Junta de Freguesia de Praia do Ribatejo requalificou a Fonte da Galiana e o Cais Pai Avô. Foto: Graça Bandeira

Depois de um investimento na ordem dos 20 mil euros em trabalhos de beneficiação do Cais Pai Avô e da requalificação da Fonte da Galiana, dois locais emblemáticos da freguesia de Praia do Ribatejo, a inauguração das obras decorre esta sexta-feira, com um passeio entre os dois locais e um brinde à história e às tradições da freguesia barquinhense.

Em declarações ao mediotejo.net, José Pimenta, presidente da Junta de Freguesia de Praia do Ribatejo, destacou a importância de requalificar e preservar dois espaços históricos e muito queridos entre as gentes locais, num investimento que rondou os 20 mil euros e foi suportado pela Junta de Freguesia e Câmara Municipal de Vila Nova da Barquinha.

Na fonte da Galiana, situada perto do rio Tejo, foram requalificados, impermeabilizados e pintados os tanques, os lavadouros, o fontanário e o telheiro, ao passo que no Cais Pai Avô, a cerca de 800 metros de distância, foi criado um parque de apoio ao Trilho Panorâmico do Tejo, que visa “proporcionar uma zona de lazer, com mesas com bancos para as pessoas poderem manter-se ali um pouco, para um piquenique, e apreciar o que nós temos de bom da frente de rio”, disse José Pimenta.

Fernando Freire, presidente CM da Barquinha, e José Pimenta, presidente JF Praia do Ribatejo. Foto: mediotejo.net

ÁUDIO | JOSÉ PIMENTA, PRESIDENTE JF PRAIA DO RIBATEJO:

A freguesia de Praia do Ribatejo, concelho de Vila Nova da Barquinha, celebrou o seu 95º aniversário em setembro de 2022. A maior freguesia do concelho barquinhense, que antes de 1927 se denominava Paio de Pele, tem já uma larga história atrás de si mas mantém os olhos postos no futuro, tendo ainda a freguesia o objetivo de avançar com o projeto de construção de um novo parque infantil e de lazer em Limeiras.

A (quase) secular Fonte da Galiana integra a história e as tradições das populações mais idosas, que ainda lembram o colher da água e o lavar da roupa nos tanques pelos seus pais e avós, continuando a jorrar água (não sendo oficializada para consumo por via de análises regulares) e a ser procurada pela população.

A fonte da Galiana e as suas águas geraram fama de dar vigor e juventude, inspirando poetas, como João Rodrigues Delgado Júnior, e lendas, como a que aqui também recuperamos, de Júlio Marques da Silva.

Lenda da Fonte da Galiana, por Júlio Marques da Silva   

“Indiferente ao mundo que a rodeia, tão simples como airosa, ali está quase a meia encosta, espreitando o Rio, a bonita Vila de Praia do Ribatejo. De velhinha, já se ignora a sua identidade, mas já os Frades do Convento do Loreto, por ali passavam a fim de se saciarem. Decerto que não existe viva alma a muitas léguas ao redor, que não conheça ou não tenha ouvido falar na Fonte da Galiana. A sua história, a história do povo simples que ali acorreu em dias de canícula, ou o outro, que se identificou com a Fonte, porque ao ver reflectir na água a sua imagem, ali viu um pedaço da sua vida. É esse povo, que bem merece um Retrato de Corpo Inteiro, para que os vindouros, não venham a esquecer da sua importância.

Pensa-se todavia, que a fonte marca a fixação de um povo, e a libertação do homem do Tejo, que ali veio a encontrar o precioso líquido, de que tanto carecia. Romântica e nostálgica, sentiu trepidar do primeiro comboio, que com o fumo negro do carvão deixava no ar a tão propalada cantiga: “Pouca Terra, Pouca Terra”.

Mas, vale a pena olhá-la com devaneio, lembrar o seu passado, e recordar a moira que em noites luarentas, também a visitavam. Moira, que no seu olhar piedoso, olhava o Tejo com toda a sua placitude. São estas coisas simples e tão belas que mesmo abandonadas, vão detendo o passado dos nossos avoengos.

Histórias que ouvimos contar nos longos serões de Inverno, e dos quais, passados tantos anos, ainda não se perdeu a sua imagem. Mas segundo a lenda, teria sido o Rio Tejo, que lhe serviu de padrinho e a levou à Pia Baptismal.

Era ali, naquele lago de prata, onde a sombra dos salgueirais se espreguiçava nas areias, que corriam as águas do soberbo Tejo. Quase como entoando uma canção, corriam docemente ao encontro do Castelo de Almourol, esperando pelo abraço fraternal, de alguma sentinela mais afoita. As embarcações, munidas das artes da pesca, estendiam-se ao longo do areal, e era belo o cenário, quando as varinas corriam ao rio, para captura de belos sáveis, que já no tempo, era o peixe de eleição.

Os almocreves, já esperavam na praia, porque da fertilidade também dependia o seu ganha-pão.

Refere a lenda, que um bonito e aperfeiçoada barco, muito ao jeito de um fogoso Galeão, tinha o seu ancoradouro, abaixo da citada fonte.

Pela pequenez, respeitando o modelo e toda a estrutura do velame, valeu-lhe a criatividade dos pescadores, que lhes chamaram Galiana, por ser mais pequeno e mais airoso do que o célebre Galião dos mares. E a fonte, que olhando o cenário, sorria para os Homens da Campanha, não mais perdeu o nome de Fonte da Galiana”.

A experiência de trabalho nas rádios locais despertaram-no para a importância do exercício de um jornalismo de proximidade, qual espírito irrequieto que se apazigua ao dar voz às histórias das gentes, a dar conta dos seus receios e derrotas, mas também das suas alegrias e vitórias. A vida tem outro sentido a ver e a perguntar, a querer saber, ouvir e informar, levando o microfone até ao último habitante da aldeia que resiste.

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