Paisagem na Chamusca. Fotografia: Arquivo CMC

A paisagem não engana. Pela lezíria e herdades da charneca, com horizontes a perder de vista e campos agrícolas bem cuidados, avistamos cavalos, vacas e touros: estamos no Ribatejo. Não estranharíamos ver a nosso lado um típico campino, de barrete verde e vermelho, tal como será normal ouvir, na tasca da esquina, entre copos de três, discutirem fervorosamente as lides da corrida de fim de semana, em vez dos lances polémicos do campeonato de futebol.

A Chamusca é uma vila com enraizadas tradições tauromáquicas, remontando a primeira corrida de touros de que há registo na vila a 1785. A primeira praça de touros estava instalada no Largo João de Deus, onde hoje se encontra o Jardim do Coreto, e há registos de outras praças no Largo do Arneiro (hoje Largo Conde Ferreira) e no Arneiro do Cid.

Praça de touros da Chamusca. Fotografia: mediotejo.net

A praça de touros atual, com capacidade para 3.000 aficionados, celebrou 100 anos em 2019. Na Quinta-feira de Ascensão há corrida grande, mas se quiser ver o gado bravo ao vivo basta dar uma volta pela zona do Chouto e Parreira: são 200 km2 de montado de sobro, onde vivem mais touros do que homens.

Passei pela borda d’água Partindo da ponte centenária João Joaquim Isidro dos Reis, siga em direção à aldeia de Pinheiro Grande, uma das povoações mais antigas da Chamusca, para admirar uma igreja fundada pelos Templários. Na zona conhecida como “Cabeças do Pinheiro” existe um miradouro com uma excelente vista sobre a Lezíria e rio Tejo, e uma zona verde aprazível em torno do Dique do Ribeiro do Casal Velho.

Mais para norte, no centro da Carregueira, encontrará indicação para visitar o Espaço de Lazer “Mãe d’Água”, um importante conjunto de estruturas de aproveitamento de água, com zona para estar e descansar. Se encontrar laranjas à venda, não hesite: são das mais doces da região. Se vir alguma ao alcance de uma mão, também pode colher e comer – ninguém leva a mal.

As laranjas da Chamusca são famosas pela sua doçura. Fotografia: Unsplash

A viagem prossegue em direção à aldeia do Arripiado. Depois de uma passagem pela histórica Igreja de São Marcos, com a sua fachada “emprestada” da antiga Igreja de Santa Apolónia em Lisboa, vale a pena aventurar-se pelas inúmeras escadinhas, para se embrenhar pela aldeia, e descobrir os mais belos miradouros sobre o Tejo. 

Aldeia do Arripiado. Fotografia: Ana Alcobia

No cais do parque ribeirinho é possível apanhar um barco para o outro lado do rio, visitando a vila de Tancos ou o Castelo de Almourol. Ficando na margem norte e, indo pela EN118, procure o Miradouro do Almourol, de onde pode ter uma vista única, qual ave de rapina, vendo de cima o castelo templário, tendo por companhia a escultura “Guerreiro”, de João Cutileiro.

Panorâmica a partir do Bar Miradouro do Almourol, no Arripiado. Foto: CMC

Voltando à estrada, segue-se em direção a Constância Sul para terminar o dia na Carregueira, num dos locais mais frescos das redondezas: a Ribeira da Foz (Coordenadas GPS: 39.458555, -8.343269). Entre vegetação abundante, a ribeira é guardada por velhos carvalhos e azinheiras, sendo este um dos mais bem preservados bosques ripícolas da região.

Ribeira da Foz. Fotografia: Luís Ribeiro

Vale a pena percorrer os dois quilómetros de trilho marcado em direção ao vizinho concelho de Constância, mas ninguém leva a mal se preferir apenas sentar-se junto à represa, onde os raios de sol penetram com dificuldade, criando efeitos de luz deslumbrantes, tendo como banda sonora o chilrear das muitas espécies de aves que vivem neste santuário natural.

Sou diretora do jornal mediotejo.net, diretora editorial da Médio Tejo Edições e da chancela de livros Perspectiva. Sou jornalista profissional desde 1995 e tenho a felicidade de ter corrido mundo a fazer o que mais gosto, testemunhando momentos cruciais da história mundial. Fui grande-repórter da revista Visão e algumas da reportagens que escrevi foram premiadas a nível nacional e internacional. Mas a maior recompensa desta profissão será sempre a promessa contida em cada texto: a possibilidade de questionar, inquietar, surpreender, emocionar e, quem sabe, fazer a diferença. Cresci no Tramagal, terra onde aprendi as primeiras letras e os valores da fraternidade e da liberdade. Mantenho-me apaixonada pelo processo de descoberta, investigação e escrita de uma boa história. Gosto de plantar árvores e flores, sou mãe a dobrar e escrevi quatro livros.

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