A execução do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) preocupa o autarca de Ponte de Sor. Não só a Agenda Mobilizadora no setor da aviação mas também “a execução dos projetos do PRR em todo o País”, disse, esta quinta-feira, Hugo Hilário ao jornal mediotejo.net, à margem do arranque do “PAS Take Off para 2024”, no Aeródromo Municipal de Ponte de Sor.
A 7.ª edição do Portugal Air Summit ‘descolou’ a 9 de novembro, no Aeródromo Municipal de Ponte de Sor, com o objetivo de “marcar um novo ciclo de crescimento” do projeto. O evento, promovido pelo município e pela Associação Comercial e Industrial de Ponte de Sor (ACIPS), vai decorrer até domingo e, este ano, assume a configuração de “lançamento e preparação” do formato internacional a desenvolver a partir de 2024.
Mas a atual crise política, decorrente da demissão de António Costa, após suspeitas de corrupção no seu Governo e depois de a PGR ter anunciado um inquérito-crime ao primeiro-ministro, a incerteza no futuro, designadamente quanto à execução do PRR, marcou o primeiro dia da cimeira, sendo que Ponte de Sor marca presença relevante de ações e investimento nas três Agendas Mobilizadoras do PRR focadas no Aeroespacial.
“Tem de preocupar a mim e a todos. O preocupar não quer dizer que, de uma forma sem critério e fora de contexto, possamos pôr em causa se as Agendas e o PRR vai ser executado na sua plenitude ou não”, disse o presidente da Câmara (PS) falando na necessidade de união.
“Quanto mais unidos, e focados, estivermos e mais acreditarmos que este instrumento tem de ser executado, mais fácil será certamente a concretização da sua execução”.
No entanto, quanto aos projetos para Ponte de Sor, “estamos a falar de Agendas que estão em execução, portanto, já começaram, estão aprovadas e vão certamente continuar. Tenho a certeza absoluta que, não havendo problemas, a atual crise política que o País vive nestes últimos dias não é melhor nem para o PRR nem para projeto nenhum”, afirmou Hugo Hilário.




A Agenda Mobilizadora Aero.next Portugal será responsável por produzir a primeira aeronave portuguesa em Ponte de Sor. São 121 milhões de euros de investimento, 61% dos quais para o Alentejo (75 milhões de euros). Um aeronave tripulada regional ligeira com capacidade para 19 passageiros, de 2000 kg de carga e 2000 km de alcance.
A Agenda NeuroSpace, um projeto português que visa combater os detritos espaciais usando tecnologias de Inteligência Artificial. Um projeto financiado pelo PRR com um orçamento de 25 milhões de euros. A Neurospace com o paoio da Agencia Espacial Portuguesa instalará um radar dedicado ao espaço e aos detritos espaciais em Ponte de Sor, que permite a demonstração e teste de novas tecnologias disponíveis para todo o espaço europeu.
Já a Agenda Mobilizadora New Space Portugal vai estabelecer pela primeira vez em Portugal capacidade para conceber, desenvolver e produzir “mais de 20” satélites completos, segundo Emir Sirage, diretor geral executivo da Agenda. Produzir ainda payloads e oferecer serviços transacionáveis de alto valor acrescentado baseados na exploração de dados da Observação da Terra a partir do espaço, impulsionando a cadeia de valor nacional para atender a um mercado em rápido crescimento mundial.

Como solução Hugo Hilário apresenta a “resiliência, e tentar perceber de que forma podemos contribuir para que não haja uma desaceleração acentuada deste tipo de projetos”. No entanto, “tudo o que diz respeito a cabimentações, dotações que também têm alguma ligação com o Orçamento de Estado, tudo o que tem a ver com processos administrativos, burocráticos que tem de ser agilizados e resolvidos no nosso dia a dia, se isso não ficar assegurado o quanto antes, de certeza absoluta que esta crise não é positiva”.
Particularmente “para quem está todos os dias, como nós estamos, a querer crescer e em permanente angústia pelas coisas, às vezes, demorarem tanto tempo”, reforçou o autarca considerando negativo “se continuadamente vivermos em sobressaltos, sejam eles políticos ou pandémicos ou das guerras. Infelizmente têm acontecido umas atrás das outras. É frustrante perceber que, de vez em quando, as coisas param ou desaceleram”.
Hugo Hilário apelou, por isso, “à consciência política e cívica de pormos em primeiro lugar a nossa sociedade”.
ENTREVISTA COM HUGO HILÁRIO:

Construção de fábrica de avião português arranca em 2024 em Ponte de Sor
No painel ”A próxima década de investimentos em Ponte de Sor” que decorreu no primeiro dia da cimeira – que este ano apresenta um formato diferente e um ciclo de conferências de apenas dois dias – Miguel Braga, diretor da CiiA EEA deu conta que “30% da Agenda Mobilizadora” está executada e avançou que em 2024, por altura da 8ª edição do Portugal Air Summit, será “lançada a construção da fábrica” da primeira aeronave portuguesa, montada em Ponte de Sor.
“O primeiro protótipo concluído em 2026 tal como o segundo protótipo havendo produção em série em 2027. Oito aviões em 2028 e 10 aviões a partir de 2029”, sendo que a fábrica terá a capacidade de construir 30 aeronaves por ano. Mercados de venda, essencialmente, na América do Sul e na África.
Segundo Miguel Braga, a Agenda Aero.Next vai gerar serviços e prevê a criação de 400 postos de trabalho diretos, sendo mais de 60% no Alentejo. Em Ponte de Sor “entre 100 a 120 postos de trabalho diretos” criados até 2030, avança o diretor de aeronáutica e defesa.



Já no painel ‘Oportunidades e Desafios para o cluster e economia de Ponte de Sor”, Carlos Figueiredo, que trabalha com o Município de Ponte de Sor, num plano de gestão do Aeródromo Municipal para os próximos 10 anos, defende a criação de uma empresa municipal.
Começou por afirmar que a infraestrutura de apoio ao desenvolvimento da atividade aeronáutica e aeroespacial de Ponte de Sor é “uma valia incontornável para o desenvolvimento deste território e, por isso, é mesmo um dos seus ativos estratégicos mais emblemáticos e de projeção nacional e internacional”.
A criação dessa infraestrutura polivalente pelo Município contempla o Centro de Negócios da Indústria Aeronáutica com as condições logísticas adequadas para o acolhimento e o desenvolvimento empresarial a fim de consolidar o Cluster da Aeronáutica e Aeroespacial do Concelho.

Explica Carlos Figueiredo que “a dinâmica de expansão e modernização desta infraestrutura aeronáutica municipal exige a necessidade de ponderar uma escolha entre dois modelos possíveis e contrastados de gestão: modelo de gestão interna (manter o funcionamento exclusivamente no perímetro do Município), e modelo de gestão externa (optar pela criação de uma empresa municipal)”.
Para o consultor do Gabinete Oliveira das Neves “parece ser mais razoável optar por uma entidade empresarial tipicamente de gestão de ativos e prestação de serviços, pois trata-se de uma entidade gestora mais focada na prestação de serviços aos utentes e clientes das infraestruturas existentes, sem que tal exija necessariamente dispor da propriedade efetiva de tais ativos”.
Ou seja, “a mobilização de recursos públicos de financiamento e atração efetiva de empresas e novos investimentos privados, tem contribuído para reforçar o cluster e melhora os indicadores de crescimento e emprego”.
Esta trajetória “tenderá a ser ampliada com os resultados dos projetos das Agendas Mobilizadoras do PRR, que deverão entrar em velocidade cruzeiro no horizonte de 2027, e reforçam o sentido de exigência associado à gestão estratégica do património municipal implicado naquela infraestrutura”, afirma.
Ponte de Sor com cluster mas ainda sem acessibilidades
Com o investimento a avolumar-se no cluster aeronáutico de Ponte de Sor, para complicar mantêm-se os problemas das acessibilidades. Apesar do investimento e das infraestruturas criadas no Aeródromo Municipal de Ponte de Sor, tarda a ser concretizada a ligação do IC9 ao IC13, o que preocupa Hugo Hilário.
“Está inscrito no Plano Nacional de Infraestruturas há décadas a ligação do IC 13 ao IC9 e A23. Isso é das nossas reivindicações permanentes. As acessibilidades são algo que reivindicamos todos os dias mas não está dependente da nossa autonomia direta. Ponte de Sor já demonstrou, por tudo e mais alguma coisa e não só pela indústria aeronáutica – também a indústria de transformação da cortiça com cerca de 400 postos de trabalho que já tem há duas décadas, como o agroalimentar, o agroflorestal, com aquilo que tem feito nos últimos tempos em termos de dinâmica económica – que justifica condições de acessibilidades rodoviárias distintas daquelas que tem hoje, isto quer dizer melhores”, concluiu.

Portugal Air Summit passa a formato bienal a partir de 2024
A cimeira aeronáutica Portugal Air Summit (PAS) vai decorrer em formato bienal a partir de 2024, por uma questão de “sustentabilidade” e de “não conflitualidade” com outros certames dedicados à aviação, explicou a organização.
O evento, que anualmente decorre no Aeródromo Municipal de Ponte de Sor (Portalegre), é promovido pelo município com o apoio de vários parceiros.
Hugo Hilário referiu que o certame “quer por uma questão de sustentabilidade, quer por uma questão de não conflitualidade” de agendas com outros eventos internacionais, vai passar para uma vertente bienal, a partir de 2024.
“O PAS posicionou-se ao nível de outros eventos internacionais, nós decidimos passar o PAS na sua vertente internacional para bienal”, disse. “Este ano, porque é a primeira vez que o fazemos e para não perdermos obviamente as ligações, relações institucionais que temos com vários parceiros por todo o país e até no estrangeiro, entendemos que não devíamos desgarrar o evento e não o assinalar desta forma mais simbólica e mais reduzida, aquela que seria a passagem para esse novo modelo que é o bienal”, acrescentou.
O autarca garantiu que o evento “vai continuar” em Ponte de Sor, mas não descarta a possibilidade de outra entidade ou município promover o evento nos anos em que não cabe à Câmara de Ponte de Sor essa missão. “Se nos anos que não for realizado em Ponte de Sor, algum município, alguma parceria se posicionar para que ele se possa realizar noutras paragens, caberá ao município, que é o único e exclusivo dono do evento, cuja marca registada é do próprio município, decidir se isso faz sentido ou não dentro daquela que é a estratégia do município”, disse.
Este ano, o evento, intitulado, Portugal Air Summit – Take Off para 2024, dedica os dois primeiros dias às conferências, com a participação de diversos oradores, que vão ter lugar no edifício da Torre de Informação de Voo do Aeródromo Municipal de Ponte de Sor. Segundo a organização, pretende-se refletir “sobre o presente e futuro do Cluster Aeronáutico de Ponte de Sor e os projetos em curso no Alto Alentejo e no país, nas áreas da Aviação, Aeronáutica, Espaço e Defesa”.
O programa, até domingo, integra também iniciativas lúdicas relacionadas com o Festival Internacional de Balões de Ar Quente e a “ARC Air Race Championship”. A “ARC Air Race Championship” pretende recriar o ambiente de demonstração de corrida na albufeira de Montargil, com os pilotos a “testarem os seus limites e os das máquinas” que vão pilotar, destacou a organização. Já o Festival Internacional de Balões de Ar Quente do Alentejo tem para oferecer aos interessados várias iniciativas, nomeadamente voos livres e batismos de voo.
C/Lusa