“Pela sua Saúde” é uma rubrica onde médicos de diferentes especialidades são convidados a partilhar informação com os nossos leitores, contribuindo para a prevenção de doenças e promoção de uma vida mais saudável. Em mês de regresso às aulas, Francisca Vila Luz deixa alguns conselhos aos pais, relembrando a importância de uma boa saúde oral nas crianças.
Sabia que a cárie precoce da infância é a doença infecciosa crónica mais comum da infância? É também um grande problema de saúde pública em todo o mundo. Embora não represente risco de vida, quando causa dor, e isto acontece na maior parte das vezes, é bastante limitante. Levar as crianças ao médico-dentista, desde pequeninos, ajuda a prevenir doenças orais, como a cárie. Desmistificar algumas situações é importante para poder melhorar a higiene oral dos seus filhos aí em casa. Vamos a algumas dicas.
Quando levar o meu filho a 1ª vez ao dentista? E com que frequência?
A primeira visita ao dentista deve acontecer até ao 1º ano de vida do bebé. Para além da observação da boca e estruturas adjacentes, esta consulta esclarece todos os cuidados de saúde oral a ter. Aborda, também, outros temas como hábitos orais (chupetas, sucção digital, biberons), mastigação e cuidados alimentares. As consultas seguintes deverão ser periódicas, entre os seis e doze meses de intervalo, consoante o risco de cárie das crianças.
Quando começar a escovar os dentes? E como?
Comece a escovar desde o aparecimento do primeiro dente! Segundo a Ordem dos Médicos Dentistas e a Associação Americana de Odontopediatria, a pasta de dentes deve ter flúor, com uma quantidade mínima de 1000ppm flúor (informação que se encontra facilmente no rótulo da pasta, normalmente nos componentes). No entanto, a quantidade de flúor é adaptada a cada caso, depois de uma avaliação pelo odontopediatra. Crianças com alto risco de cárie podem beneficiar de uma pasta mais fluoretada. A escova de dentes deve ser de cabeça pequena e com bastantes cerdas, todas do mesmo tamanho. Não se esqueça de escovar todas as partes do dente, por dentro, por fora e na parte da mastigação. Mal os dentes comecem a ficar todos juntos, sem espaço entre eles, comece a passar também o fio dentário: sabia que o fio dentário se passa antes da escovagem? Por último a língua. Outra dica valiosa: não passe a boca por água a seguir, a pasta é só cuspida.
Quantas vezes devo escovar os dentes?
No mínimo duas vezes: de manhã, depois do pequeno-almoço, e à noite, antes de dormir. É aconselhado que, após escovar à noite, não se coma nem beba nada a seguir, para não anular o efeito da escovagem e do flúor. O seu filho tem o hábito de beber leite já na cama? Deve tentar que seja antes de lavar os dentes. Sabia que esta é uma das maiores causas de aparecimento de cárie precoce da infância? E atenção que não falamos de leite materno, falamos de leites de fórmula. Outra curiosidade: o seu filho faz medicação para asmas, alergias ou problemas respiratórios? Muitos destes medicamentos têm açúcares na sua constituição. O Montelucaste e a Cetirizina, por exemplo, têm lactose (um açúcar).
O meu filho range os dentes, e agora?
Ranger os dentes pode fazer parte de um processo fisiológico, que acontece entre os 8-10 anos de idade, quando os caninos de leite estão a cair. No entanto, na maior parte das vezes, não está associado a essa fase e é patológico. Pode estar associado a períodos de maior stress (mudança de rotinas, como por exemplo: de escola, nascimento de um irmão ou bullying), mas também pode estar associado a problemas respiratórios. Múltiplos estudos associam a sinusite, rinite, apneia obstrutiva do sono como factores de risco para o bruxismo (ranger os dentes). Por isso, se o seu filho range os dentes não desvalorize! Outro factor de risco do bruxismo são as alterações de desenvolvimento dos maxilares: maxilares muito estreitos, mandíbulas onde os dentes da frente se veêm muito pouco, por ficarem escondidos pelos dentes de cima, por exemplo. Tudo isso o odontopediatra deve avaliar, e quanto mais cedo for diagnosticado e resolvido, melhor o prognóstico.
Todos estes assuntos são abordados numa consulta de odontopediatria, individualizada para cada criança e para cada família. É de extrema importância que o primeiro contacto da criança seja desde muito cedo, criando-se uma relação de confiança entre a equipa, a criança e os cuidadores, evitando que uma primeira consulta no dentista seja por dor. Assim, mais tarde, se for necessária qualquer intervenção mais específica, essa também decorrerá muito mais tranquilamente, pois uma ligação de empatia já foi criada anteriormente. O foco da consulta de odontopediatria é descomplicar, informar e, assim, cuidar da saúde oral dos mais pequenos.