A reunião decorria com alguma fluidez, tendo sido rápida mediante os trabalhos, sendo certo que no período antes da ordem do dia o vereador do ALTERNATIVAcom quebrou com a regra, e optou por não fazer qualquer intervenção com levantamento de dúvidas ou questões ao executivo camarário, como é seu apanágio, tendo antes feito um “grito de alerta” em jeito de voto de silêncio e tomada de posição naquela sessão.
“Hoje, excecionalmente, vou prescindir deste meu período antes da ordem do dia como grito de alerta para que, em pleno século XXI e 48 anos depois de restabelecida a democracia, e restituída a todos nós uma suposta liberdade, haja uma consciencialização coletiva para situações que atrasam, dificultam e destroem a vida de alguns, apenas porque têm a ousadia de pensar, dizer e fazer diferente”, disse Vasco Damas.

O vereador referiu-se a este seu “grito de alerta”, acreditando que “provavelmente os ecos do meu silêncio vão chegar mais longe e a mais pessoas do que tem acontecido normalmente com o ruído das minhas palavras”, conclui.
Acontece que nada fazia antever um novo confronto entre o vereador da oposição e o autarca da Câmara de Abrantes, quando nos últimos pontos a deliberação da ordem de trabalhos surgiu o “Processo de licenciamento de ampliação (para tardoz) do estabelecimento comercial com a insígnia “Bricomarché”, titulado por Sodiabrantesimo – Sociedade de Gestão Imobiliária Lda. – para aprovação de projeto de arquitetura”, que visa a criação de mais lugares de estacionamento.
Vasco Damas, após a apresentação do ponto 4 da Divisão de Urbanismo pelo edil abrantino, interveio dando conta da sua votação favorável mas justificando a sua posição com declaração de voto, cujo teor não caiu muito bem a Manuel Jorge Valamatos e ao vice-presidente João Caseiro Gomes.
O vereador do ALTERNATIVAcom interveio, dando a entender que existiriam favorecimentos da autarquia a alguns projetos empresariais em detrimento de outros, lembrando a frase “se queres conhecer o verdadeiro caráter do ser humano, dá-lhe poder”.

“Poder de criar problemas e construir obstáculos onde eles não existem, atrasando, adiando, e comprometendo a execução de projetos profissionais e de vida de uns e o poder de, mesmo que não se cumpra com todas as regras e que seja recorrente o não cumprimento dessas regras, a outros se viabilizem projetos, exigindo como contrapartidas aquilo que fica como conhecimento das partes envolvidas, que é como quem diz, a um quase tudo se proíbe, enquanto a outros praticamente tudo se permite”, acusou.
O presidente de Câmara, por sua vez, começou por esclarecer o ponto em causa que assentava numa “análise técnica”, mas logo a sua intervenção dirigida a Vasco Damas subiu de tom, com Manuel Jorge Valamatos a frisar que “tratamos toda a gente da mesma forma”, desafiando de seguida o vereador de oposição a “especializar mais, em vez de estar com suspeições; eu gostava que o senhor de facto, verdadeiramente, levantasse um processo sobre o que acabou de referir”.

“Deixa aqui no ar a ideia de que a uns se faz, e a outros não se faz. Até lhe dou até final do ano para que concretize o que acaba de dizer. Eu estou disponível para ir para o Ministério Público, à Polícia Judiciária, a todas as entidades que sejam necessárias para que justifique o que acabou aqui de referir”, acrescentou, notando que “a suspeição sobre os outros deve terminar”.
Manuel Jorge Valamatos disse ainda que gostava que o vereador se deixasse “desse tipo de retóricas e linguagem de suspeições” pois é “descredibilizar este órgão, a política e julgo que isso não faz sentido”.
“Vai ter de provar aquilo que acabou de dizer. Vem aqui dizer que se está a fazer a uns e não se fez a outros. Portanto, vai ter de provar isso. Vou levar este assunto à séria, até ao fim”, concluiu, referindo que o discurso a lançar suspeitas do ALTERNATIVAcom “massacra e é injusto para quem trabalha tecnicamente e para nós que tomamos decisões políticas com base no que tecnicamente nos é apresentado”.

O ALTERNATIVAcom fez chegar à redação do mediotejo.net um comunicado sobre esta situação, solidarizando-se com o vereador eleito na Câmara Municipal, onde “condena o julgamento de intenção e as ameaças judiciais, em tom agressivo e desrespeitoso” de que foi alvo o vereador Vasco Damas na reunião de Câmara e que aqui transcrevemos na íntegra.
“NÃO ACEITAMOS PROCESSOS DE INTENÇÃO, NEM TENTATIVAS DE INTIMIDAÇÃO
O Movimento ALTERNATIVAcom condena o julgamento de intenção e as ameaças judiciais, em tom agressivo e desrespeitoso, de que foi alvo esta manhã, em Reunião de Câmara, o vereador Vasco Damas, repudiando a demagogia e as recorrentes tentativas de intimidação pessoal e judicialização da política, por parte do presidente do executivo municipal, visando obviamente descredibilizar e silenciar a oposição, retirando-lhe capacidade de representação e combatividade política.
De facto, o vereador eleito pelo Movimento ALTERNATIVAcom entendeu por bem apresentar, com plena liberdade de opinião e expressão, e assumindo as responsabilidades autárquicas que jurou cumprir, uma Declaração de Voto com considerações gerais e de natureza estritamente política, relativamente a uma proposta de deliberação que (até) votou favoravelmente. Fê-lo, como facilmente se comprova, de boa-fé e com absoluto respeito pelas normas legais e procedimentos técnicos que sustentaram a referida deliberação.
Para que não restem dúvidas, o vereador Vasco Damas referia-se, na sua Declaração de Voto, às ideias e propostas que são sistematicamente desprezadas e rejeitadas quando não provêm da maioria PS e sua base de apoio, como ainda recentemente aconteceu com o debate sobre o Orçamento Participativo ou com os contributos dados pelo Movimento ALTERNATIVAcom, em sede de consulta prévia, para as GOP e Orçamento Municipal de 2023.
Abrantes tem Alternativa. Contem connosco, nós contaremos sempre convosco.
Movimento ALTERNATIVAcom”