Créditos: IMS Photos

*Texto escrito por alunos da Licenciatura em Comunicação Social da ESTA, com apoio da direção do mediotejo.net

A proximidade entre quem envia e quem recebe mensagens, a comunicação em tempos de pandemia, o impacto das tecnologias e as relações que se estabelecem entre diferentes profissionais que precisam de chegar a diferentes públicos foram alguns dos temas abordados na XX Semana da Comunicação, organizada por estudantes e docentes da Licenciatura em Comunicação Social da Escola Superior de Tecnologia de Abrantes (ESTA). Cerca de 40 profissionais participaram em sete painéis durante o evento, que decorreu ao longo de quatro dias, entre 23 e 26 de maio, em Abrantes.

Esta Semana da Comunicação reuniu jornalistas, assessores, técnicos de comunicação, autarcas, músicos e produtores. Apresentando sempre casos concretos, num ponto todos estiveram de acordo: a importância que a Comunicação tem na sociedade, assim como a necessidade de se adaptar as mensagens a cada público, em cada momento.

A presidente da Comunidade Intermunicipal do Médio Tejo, Anabela Freitas, esteve entre os convidados oficiais da cerimónia de abertura. Créditos: IMS Photos

A cerimónia de abertura foi realizada simbolicamente no local onde serão construídas as novas instalações da ESTA, no TagusValley, em Abrantes.

O antigo pavilhão da Quimigal transformou-se num auditório improvisado e Nuno Madeira, vice-presidente do Instituto Politécnico de Tomar (IPT), começou por lançar o desafio aos responsáveis políticos presentes, manifestando a vontade de poder regressar àquele local, daqui a um ano, para lançar a primeira pedra do novo edifício.

Logo em seguida, Anabela Freitas, presidente da Comunidade Intermunicipal do Médio Tejo (CIMT) e da Câmara Municipal de Tomar, também se dirigiu ao presidente da Câmara de Abrantes frisando que a CIMT está de “portas abertas” para ajudar a concretizar este projeto, no que for preciso.

Manuel Jorge Valamatos comentou, de forma bem-humorada, que nunca imaginaria sofrer “tanta pressão” para construir as novas instalações da ESTA e garantiu que o projeto, no valor de 5 milhões de euros, está quase finalizado: “Vamos ter aqui uma grande escola.”

Sessão de abertura da Semana da Comunicação, no antigo pavilhão da Quimigal, onde serão construídas as novas instalações da escola. Créditos: IMS Photos

No painel sobre ‘Marketing Musical: resignação, resiliência, recomeço’, António Manuel Ribeiro, dos UHF, explicou como, na pandemia, a música deu origem a uma comunidade de seguidores que se mantém, assente na comunicação. Em pleno confinamento, com o baterista da banda, foi usando as redes sociais não só para lhes fazer chegar a música que produzem, mas também as crónicas que foi escrevendo sobre os tempos que vivemos. A comunidade mantém-se e tem membros espalhados por todo o mundo.

O tema das redes sociais acabou por ser abordado em vários momentos da Semana da Comunicação. “Se forem bem utilizadas, são uma grande fonte de informação”, garantiu Paulo Lourenço, membro da Assembleia Municipal de Abrantes. No mesmo painel, que abordava o tema da participação e proximidade, Patrícia Moital, do município de Leiria, defendeu que mesmo na comunicação das mensagens institucionais, nas redes sociais o formalismo “não faz sentido”. Por seu turno, Paulo Rêgo, responsável pela Plataforma 360, adiantou que “as novas tecnologias não vieram para dificultar a vida dos mais velhos, mas sim para nos ajudar”.

A cerimónia de abertura da XX Semana da Comunicação foi realizada no local onde serão construídas as novas instalações da ESTA, em Abrantes. Créditos: IMS Photos

Simão Santana, adjunto do presidente da Câmara de Aveiro, apresentou exemplos que representam a força das redes socias. Relembrou as ameaças que foram feitas, online, quando a autarquia decidiu ‘eutanasiar’ um cão. As reações assumiram tal dimensão que foi preciso “quase um ano” para voltar a ter os munícipes ao lado da câmara, no que toca aos direitos dos animais. E que, para isso contribuiu uma campanha que incluía vacinação e adoção de animais, devidamente comunicada.

Sobre a importância de planear as mensagens, Simão Santana, que se licenciou na ESTA, deu o exemplo da comunicação que foi feita sobre o abate de árvores na principal avenida da cidade: “Comunicámos primeiro e a relação com as pessoas foi a oposta” (em comparação com a que ocorreu com o abate no animal). Inicialmente previam retirar metade das árvores, mas como a decisão foi explicada previamente, o município acabou por retirar todas. Concluindo, defendeu que a Comunicação “é um investimento, não é um custo”, que tem retornos a três níveis: põe as pessoas a participar, projeta as cidades e contribui para resultados eleitorais.

Frisando também a importância do planeamento da comunicação, Pedro César, assessor do ministro da Saúde, apresentou de forma muito clara como se processa toda a comunicação num gabinete do Governo. Formado na ESTA, explicou, por exemplo, como se gere a agenda de rua, ou seja, os momentos em que os governantes estão em ações fora dos gabinetes. Nestas situações, “os jornalistas normalmente não estão interessados nos motivos das visitas e fazem perguntas à margem”. E também estas situações precisam de ser antecipadas.

Por outro lado, o assessor frisou que o respeito pelo trabalho dos jornalistas é fundamental, assim como a transparência: “Quando não tenho informação ou quando não posso dá-la digo que não dá!” Sobre a relação que mantém com os jornalistas, Pedro César garantiu que são boas, até porque muitas das mensagens que o Ministério da Saúde pretende fazer chegar à população são veiculadas através desses profissionais. 

Casimiro Ramos, administrador do Centro Hiospitar do Médio Tejo, participou no painel sobre a comunicação durante a pandemia de covid-19. Créditos: IMS Photos

As parcerias entre quem tem a informação que é de interesse público e quem a faz chegar ao público foram também abordadas no painel sobre a comunicação em tempos de pandemia. Profissionais do Centro Hospitalar do Médio Tejo recordaram toda a adaptação que tiveram de fazer ao nível de procedimentos e de cuidados de saúde com os docentes Covid, mas também na passagem de mensagens para os cidadãos. 

André Real, médico internista, recordou “o papel muito importante” que os Média tiveram na “transmissão de informação clara e objetiva para a população”. Não estando, nessa altura, habituado a dar entrevistas, rapidamente percebeu a necessidade de “ser sincero e honesto”. Patrícia Fonseca, diretora do mediotejo.net, sublinhou a parceria que foi feita entre jornalistas e profissionais de saúde. Porque o objetivo era comum: “Informar o público da forma mais correta.”

Ao longo da Semana da Comunicação, a forma como se chega ao público através de conteúdos noticiosos foi abordada sob diferentes perspectivas. Num painel sobre rádio, a proximidade foi a palavra-chave. Arsénio Reis, diretor-adjunto da Rádio Renascença, sublinhou a “preocupação de se chegar às pessoas”. E, tendo em conta as características do meio em que trabalha, sublinhou que “o som é absolutamente fundamental” e que “tudo é audível”. Comentando duas peças de rádio apresentadas por Dulce Cardoso, da Rádio Condestável, e Jerónimo Jorge, da Antena Livre, Arsénio Reis defendeu que o trabalho neste meio passa muito por contar estórias “dando brilho” aos protagonistas e “ajudando os ouvintes a pensar”.

Garantindo que a Rádio Renascença “é o sítio mais livre” onde trabalhou, Arsénio Reis desafiou os estudantes a verem com atenção toda a cobertura feita por este meio católico, nomeadamente nos casos de pedofilia na Igreja ou no podcast feito recentemente sobre homofobia. E acrescentou: “Eu não tenho um projeto de sociedade, tenho é que levar aos ouvintes os diferentes projetos que existem.”

Créditos: IMS Photos

Com uma perspetiva diferente dos meios de Comunicação Social tradicionais, jornalistas de três projetos de Jornalismo Independente (Fumaça, Gerador e Setentaequatro) apresentaram trabalhos que mostram como a comunicação também pode e deve servir para consciencializar. Assumindo um caráter progressista, Nuno Viegas, do Fumaça, explicou que os jornalistas deste meio alternativo partem para as reportagens com objetivos específicos. Os temas são decididos exclusivamente pela redação e essa responsabilidade é assumida perante os leitores. O facto de serem financiados através de bolsas de investigação e de donativos permite que o Fumaça defina as suas linhas editoriais.

Na mesma linha, Sofia Craveiro assumiu que os trabalhos jornalísticos que faz resultam da sua própria escolha e que, por isso, é “uma felizarda”. Apresentou aos estudantes da ESTA um trabalho de investigação sobre aborto seguro em Portugal, contextualizando o tema, revelando números e disponibilizando testemunhos elucidativos desta realidade. Depois de 15 anos sobre a legalização da interrupção voluntária da gravidez, ainda há mulheres que não a podem fazer em segurança. Assumidamente preocupada com esta realidade, Sofia Craveiro teve um objetivo claro com a sua investigação e com os testemunhos que recolheu: “Como é que vou conseguir fazer justiça a estas mulheres?”

O evento teve ainda momentos mais ligeiros, como uma tertúlia com ex-alunos na esplanada do café que tem sido uma segunda casa para praticamente todos os jovens que ao longo de 24 anos passaram pela ESTA: o Chave d’Ouro. Tiago Lopes, professor universitário e comentador da TVI/CNN, moderou a conversa com outros profissionais que se licenciaram nesta escola: Flávio Nunes, Sérgio Aleluia, Rita Pedroso e Érica Amaral. Recordaram memórias e mostraram como as aprendizagens que levaram de Abrantes os acompanham nas suas atividades. Todos se sentem “embaixadores da ESTA”.

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