Presidente da Câmara Municipal de Ponte de Sor, Hugo Hilário. Créditos: CMPS

O concelho de Ponte de Sor (Portalegre) foi contemplado com três agendas mobilizadoras do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), com mais de 200 milhões de euros, criando cerca de 500 postos de trabalho diretos.

No terceiro dia de Portugal Air Summit, a Aero.Next representou um investimento de 123 milhões de euros, dos quais 73 milhões destinam-se ao Alentejo, representando 60% do valor total inscrito no PRR. Ao nível dos recursos humanos, as previsões apontam para a criação de mais de 480 empregos diretos, altamente qualificados, com cerca de 300 na região e vários deles no município. É ainda expectável que, até 2027, origine 72 novos produtos, serviços e patentes, num volume de negócios 109 milhões de euros e com a incorporação de 20% de energias renováveis.

Foi também apresentada a segunda agenda mobilizadora, a Neuraspace com o objetivo de “ajudar a resolver” os problemas relacionados com os detritos espaciais. Para tal, será desenvolvido um radar em Ponte de Sor, que irá conseguir prever em tempo real e com grande precisão o risco de colisão dos resíduos que sobrevoam o espaço aéreo com satélites. Esta agenda tem alocada cerca de 20 milhões de euros e criará cerca de 20 a 30 postos de trabalho diretos.

Em declarações à agência Lusa, na sexta-feira, 14 de outubro, o presidente da Câmara de Ponte de Sor, Hugo Hilário, sublinhou que as três agendas vão ter um “impacto direto e determinante” no desenvolvimento do aeródromo municipal e na região Alentejo, criando além dos mais de 500 postos de trabalho diretos, “mais de mil indiretos”.

A primeira agenda mobilizadora é, então, a “Aero.next Portugal” (um consórcio), que será responsável por produzir a primeira aeronave portuguesa, o LUS 222, que foi apresentado no decorrer da cimeira aeronáutica Portugal Air Summit, que decorre até este sábado no Aeródromo Municipal de Ponte de Sor.

Conferência Ponte de Sor: uma nova centralidade na indústria aeronáutica durante a Portugal Air Summit. Ceia da Silva e Miguel Braga. Créditos: CMPS

Esta agenda contempla ainda a produção de uma aeronave não tripulada com capacidade “distinta” das que existem para a vigilância marítima e uma terceira componente relacionada com a mobilidade aérea avançada.

“Esta agenda comporta perto de 140 milhões de euros, com um impacto direto de cerca de 70% na nossa região do Alentejo, criará perto de 400 postos de trabalho diretos e perto de 900 indiretos, nestas suas três componentes”, disse.

A segunda agenda mobilizadora, a “Neuraspace”, tem como objetivo “ajudar a resolver” os problemas relacionados com os lixos espaciais, sendo criado em Ponte de Sor um radar para dar resposta a esta necessidade.

“Estamos a falar de uma agenda de cerca de 20 milhões de euros e que criará cerca de 20 a 30 postos de trabalho diretos”, acrescentou.

A terceira agenda mobilizadora, no âmbito do PRR, a Newspace, está por sua vez relacionada com a produção de microssatélites e terá também “impacto” em Ponte de Sor.

“Esta agenda comporta cerca de 60 milhões de euros e criará mais de uma centena de postos de trabalho nos próximos anos”, acrescentou.

Ponte de Sor: uma nova centralidade na indústria aeronáutica

No palco NAV, o fez-se o encerramento das conferências da Portugal Air Summit, depois de três dias de uma ampla reflexão sobre o contexto futuro dos setores, nomeadamente ligado à “transição para uma economia espacial sustentável” e ao “desenvolvimento de novos modelos de criação de valor no setor aeroportuário”, e ao nível contexto local, com o painel “Ponte de Sor: uma nova centralidade na indústria aeronáutica”.

Na conferência, que contou, além do presidente da Câmara, com Miguel Braga (CeiiA), Pedro Petiz (Tekever), José Salvada (Aeromec) e António Ceia da Silva (CCDR Alentejo), discutiu-se desde a importância do cluster aeronáutico naquela cidade do Alto Alentejo até às infraestruturas rodoviárias e habitação que possa receber os recursos humanos que venham trabalhar para as empresas situadas no Aeródromo Municipal de Ponte de Sor.

Conferência Ponte de Sor: uma nova centralidade na indústria aeronáutica durante a Portugal Air Summit. Créditos: mediotejo.net

Hugo Hilário, presidente da Câmara Municipal de Ponte de Sor, destacou a resiliência e as características únicas do seu território e comunidade, agradeceu a todos os parceiros e agentes envolvidos em mais uma edição da maior cimeira aeronáutica da Península Ibérica, lembrou que a estratégia municipal, de “ter algo diferenciador”, passou por equipar o Aeródromo Municipal de Ponte de Sor com “o melhor” equipamento e infraestruturas para atrair empresas e que para tal o Município contou com fundos comunitários.

Por seu lado, Miguel Braga disse que “já é fácil convencer as empresas” a investir no Aeródromo Municipal de Ponte de Sor, pela centralidade da cidade.

Já Pedro Petiz reconheceu que a deslocalização da sua empresa esteve ligada ao “conjunto de infraestruturas, e pelas particulares características da zona; extensas horas de luz solar e um aeródromo acessível”. Sublinhou a importância de juntar “pessoas que pensem a aeronáutica”. Tal agregação funciona, segundo diz, como “um acelerador para desenvolver produtos”, num setor que exporta quase 90% daquilo que produz.

Da Aeromec, José Salvado explicou que o novo hangar, inaugurado no primeiro dia da Portugal Air Summit, “vai permitir dar um salto qualitativo e quantitativo, que Tires já não permitia crescer”.

Conferência Ponte de Sor: uma nova centralidade na indústria aeronáutica durante a Portugal Air Summit. Créditos: CMPS

Acrescenta que “será um hangar digital. Já não podemos recorrer às cartas de trabalho em papel”. Robótica também terá ali um papel importante que resulta em “menos custos e sermos mais competitivos”.

Mas Hugo Hilário reconheceu os “desafios” futuros, classificando-os de “mais difíceis” como as acessibilidades, a captação de recursos humanos qualificados e a habitação.

“Hoje temos dezenas de players a trabalhar connosco […] o que vem para a frente é mais exigente. O problema da habitação é um problema do País”, no entanto avança que os investidores imobiliários começam a chegar a Ponte de Sor. “Os quadros qualificados é um problema do mundo”, nota.

Quanto às acessibilidades, o autarca considera que o Plano 2030 vai responder a essa necessidade com a A13 a ligar ao IC9 e a ligar à A23.

Conferência Ponte de Sor: uma nova centralidade na indústria aeronáutica durante a Portugal Air Summit. Créditos: CMPS

Ceia da Silva reforça a ideia dizendo que o cluster aeronáutico “exige que o governo faça a ligação, que seja mais rápida, a Lisboa e Madrid. É exigido pelos empresários que investiram neste território”. E manifestou não ter dúvidas que Ponte de Sor “será um polo aeronáutico a nível mundial. “Continuaremos a apoiar o cluster aeronáutico no Portugal 2030. É um dos pontos que está a ser negociados com a União Europeia”, disse.

Para Miguel Braga entre as maiores preocupações conta a retenção de talento, lembrando que a pandemia mostrou que “quanto menos dependermos dos outros, melhor”, defendendo, por isso, a produção nacional.

O secretário de Estado das Infraestruturas, Hugo Santos Mendes. Créditos: CMPS

Secretário de Estado das Infraestruturas encerra conferências e defende TAP

O secretário de Estado das Infraestruturas, Hugo Santos Mendes, destacou a aposta do município de Ponte de Sor na especialização do território, através de uma estratégia reforçada e aplicada ao setor aeronáutico, com resultados visíveis e materializados num projeto reconhecido em Portugal e no Mundo.

Lembrou a importância da atividade aérea para um pais como Portugal que “pela sua geografia tem um condição periférica no contexto europeu. Esta condição cria constrangimentos ao nosso desenvolvimento, ao mesmo tempo tempos uma posição privilegiada no contexto atlântico que fez parte da sua História, sempre que procurou valorizar como porta de saída da Europa”. No entanto, “a centralidade geográfica só se transforma em centralidade estratégica se criarmos políticas que nos permitam explorar potencial que a geografia confere, em particular se o país for capaz de explorar todas as ligações com o exterior. Durante muitos séculos esta conetividade foi exclusivamente marítima, hoje é também aérea”.

O governante falou na necessidade da transição verde e da transição energética, referiu que o futuro trará penalizações para os transportes mais poluentes e que voar ficará mais caro e médio prazo.

Aproveitou a ocasião para falar na TAP dizendo que “precisamos de uma TAP competitiva e rentável”, na “capacidade esgotada” do Aeroporto Humberto Delgado, em Lisboa.

ÁUDIO: SECRETÁRIO DE ESTADO DAS INFRAESTRUTURAS, HUGO SANTOS MENDES

Com Lusa

Paula Mourato

A sua formação é jurídica mas, por sorte, o jornalismo caiu-lhe no colo há mais de 20 anos e nunca mais o largou. É normal ser do contra, talvez também por isso tenha um caminho feito ao contrário: iniciação no nacional, quem sabe terminar no regional. Começou na rádio TSF, depois passou para o Diário de Notícias, uma década mais tarde apostou na economia de Macau como ponte de Portugal para a China. Após uma vida inteira na capital, regressou em 2015 a Abrantes. Gosta de viver no campo, quer para a filha a qualidade de vida da ruralidade e se for possível dedicar-se a contar histórias.

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *