Maria Lamas, nascida em Torres Novas, foi jornalista, escritora e uma das mais notáveis vozes do feminismo em Portugal. Foto: DR

José Gabriel Bastos, antropólogo, neto da ativista política torrejana Maria Lamas (1893-1983) esteve presente na entrega do Prémio com o mesmo nome, sábado, 9 de julho, atribuído pela Câmara de Torres Novas. Ao mediotejo.net confessou que nada sente em relação à homenagem, porque esta é ainda demasiado singela para marcar a figura que foi a avó. O problema não é em concreto o esforço da autarquia, salienta, mas de todo um país que pensa “pequenino”.

José Gabriel Bastos, neto de Maria Lamas. foto mediotejo.net
José Gabriel Bastos, neto de Maria Lamas. Foto: mediotejo.net

José Gabriel Bastos é reformado e está há três anos a estudar o espólio de Maria Lamas. O objetivo, confessou ao mediotejo.net, é fazer um total de 10 livros sobre a avó materna, o primeiro dos quais, uma biografia, deverá sair em breve.

“O que é importante é construir Portugal”, começou por frisar quando questionado pelo mediotejo.net sobre o que sentia em relação à homenagem do Prémio Maria Lamas. Este seria o lema da avó, uma mulher que “voava mais alto que muitos homens” e que “não tinha medo de Salazar”.

Escritora, tradutora, jornalista e ativista política, Maria Lamas morreu com 90 anos e com um longo historial de luta e prisões políticas, mas cujo legado é praticamente desconhecido do grande público. “Era uma mulher de uma coragem enorme”, frisa, e “resumimos isto a apenas uma figura” local, de Torres Novas. “Isto é demasiado pequenino”.

Para José Gabriel Bastos falta “visão” a Portugal. Comenta que a casa onde nasceu Maria Lamas, em Torres Novas, poderia ser requalificada e transformada num espaço digno de memória com a ajuda de programas comunitários mas está esquecida. Da sua parte, a sua investigação procurará recuperar toda a memória e percurso da avó: Maria Lamas e as Mulheres, o exílio, três volumes com obras que a escritora não pôde publicar em vida, cartas que trocou com intelectuais. José Gabriel Bastos está ainda a recolher tudo o que Maria Lamas disse à comunicação social e foi publicado.

O antropólogo lembra que em sua casa pouco se falava da avó Maria. Os genros estavam ligados ao regime fascista e o neto acabaria por manter uma relação mais próxima com a avó só na idade adulta. “Era uma pessoa muito viva e muito discreta”, afirma. “Era uma heroína do século XX”, frisa, “lamento que não a queiram colocar mais alto”. “Torres Novas está a fazer um erro enorme porque tem uma figura mundial e não a aproveita”.

Cláudia Gameiro

Cláudia Gameiro, 32 anos, há nove a tentar entender o mundo com o olhar de jornalista. Navegando entre dois distritos, sempre com Fátima no horizonte, à descoberta de novos lugares. Não lhe peçam que fale, desenrasca-se melhor na escrita

Entre na conversa

1 Comentário

  1. O esquecimento dos grandes Homens e Mulheres torrejanos, não vem de agora e continuam a persistir…Maria Lamas, figura importante e que de certo modo tem sido reconhecida (E.S. Maria Lamas, por exemplo), mais que os outros nomes importantes da História do nosso concelho e que parece irem ficando esquecidos no tempo, como o meu bisavô e amigo da e Maria Lamas, Faustino Bretes.
    Quem não lembra aqueles que sacrificaram a sua vida pessoal e profissional em prol da comunidade não pode olhar para o futuro e achar que vai ser grandioso. Muito pouca gente sabe quem foi Faustino Bretes e a vida (Grande) que teve nem aquilo que sacrificou para que hoje pudessem estar no poder pessoas que nada fizeram ou sacrificaram.

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *