O ronco característico de motores no ar ouvia-se ao longe e bastava colocar os olhos no céu para observar os aviões que sobrevoam as cabeças de quem, em baixo, assistia ao primeiro dia da quinta edição do Portugal Air Summit, o evento que se afirma como a maior cimeira no setor aeronáutico, defesa e espaço da Península Ibérica.
A cimeira fica até domingo em Ponte de Sor, com espetáculos aéreos, que diariamente decorrem à hora de almoço nos primeiros três dias e programa especial de entretenimento no fim-de-semana. Voos novamente feitos de adrenalina, ação e muita velocidade. Os céus de Ponte de Sor voltam a ficar repletos de emoção com aviões em acrobacias de cortar a respiração.
Em terra, em reta paralela com a pista do Aeródromo, foi estendido um longo tapete azul, ladeado em estilo avenida por vários aviões de diferentes modelos. O azul regressa como a cor dominante do Portugal Air Summit.
À entrada da tenda principal um F16 da Força Aérea Portuguesa, catalogado como “um dos melhores aviões de caça do mundo, equipado com a mais recente tecnologia em aviónicos, sistemas de armas, sistemas de controlo de autoproteção, com avançadas características aerodinâmicas que lhe conferem extraordinária capacidade para a execução de missões de Luta Aérea Ofensiva e Defensiva e Operações contra alvos de superfície”.

Para comprovar as características, poucos metros tenda de expositores adentro, no centro de recrutamento da Força Aérea Portuguesa é possível simular uma missão com um F16. A Aspirante Patrícia Gago explicou ao mediotejo.net tratar-se de tecnologia de realidade virtual. Além do divertimento, o expositor tem como missão mostrar “todas as profissões que a Força Aérea tem para oferecer, que vai para além dos pilotos; mecânicos, condutores, marketing, media e uma oferta vasta” em quadros permanentes e regime de contrato, detalha a Aspirante.
Ao lado, a Marinha Portuguesa e o Exército trabalham igualmente um apelo ao recrutamento mostrando as mais valias profissionais para um futuro militar. Muitos outros expositores se estendem em três corredores definidos na mesma tenda, onde o visitante pode encontrar produtos e material promocional ligado à aviação como t-shirts, canecas, camisolas, porta-chaves, aviões em miniatura, canetas e até ursinhos de peluche com farda de piloto mas também produtos regionais do Alto Alentejo, nomeadamente no stand dos núcleos empresariais da região.
Durante cinco dias, o Aeródromo Municipal de Ponte recebe algumas das entidades e personalidades mais relevantes do setor aeronáutico, da indústria, infraestruturas e serviços, para debaterem e analisarem a aviação – tripulada e não tripulada -, aeronáutica, espaço e defesa. De 13 a 17 de outubro são esperadas cerca de três mil pessoas, por dia, no evento. Tudo isto hospedado na segunda maior tenda do mundo e maior da Europa com 270 metros de comprimento.

Na verdade são quatro tendas onde este ano se discute o tema central “Flying for a New Start”, com dois estúdios, nos quais decorrerão 47 conferências e participarão mais de 204 oradores, uma sala de imprensa, uma área de expositores e outra dedicada ao EUROC, a única competição de lançamento de rockets da Europa, que este ano regressa com 20 equipas de diferentes países europeus, uma delas portuguesa, para competir por um dos cinco prémios disponíveis.
A Agência Espacial Portuguesa – Portugal Space e o Exército Português assinaram esta quarta-feira, um protocolo de parceria, no Campo Militar de Santa Margarida, assinalando o primeiro dia de lançamentos de foguetões, pelas equipas concorrentes ao European Rocketry Challenge – EuRoC. Até dia 17 de outubro, os lançamentos podem ser seguidos “live streamming”, na página YouTube da Portugal Space – com janelas de lançamento entre as 14h00 e as 15h00 e entre as 17h00 e as 18h00.

Até domingo, dia 17 de outubro, os concorrentes vão marcar presença entre Ponte de Sor (onde está a ser ultimada a montagem de foguetões), e o Campo Militar de Santa Margarida, para lançamentos, de 13 a 16 de outubro, estando a maior parte das atividades concentradas na sexta-feira e no sábado.
Na área de exposição premium o visitante encontra, então, dezenas de expositores nas áreas da aviação, aeronáutica, espaço e defesa. Um espaço partilhado por empresas nacionais e internacionais, associações, entidades públicas e estabelecimentos de ensino superior.
Um deles é o Instituto Politécnico de Setúbal, que apresenta um simulador desenvolvido pela própria escola para treino militar da Força Aérea e utilizado na pelos alunos da área de engenharia.
“As pessoas divertem-se muito com o simulador”, garante ao nosso jornal André Amaral, aluno do terceiro ano de engenharia mecânica.
Apresenta uns pedais para a travagem do avião e outros para controlar a asa traseira, mas apesar das indicações de André, pilotar não é tarefa fácil. O simulador ajuda ainda os alunos a perceber “quais as alterações numa aeronave. É utilizado como componente extra aos laboratórios. É um método de aprendizagem, mais prático” naquilo que são as reações de um avião, o seu funcionamento e o próprio entendimento da máquina, acrescenta.

Um trabalho que resulta da investigação e da parceria estabelecida entra a escola e empresas privadas. “O Politécnico desenvolve tecnologia que transfere para essas empresas privadas”, explica por seu lado Ricardo Cláudio, professor do Politécnico de Setúbal.
A escola já conta com um curso profissional em Ponte de Sor, de técnico superior em Produção Aeronáutica que pretende “dar resposta às empresas que se estão a instalar em Ponte de Sor, mão de obra produtiva”, vinca o professor dando conta que a região debate-se atualmente com a falta de mão de obra qualificada no setor. “A região está com projetos ambiciosos e precisa de profissionais”, nota.

A Air Dream College é outra escola presente na área de expositores do Portugal Air Summit, instalada no aeródromo municipal de Évora, sendo a única naquele espaço, desde setembro de 2019.
Também “a única escola da Europa que inicia a fase de voo em planador”, refere ao nosso jornal Gonçalo Anjos, responsável de marketing da Air Dream College. Explica que voo em planador “é um avião sem motor, que funciona à base de vento e gravidade”. Os aviões da escola são P2006 TMKII e P2002JF e um deles pode ser observado no recinto.
Salienta ainda ser a “única escola certificada pela ANAC para ter aulas em b-learning. Além disso tem cursos modelares, o piloto vai construindo a sua licença ao longo do tempo”, diz enquanto oferece canetas e outros brindes a quem mostra interesse naquele estabelecimento de ensino para pilotos e oficiais de operações.

Este ano o projeto “Lusitânia 100”, que juntou um grupo de apaixonados pela aviação, também levou até ao Portugal Air Summit um simulador do voo, diferente dos restantes uma vez que simula o voo efetuado por Sacadura Cabral e Gago Coutinho na Travessia Aérea do Atlântico Sul em 1922.
“As pessoas terão uma noção muito clara do que é duas pessoas estarem apertadas em pouco mais de um metro quadrado e ali ficar durante 11 horas e 20 minutos”, referiu.
Para testar as dificuldades daqueles dois aventureiros, experimentámos o simulador e comprovámos a instabilidade do avião da primeira Travessia Aérea do Atlântico Sul, feito que assinala o seu centenário em 2022. “Mas eram pessoas como nós. E se conseguiram este feito também conseguiremos realizar outros”, defende otimista João Moura Ferreira, presidente da associação Lusitânia 100.

O objetivo da associação é levar este simulador a várias capitais de distrito ou mesmo cedê-lo a escolas ou outras instituições, de forma que as pessoas “sintam o que Sacadura Cabral e Gago Coutinho sentiram e para terem uma ideia do que foram capazes de realizar”.
João Moura Ferreira falou ao nosso jornal sobre as seis rotas que é possível experimentar no Portugal Air Summit, voando no Lusitânia ou voando no Santa Cruz: Por exemplo com o Lusitânia “descolagem de Lisboa e aterragem em Las Palmas. Descolagem em Cabo Verde e aterragem nos Penedos de São Pedro e São Paulo”. Com o Santa Cruz “descolagem de Fernando de Noronha para o Recife e aterragem no Rio de Janeiro”.
São dois ecrãs para controlar, um com o avião em viagem comandado através de um joystick e outro com o painel de instrumentos.
“A simulação é gratuita. Esperamos todos os voluntários. Se não conseguirem fazer aqui o voo, poderá ser feito noutro local, basta contactar a associação”, diz. Para João Moura Ferreira a divulgação da Travessia de 1922 “é uma missão de serviço público”.

Sacadura Cabral e Gago Coutinho já tinham trabalhado juntos em África, nomeadamente na delimitação de fronteiras de países, como Angola, e utilizaram três aviões. Pararam em Las Palmas (Canárias) e São Vicente (Cabo Verde), antes de atingirem o Brasil no chamado “grande salto” que durou 11 horas e 21 minutos.
A construção de uma réplica do avião usado na primeira Travessia Aérea do Atlântico Sul, com que a associação Lusitânia100 pretendia assinalar o centenário do feito, para já está suspensa porque “era mais fácil fazer um avião em 1922 que em 2022”, mas João Moura Ferreira acredita que será uma realidade, quem sabe ainda no próximo ano, embora a data prevista (março) esteja completamente descartada.
No entanto, a associação continua “a fazer o relatório da travessia em português e inglês e queremos que chegue a todos os cantos do mundo que se fala e sente em português”.

Recorda-se que em 2017 o Portugal Air Summit chega aos céus de Ponte de Sor pela primeira vez, com a pretensão de reforçar a posição estratégica do desenvolvimento regional do Alentejo. O evento contou com um programa de conferências focado no futuro global dos setores da aviação, aeronáutica, espaço e defesa, workshops, mais de 60 expositores, air show, uma prova do campeonato nacional de drones e sessões de balonismo.
Na edição de 2018 a cimeira voltou a reunir personalidades relevantes da indústria com um programa de conferências com especial enfoque na sustentabilidade do setor. O ARC (Air Race Championship) foi a grande novidade desta edição, com 8 aviões pilotados pela elite mundial de pilotos que se defrontaram numa corrida única.

Na terceira edição do Portugal Air Summit, as capacidades humanas, mercado de trabalho e formação avançada fizeram parte do tema central do programa de conferências. Estiveram presentes mais de 80 oradores e mais de 100 expositores. O ARC voltou a fazer vibrar milhares com a velocidade dos 8 aviões em corrida, os air shows voltaram a animar os céus assim como a participação da Força Aérea com os seus F16.
Na edição de 2020 o evento, devido à pandemia de covid-19, mudou-se para o Centro de Artes e Cultura de Ponte de Sor, tornou-se híbrido, apenas com a presença física de oradores e alguns convidados. Sob a forma de um programa de televisão emitido em live streaming o evento tornou-se global chegando a mais de 60 países.
Em paralelo realizou-se a primeira competição universitária de rockets da europa, o EUROC (European Rocketry Challenge) onde estudantes de vários países europeus construíram e lançaram os seus rockets para os céus de Ponte de Sor.
Fotos: Jorge Santiago e David Belém Pereira/mediotejo.net