São de Fausto, o Bordalo Dias, algumas das mais belas canções da música portuguesa. “O Barco Vai de Saída”, “Se Tu Fores Ver o Mar”, ou “Navegar, Navegar”, têm em comum a aventura, o desafio e o horizonte de vistas largas e perigos vários.
Ali, tudo parece fazer sentido. Letras buriladas ao pormenor, musicalidade quase perfeita, numa viagem por mares quantas vezes já navegados, “adeus ó cais de alfama… e vai ao fundo sim senhor, que vida boa era a de Lisboa”.
E é ao som de “Rosalinda” que escrevo estas linhas. Tento afinar o tom da escrita pela voz de Fausto, como aconchego de fundo.
Sem rede, nem diapasão que me valha, confesso que não é fácil. A canção é lindíssima, o tema sempre actual. Concentro-me mais na música dele, que na escrita minha. Não há problema, os leitores perdoam, é por uma boa causa.
Mudo de registo e passo a ouvir “… e assim se faz Portugal, uns vão bem e outros mal”. Cheira-me a revolução, que diabo! Afinal, agora já não é tanto assim. Mas o Fausto insiste: “…segura bem o teu par, que o baile vai terminar”. Mudo de novo. E não me canso de o ouvir. Pouso a caneta que a crónica pode esperar. Aliás, duvido que alguém a leia. No domingo foi a Catalunha. Os catalães são um osso duro de roer. Por lá, só mesmo o regresso impossível de Freddie Mercury e Monserrat Caballé poderia atenuar a coisa.
E houve autárquicas também. A esta hora, ainda se fazem contas de somar e de sumir. Nestes momentos haverá sempre os que se somam e multiplicam em beijos, abraços e cumplicidades. Muitas. E os que se sumissem, pouca falta cá fariam.
Retomo a escrita. Está difícil não falar de futebol, nem de política, depois de um domingo assim. Tento resistir. Afinal, muita gente falará sobre isso.
Volto a Fausto. E, baixinho, assim como quem não quer a coisa, parece-me ouvir lá longe, mas cada vez mais perto: “Por este (R)io acima”. Será?