O PCP questionou o Ministério da Cultura sobre se autorizou a realização de pinturas nas colunas do antigo convento de São Domingos, em Abrantes, num evento cultural, mas os responsáveis da iniciativa afirmam ter acautelado a preservação do património.
No texto entregue na quinta-feira no parlamento, o deputado comunista eleito pelo círculo eleitoral de Santarém, António Filipe, considera que as pinturas, realizadas por participantes no “Creative Camp”, promovido pelo canal de televisão 180, “representam uma grave lesão do edifício”, datado de 1517 e classificado imóvel de interesse público.
“Será muito difícil remover a totalidade das marcas deixadas por essas pinturas”, refere.
Contactado pela Lusa, Nuno Alves, da organização do “Creative Camp” – que junta durante uma semana, no verão, em Abrantes, criativos de todo o mundo -, afirmou que os pilares em causa foram revestidos com uma proteção de silicone, que facilita a remoção da tinta, numa intervenção articulada com a Câmara Municipal de Abrantes.
“Houve um cuidado com a pintura dos pilares. Essa questão foi tida em conta”, afirmou.
Nas perguntas dirigidas ao Ministério da Cultura, António Filipe questiona se a Direção Geral do Património Cultural (DGPC) foi informada das pinturas a realizar no antigo convento de São Domingos, se foi concedida alguma autorização e como tenciona a DGPC atuar “por forma a reparar as lesões provocadas no edifício e a apurar responsabilidades pelo sucedido”.
Nuno Alves disse à Lusa que a intervenção decorreu de uma escolha dos artistas, no âmbito do convite para que interpretassem a cidade, tencionando sinalizar a “fase de transição” da sociedade e do próprio espaço, que irá ser adaptado a museu.
“A escolha dos artistas deveu-se à importância estética, histórica e arquitetónica do lugar e à simbologia da transição que ele representa”, disse, reafirmando que todos os trabalhos foram aprovados e acompanhados pelo município, tendo sido adotados os cuidados necessários para não danificar o património.
O vereador da Câmara Municipal de Abrantes com o pelouro da Cultura, Luís Dias, referiu à Lusa que o que aconteceu no antigo convento foi uma intervenção de arte “efémera”, realizada com tinta amovível, num espaço que vai entrar em obra muito brevemente para ser transformado no Museu Ibérico de Arqueologia e Artes de Abrantes.
A intervenção realizada – a inscrição de várias letras em diferentes ângulos que obrigam o visitante a movimentar-se para ler a palavra “Transição” – “vai desaparecer” com a obra que se vai iniciar, pelo que o património não será lesado nem do ponto de vista físico nem químico.