marques em grande plano no debate do programa da RTP sobre o Rio Tejo

O programa Prós e Contras, da RTP, ficou marcado pelo depoimento de pescadores que garantem não haver peixe no rio Tejo, sobretudo pelo testemunho de Francisco Sampedro, pescador em Vila Velha de Rodão, que não se conforma por ver o rio morrer. As declarações do ministro do Ambiente, que garantiu ao País que o problema grave da poluição no rio Tejo está ultrapassado, deixaram Arlindo Consolado Marques mais tranquilo mas sem baixar os braços: “ganhámos esta batalha mas não ganhámos a guerra. Veremos!”, diz.

O programa conduzido pela jornalista Fátima Campos Ferreira, debateu, esta segunda-feira 12 de fevereiro, a poluição no rio Tejo e teve como convidados Arlindo Marques, o ministro do Ambiente, João Matos Fernandes, e os especialistas em recursos hídricos Carmona Rodrigues e Conceição Cunha. No público, além dos pescadores tiveram direito à palavra inspetores do ambientes, políticos e autarcas, incluindo o presidente da Câmara Municipal de Mação, Vasco Estrela.

Eram dois autocarros cheios de gente ribeirinha, sofrida e cansada com a poluição do rio Tejo, que esta segunda-feira, foram até à capital apoiar o ambientalista Arlindo Consolado Marques. Cerca de 60 pessoas distribuídas pelo autocarro da Câmara Municipal de Mação e por outro da Câmara Municipal de Nisa, grande parte delas usando a t-shirt onde se podia ler ‘Somos Arlindo’, uma ideia do grupo de teatro amador Croma – Canal Regional de Ortiga Mais Arredores.

Com a animação nas atitudes e a esperança estampada no rosto, pescadores, autarcas, amigos, conterrâneos fizeram-se à estrada para poder estar na plateia em solidariedade com esta causa do Tejo “que é de todos” e particularmente com o sobejamente conhecido ‘guardião do Tejo’ Arlindo Consolado Marques, natural de Ortiga, no concelho de Mação.

No programa da RTP esperavam “ouvir as verdades”, sinceridade com o que “está a acontecer no rio Tejo” confessou ao mediotejo.net o presidente da Junta de Freguesia de Ortiga, Rui Dias, a caminho de Lisboa, quando a comitiva parou na estação de serviço de Aveiras para ‘jantar’. Na sua freguesia “as pessoas andam revoltadas. O Tejo que tanto alimento deu àquela freguesia, neste momento o que dá é pouca saúde”, acrescentou.

Apoiantes de Arlindo Consolado Marques

Esperança na clarificação dos culpados da poluição no rio Tejo tinha também Armindo Silveira, membro do movimento ProTejo, e vereador na Câmara de Abrantes (BE). “É mais uma jornada, mais um passo no que temos conseguido”. Esperava que o programa revelasse que sem um ambiente saudável “não é possível haver vida nem continuidade”.

Por seu lado, Arlindo Marques queria ouvir da parte do presidente da Câmara de Vila Velha de Rodão dizer que estava do lado dos que defendem o Tejo. “Sempre defendeu que a poluição vinha de Espanha mas com as medidas que o ministro do Ambiente tomou, de redução de 50% dos caudais de efluentes, pude constatar que hoje se vê o fundo do rio a dois metros”.

Vasco Estrela viajava até ao Centro Champalimaud preparado para “expressar o sentimento das pessoas do concelho de Mação, de Ortiga e de Envendos, as duas freguesias mais prejudicas, mas todo o concelho e toda a região está a sofrer com o que está a acontecer e é hora de dizer basta” disse, sublinhando ser “pena que só agora estejam a ser dados passos efetivos para a resolução deste problema” uma vez que a poluição corre nas águas do Tejo há vários anos e lamenta “o tempo perdido, o sofrimento das pessoas e os investimentos que já poderiam estar realizados e não estão”.

Os pescadores, como Francisco Pinto, de Ortiga, aguerridos e ansiosos de ver o peixe a saltar no Tejo outra vez, sabem que assim é. Alguns foram obrigados a ir pescar longe de casa para ganhar a vida. O que não resolve. Ir à faina mais a norte ou mais a sul não impede a má publicidade, e queixam-se que os clientes fogem dos restaurantes que oferecem peixe do rio.

José Fernando Martins, presidente da União de Freguesias de Mação, Penhascoso e Aboboreira também integrou a comitiva para dizer que “todos somos Arlindo, mas o Tejo não é do Arlindo, o Tejo é nosso” sentindo uma obrigação, conjunta, de “nos manifestarmos contra os poluidores”. Acreditava no cair da “máscara de alguém, finalmente” em direto na RTP. O autarca referia-se às empresas de celulose instaladas em Vila Velha de Rodão, que apesar do convite da RTP, declinaram estar presentes no programa.

(ao centro, da direita para a esquerda) o presidente da Câmara Municipal de Mação, Vasco Estrela, o presidente da Câmara de Vila Velha de Rodão. Luís Pereira, e o inspector- Geral do IGAMAOT (Inspeção-Geral do Ambiente, Nuno Banza

E foi pela celulose que o debate se iniciou com o ministro do Ambiente, João Matos Fernandes, a afirmar que os focos de poluição no rio Tejo têm origem nas fábricas de pasta de papel e insistiu na culpa “da quantidade de sedimentos de matéria orgânica no fundo da barragem do Fratel” reiterando que o fenómeno da espuma “não quer dizer que tenha havido um qualquer incidente ou descarga grave” num rio que tem hoje menos 25% de água do que tinha há 10 anos. E acrescentou que “as licenças que existem estão desajustadas daquilo que é hoje a capacidade que o rio tem” e por isso “em novembro foi anunciada a revisão dessas licenças”. Sendo que as licenças nem eram o maior problema mas os incumprimentos.

Questionado sobre a sua posição, o presidente Luís Pereira disse que “o rio Tejo é uma preocupação de todas as pessoas de Vila Velha de Rodão. Somos um concelho que tem uma relação íntima com o rio, temos uma história com o rio, um presente e queremos ter um futuro com o rio”. No entanto, voltou a apontar o dedo a Espanha e deu como exemplo Toledo que devido à poluição no rio “está em risco de perder a classificação de património mundial da Humanidade” pela UNESCO. Segundo o autarca as empresas instaladas em Vila Velha de Rodão “cumprem a legislação nacional (…) não fomos confrontados com análises que tivessem uma forma objetiva de concluir que a empresa estava a poluir o rio ou que estava a emitir mais do que a sua licença”.

Por seu lado, Vasco Estrela, confirmando que a poluição no Tejo não é do dia 24 de janeiro quando colchões de espuma apareceram a boiar no rio no açude insuflável de Abrantes mas tem anos, deu conta que há dois foi ouvido “na qualidade de presidente de câmara na Comissão Parlamentar de Ambiente na Assembleia da República, foi criada uma Comissão de Acompanhamento para o rio Tejo porque toda a gente percebia que algo de errado estava a acontecer” e estranhou “não ser possível determinar com rigor quem são as entidades poluidoras”.

Vasco Estrela durante a sua intervenção no programa Prós e Contra sobre o Tejo

O vice-presidente da Agência Portuguesa do Ambiente, António Sequeira Ribeiro, também presente no debate admitiu que as análises à água do rio revelaram “ sedimentos numa quantidade muito elevada de fibras da celulose”.

O deputado do Partido Social Democrata, Duarte Marques, natural de Mação e eleito pelo circulo eleitoral de Santarém, por sua vez afirmou que o ministro do Ambiente “tomou a grande decisão nestas últimas semanas: mandou parar a descarga de Celtejo em 50%” considerando “a melhor decisão que tomou até hoje”. E indicou Arlindo Marques como “o fiscal que fiscaliza mais o Tejo do que todas as autoridades”.

O deputado do PSD, Duarte Marques, durante a sua intervenção no programa Prós e Contras

João Carvalho é proprietário de uma unidade de turismo rural junto ao Tejo, em Ortiga, e durante a sua intervenção lembrou que “se não fosse o Arlindo nós não estávamos aqui” no programa da RTP a discutir a poluição no Tejo. Referiu-se também aos incêndios para desvendar que “de um lado do rio estamos negros e do outro estamos castanhos e mal cheirosos”.

Paulo Constantino do movimento ProTejo frisou a necessidade de existir “responsabilidade ambiental da parte das empresas. Não houve neste caso”. O ambientalista contrariou as afirmações do ministro do Ambiente, quando este referiu que a Celtejo antecipou um investimento numa Estação de Tratamento de 2021 para 2017. Paulo Constantino defendeu que “esse investimento deveria ter sido feito em 2015.

“Quando aumentou a produção foi-lhe dada uma nova licença com maior nível de descarga e com a nova ETAR poderia ter evitado 3 anos de poluição do rio Tejo”. Mas o ministro não tem dúvidas que “com o investimento que está a ser feito se bem gerido e complementado” a empresa Celtejo é “absolutamente viável”.

A manifestação de apoio a Arlindo Marques no final do programa da RTP Prós e Contras

No final do programa Prós e Contras da RTP, após manifestações entusiastas dos amigos de Ortiga que o levaram em ombros, Arlindo Consolado Marques referiu ter gostado das palavras do ministro do Ambiente, mas qual São Tomé “ver para crer. Já fui enganado pelo ministro que por diversas vezes disse que a impunidade tinha acabado e nunca acabou”.

Portanto garantiu a manutenção da vigília assim como dos pescadores e dos amigos do Tejo. “Vamos continuar a acompanhar porque já vi a água limpa diversas vezes” e lembrou que “ainda ninguém quis dizer que foi a tal fábrica dos 250 mil euros” referindo-se ao processo por difamação que a Celtejo interpor em tribunal. “Ganhámos uma batalha, a guerra ainda não está ganha”, recordou.

A propósito da deslocação dos munícipes do concelho de Mação a Lisboa, Vasco Estrela considerou que a viagem “valeu a pena” uma vez que “ficou esclarecido a existência de um problema gravíssimo no rio Tejo”. Ficou igualmente explícito “que há um compromisso político da parte do Governo de resolver o problema. Ficou bem patente o extraordinário trabalho que o Arlindo tem feito” questionando ter de ser “um cidadão anónimo a fazer o trabalho de um conjunto de entidades”.

Lamento não ter tido oportunidade de falar no programa “dos enormes prejuízos que a poluição está a causar aos Municípios, nomeadamente os empresários da restauração ligados ao peixe do rio, à lampreia, tendo em conta os enormes investimentos que as Câmara têm feito junto às margens do rio e no que está projetado para o futuro”.

Paula Mourato

A sua formação é jurídica mas, por sorte, o jornalismo caiu-lhe no colo há mais de 20 anos e nunca mais o largou. É normal ser do contra, talvez também por isso tenha um caminho feito ao contrário: iniciação no nacional, quem sabe terminar no regional. Começou na rádio TSF, depois passou para o Diário de Notícias, uma década mais tarde apostou na economia de Macau como ponte de Portugal para a China. Após uma vida inteira na capital, regressou em 2015 a Abrantes. Gosta de viver no campo, quer para a filha a qualidade de vida da ruralidade e se for possível dedicar-se a contar histórias.

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