No dia em que foi apresentado, em Ponte de Sor, o Plano de Contingência para a Resposta Sazonal em Saúde – Referencial de Verão, André Peralta Santos, nomeado em regime de substituição como sub-diretor-geral de Saúde, reconheceu, em declarações à Lusa, que as indicações da Direção-Geral da Saúde a este nível “não mudam muito de ano para ano” e que “os parceiros estão conscientes das suas responsabilidades”.
O programa, criado em 2004, tem este ano quatro eixos – sistemas de vigilância e monitorização; proteção das pessoas em situação de vulnerabilidade; acessibilidade e organização da prestação e cuidados de saúde; e educação para a saúde, envolvimento da comunidade e comunicação -, juntando-se aos riscos das altas temperaturas. Aliás as alterações climáticas e os eventos climáticos extremos, no verão e no inverno foram a tónica deste evento da DGS.

As campanhas do programa “Juntos por um verão seguro 2023” referem medidas, tendo em conta a proteção das pessoas em situação de vulnerabilidade, como: promover a linha SNS 24; promover a literacia em saúde como ferramenta de educação para a saúde; articular com os municípios, Instituto da Segurança Social e com a ANEPC; identificar ‘Locais de Abrigo Temporários’; medidas especificas de prevenção para as Estruturas Residenciais para Pessoas Idosas, e medidas específicas de prevenção RNCCI.
“Vamos sempre tentando que exista uma melhoria dos procedimentos, da forma como comunicamos, como protegemos a população”, disse o responsável, lembrando que ” algumas medidas de proteção da população são estruturais, e levam tempo”, como a melhoria das condições de climatização dos edifícios.
O plano elenca ainda um conjunto de medidas a concretizar pelos parceiros do setor da saúde para acautelar a prontidão dos serviços de saúde e garantir a resposta ao aumento da procura ou a uma procura diferente da esperada, bem como, recomendações para capacitar os cidadãos para a sua proteção individual (literacia).
“A DGS tem sempre bem ciente da importância de reforçar a importância a os cuidados a ter com o calor e este evento marca isso mesmo”, afirmou o responsável, referindo-se à apresentação do documento, esta sexta-feira 14 de julho, no Centro Cultural de Montargil, em Ponte de Sor.

Sublinhando que “as populações não são iguais”, André Peralta Santos lembrou que, tradicionalmente, a população mais idosa e as pessoas que têm mais doenças, “são mais vulneráveis ao efeito do calor na saúde”.
Considerou que “a crise climática é talvez o maior desafio que enfrentamos e a forma como nos vamos ambientar às alterações climáticas”, disse durante o seu discurso durante a apresentação em Montargil lembrando os “dias mais quentes” na passada semana e acrescentando que os “eventos climáticos extremos têm efeitos sobre a saúde”.
Por isso, “os serviços de saúde têm de se preparar para estes efeitos, nomeadamente quando há eventos extremos como ondas de calor, pois pode haver sempre um acréscimo da procura dos cuidados de saúde”, afirmou o responsável, insistindo: “As unidades já estão bem cientes daquilo que têm de fazer para se preparar”.
O plano que a DGS apresentou reforça a necessidade de todos os serviços e estabelecimentos do SNS terem planos de contingência específicos – a nível local e regional – para a resposta sazonal em saúde e tem como um dos eixos estratégicos a literacia da população.
“Temos preparado já algumas campanhas de reforço para a população, nomeadamente o reforço da hidratação, os cuidados a ter com o sol e os cuidados a ter na praia. No fundo, aquilo que queremos é que as pessoas desfrutem do seu verão e que seja um verão saudável e promotor da saúde”, disse o subdiretor-geral da Saúde.

O documento lembra que Portugal é um dos países europeus mais vulneráveis às alterações climáticas e aos fenómenos climáticos extremos, tendo em conta a sua localização geográfica, e que há dados que sugerem que existe “uma tendência para o aumento da temperatura média global em Portugal, assim como para o aumento do número de dias anuais com temperaturas elevadas”.
O anfitrião, Hugo Hilário, presidente da Câmara Municipal de Ponte de Sor, começou por agradecer à DGS “ter escolhido Ponte de Sor para apresentar o plano, as orientações, estratégias e referências para o verão”, ou seja a resposta sazonal em saúde.
Para o autarca tal escolha significa “reconhecimento” sendo “mais uma ferramenta para Ponte de Sor” onde se situa a albufeira da Barragem de Montargil. Referiu, por isso, a “afluência de pessoas à albufeira, o que obrigou o Município a definir uma estratégia e implementar medidas inclusive de segurança”. Garantiu que o executivo municipal está “fortemente empenhado na concretização do plano de valorização da albufeira da Barragem de Montargil”.
Presente no evento esteve também Mário Jorge Santos, da ARS Alentejo. O seu discurso centrou-se na saúde pública, nas temperaturas extremas e na “grande reforma” na saúde, sendo que, opinou, essas “reformas não estão isentas de turbulência”, sublinhando a mensagem também deixada pela secretária de Estado da Promoção da Saúde, responsável pelo encerramento do evento: “a saúde pública faz-se com todos”.

Margarida Tavares defendeu a “necessidade de todos juntos sermos vigilantes” colocando os meios no terreno “sabendo que nunca vamos conseguir ultrapassar todas as situações”. Uma aprendizagem que, segundo a secretária de Estado, ficou da pandemia da covid-19 /os setores juntos conseguem sinergias”.
Encerrou a apresentação reforçando a ideia de que “devemos usar os meios que temos, usar no terreno, da melhor forma possível, para que todos tenhamos serviços melhores”.
Durante o evento, a ainda diretora-geral da Saúde, Graça Freitas, a dias de terminar a sua carreira, recebeu a Medalha de Bronze do Município de Ponte de Sor, pelas mãos de Hugo Hilário, tendo afirmado que “acabava a carreira no sítio onde a comecei. Talvez a última vez que falo em público enquanto diretora-geral da Saúde”.

Foi também apresentado por Isabela Sousa, do Instituto de Saúde Ambiental da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa, o estudo ‘Conforto térmico e saúde’, um estudo realizado a residentes no concelho de Lisboa, no qual concluiu existir prevalência de baixo bem estar geral na população que tem maior pobreza energética. Isabela Sousa garantiu não ser normal não ter conforto térmico dentro de casa e sugeriu investimento público para resolver esse problema que afeta a saúde das pessoas.
Segundo um estudo publicado na revista científica Nature Medicine, as ondas de calor na Europa no verão do ano passado terão provocado mais de 60 mil mortes. Em Portugal, os investigadores estimam que terão morrido 2.212 pessoas.
O relatório de Monitorização da Mortalidade de 2022, elaborado pelo Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge (INSA) e divulgado em março, aponta para mais de 6.100 óbitos em excesso em Portugal no ano passado, com o registo de quatro picos de excesso de mortalidade, coincidentes com duas ondas de covid-19 e períodos de temperaturas elevadas ou frio extremo.
C/Lusa