Paulo Queimado, Presidente da Câmara Municipal da Chamusca. Créditos: mediotejo.net

Qual é a primeira memória que tem da Festa da Ascensão?
É a entrada de toiros. Sem dúvida. E não sei se não será a primeira memória de toda a gente. A euforia, o nervosismo. A multidão. E estar ali, em cima do reboque de um trator, à espera que os toiros passassem.

Com que sentimento é que faz este “regresso ao passado”?
Nunca com saudosismo, nada disso. É a recordação de um momento bonito e de grande euforia, vivido com os chamusquenses e com todos aqueles que vinham para ver os toiros. E esse sentimento é o mesmo que sinto hoje. Eu e muitos. Ainda esta manhã, quando eu ia para a Câmara, o sobrinho da minha vizinha ia para o infantário e levava um barrete de forcado, um capote e um lenço vermelho da Ascensão. Na minha altura, lembro-me de andarmos dois ou três meses no recreio, a brincar aos cavalos, aos toiros e aos forcados, com os capotes e com o ramo de uma árvore a fazer de bandarilha. E nos carnavais todos nos mascarávamos de toureiros, cavaleiros ou forcados. São estas memórias que ficam. A cultura, a tradição, o ser ribatejano. Os cavalos, os toiros, os trajes. Tudo isso carrega emoções.

A Ascensão está-lhe cravada na pele
Sim, diria que me está mesmo muito cravada na pele.

Entrada de touros na Chamusca. Foto: mediotejo.net

Esse fascínio pelas tradições associadas à Ascensão foi-lhe incutido no seio familiar?
A minha família nunca teve muita ligação aos toiros. Nem ao Rancho, nem à etnografia ou outras expressões culturais relacionadas com a Ascensão. Não existia essa ligação direta em termos de participação. Mas sempre houve um grande gosto pela cultura chamusquense. E isso foi-me muito incutido, desde pequeno. A pessoa que eu vejo assim mais eufórica, ainda hoje, com 92 anos, é a minha tia Judite. Está sempre desertinha para a Corrida de Toiros. São os meninos dela… os forcados. Da parte da família da minha mãe, sim, houve sempre uma ligação aos cavalos, e ela sempre gostou muito da Festa Brava. Sempre trabalhou na agricultura, fazia aquelas campanhas do arroz, nas cearas… Contava que, naquela zona de Ulme, quando as vacas e os toiros vinham por ali abaixo, tinham que fugir e subir para cima das árvores. E essas histórias ficaram sempre muito vincadas.

“Nunca tive a ambição de ser moço forcado. Não sou um aficionado. Gosto muito, mas nunca tive essa disponibilidade. E os meus interesses seguiram outra direção, para o lado das artes.”

Paulo Queimado, Presidente da Câmara Municipal da Chamusca

Esse entusiasmo que demonstra a falar da Festa Brava, dos toiros e dos cavalos, alguma vez o fez ambicionar ser um participante ativo desse espetáculo?
Nunca tive a ambição de ser moço forcado. Não sou um aficionado. Gosto muito, mas nunca tive essa disponibilidade. E os meus interesses seguiram outra direção, para o lado das artes. Pintar os toiros, pintar os cavalos…

A Ascensão é também uma festa religiosa. No entanto, quem pensa em Ascensão na Chamusca, pensa automaticamente em toiros…
Sim, a Ascensão também tem um lado religioso. Nós, aqui, nunca tivemos muito essa vertente da tradição nas comemorações. Mas tentamos sempre envolver a Igreja na Festa. Na Quinta-Feira da Ascensão continua a fazer-se a bênção dos bens da terra e dos animais. Antes da entrada de toiros há uma celebração religiosa com a bênção. E penso que esta conjugação, entre a comemoração religiosa e a outra comemoração mais pagã, com os toiros, deve permanecer.
A Ascensão é realmente uma festa religiosa. Nós, os pagãos, é que juntámos os toiros às comemorações, por associação ao nosso feriado municipal [celebrado na Quinta-Feira de Ascensão], para dar a conhecer a quem nos visita a nossa cultura, as nossas tradições e aquilo que de melhor se faz no nosso território. E obviamente, as nossas associações. Meter esta gente toda a colaborar e a participar na Festa. Porque, muitas vezes, é destes nove dias que retiram o seu sustento financeiro para o resto do ano. A semana da Ascensão é, e penso que deve ser cada vez mais, uma semana de partilha e de envolvimento. Quando isso se consegue, as coisas correm sempre bem.

A tradicional apanha da espiga, na Chamusca. Foto: CMC

Um momento de encontro, podemos chamar-lhe assim?
Absolutamente. É mesmo esse o espírito que se pretende cultivar.

Em tempo de Ascensão, a Chamusca é uma terra diferente. Que ambiente se vive por aqui durante os nove dias de festa?
Muita alegria e muita partilha. É o reencontro com a família, que às vezes nem se vê no Natal, mas que se reúne na semana da Ascensão. O abraço dos amigos que não vemos durante todo o ano, mas que na Ascensão não deixam de aparecer, alguns num regresso muito feliz à sua terra natal. Tentamos não ter horários, e o trabalho, quando possível, fica um bocadinho para segundo plano (que não é o que acontece com quem está a organizar, nesse caso, é o contrário). É sempre uma semana muito emocionante. É o orgulho de ser chamusquense e ribatejano. É o nosso ADN.

Que momentos é que destaca como os ‘momentos altos’ da Festa?
Começaria por destacar a preparação da Festa e este envolvimento da comunidade e das associações. Aquilo que o Município faz, como trazer grandes concertos, ter o Palco da Juventude, ter o Pátio da Ascensão, é só uma motivação para trazer mais gente de fora à Chamusca, para que conheça o que temos, o que fazemos e o que somos. Os chamusquenses gostam de receber bem. Quanto ao momento alto, o apogeu da Semana da Ascensão, são aqueles trinta segundos (às vezes, um bocadinho menos), da entrada de toiros. É o momento mais emocionante de toda a semana. De resto, todos os dias há momentos de emoção, nem que seja porque fazemos aqui uma boas gordices, uns petiscos valentes, e porque se bebe mais um copo.

A Chamusca é uma vila com tradições tauromáquicas. Como é que tem sentido o impacto do movimento anti touradas, que tem vindo a crescer nos últimos anos?
A mim, faz-me um bocadinho de confusão. Estamos a falar da liberdade cultural de uma comunidade. Nós temos esse ADN do Ribatejo e o toiro bravo sempre teve muita presença na vida dos chamusquenses. Na altura em que não havia tratores nem locomóveis, era a força bruta dos toiros, nomeadamente, dos toiros bravos, que fazia lavrar os campos da lezíria. Daí surgiam as brincadeiras dos moços forcados. A questão da tauromaquia, que envolve os toiros, os cavalos e os campinos, (não é só a questão dos criadores), para nós é muito natural. Não são toiros pelos toiros, nem é só a questão da corrida de toiros. É toda a tradição popular que está à volta da tauromaquia. E isso é tão genuíno, que até nos miúdos se nota. Eu posso não gostar de uma expressão cultural qualquer, posso não gostar de caretos, por exemplo, mas não posso querer proibir essa manifestação artística.

“A tourada é uma manifestação cultural como todas as outras. E a tauromaquia é muito mais do que a tourada. Depois, é uma questão de gosto e de crença. Tem de haver essa liberdade de expressão. Sou um total defensor daquilo que é a expressão tauromáquica no nosso concelho.”

Paulo Queimado, Presidente da Câmara Municipal da Chamusca

As manifestações negativas relacionadas com a tauromaquia apoiam-se, sobretudo, na questão do bem-estar animal…
Fala-se muito no bem-estar animal, é verdade. Eu concordo plenamente e sou um grande defensor do bem-estar animal. Mas, se formos analisar a vida do toiro bravo, comparativamente a outro tipo de criação animal, não me parece coerente esse argumento. Veja-se as galinhas poedeiras, que passam uma vida inteira fechadas numa gaiola, ou a criação de porcos com engorda… Os toiros têm uma vida completamente diferente. Libertos, nos campos, no meio da charneca. O que acontece é que há um grande desconhecimento e um foco muito grande na tourada. A tourada é uma manifestação como todas as outras. E a tauromaquia é muito mais do que a tourada. Depois, é uma questão de gosto e de crença. Penso que tem de haver essa liberdade de expressão cultural. Portanto, sou um total defensor daquilo que é a expressão tauromáquica no nosso concelho.

A Chamusca está cada vez mais sozinha nesta defesa da tauromaquia. Defende a tradição tauromáquica, mesmo correndo o risco de ser considerado politicamente incorreto e de todos os estilhaços que daí possam advir?
Defendo e vou continuar a defender. O que é politicamente incorreto para alguns será politicamente correto para outros. Nunca conseguimos agradar a gregos e a troianos. Não sendo uma convicção, não sendo um acérrimo aficionado, considero que se trata de uma manifestação cultural forte, que diz muito do que é a nossa cultura e tradição. Portanto, enquanto homem da cultura que ainda me considero, vou continuar a defender a tauromaquia, independentemente de isso poder ser considerado politicamente incorreto.

Muitas praças de toiros têm vindo a fechar portas. Mediante toda esta movimentação anti toiradas, acredita na possibilidade de este espetáculo vir a ser proibido em Portugal?
Não. Não acredito. Continuo a dizer o mesmo, é uma questão de liberdade de expressão cultural.

A Praça de Toiros da Chamusca é uma praça centenária, mas a tauromaquia, na Chamusca, tem raízes mais longínquas…
A Praça de Toiros da Chamusca foi construída em 1919. Fez 100 anos em 2019. Mas nós temos registos das praças que eram montadas para os eventos tauromáquicos desde meados de 1600. E a construção desta praça, no início do século XX, revela muito o poder da afición já naquela altura. É uma praça da Santa Casa da Misericórdia, que foi feita para dar resposta à sua ação de beneficência. Nesse tempo, praticamente todas as semanas havia, pelo menos, uma corrida de toiros. Em alguns meses, havia quatro ou cinco corridas. Isto tinha grande impacto e vinha gente de todo o lado, para assistir às corridas de toiros na Chamusca. A praça é relativamente pequena, mas tinha muita atividade e isso sustentava muito aquilo que era a ação da Santa Casa. Os toiros eram oferecidos pelos criadores e muitos toureiros vinham de forma graciosa, para apoiar a Santa Casa. Isso também fez com que as pessoas ganhassem este gosto pela praça, pelas corridas e pela tourada, pela cultura tauromáquica. Agora, temos três ou quatro corridas por ano. É uma opção dos empresários, que tem muito a ver com a rentabilidade, com o próprio negócio.

Além das questões culturais, estamos também a falar de uma expressão que terá um impacto financeiro no tecido económico da Chamusca.
Sem dúvida. Inclusivamente, com a Protoiro (Federação Portuguesa de Tauromaquia), estamos a desenvolver um estudo económico sobre o impacto do toiro bravo e da tauromaquia nos concelhos associados, porque há realmente uma economia muito grande que gira á volta da criação do toiro bravo. Que envolve, não só os criadores, mas todas as pessoas que trabalham nas herdades, as suas famílias, a restauração e a gastronomia, até o embolador e o alfaiate. Queremos saber exatamente qual é o impacto financeiro que isto tudo tem no nosso território.

“Em 2022 recebemos cerca de 100 mil visitantes durante os nove dias de festa. Este ano, creio que vamos ultrapassar esse número em larga escala. Estamos com uma expectativa elevadíssima.”

Paulo Queimado, Presidente da Câmara Municipal da Chamusca

Estamos a poucos dias do início da grande Festa da Ascensão. Já se sente esse frenesim nas ruas?
Sim. Já anda tudo louco. É uma organização exigente, que envolve muita gente e muitas associações. Temos mais de uma centena de expositores inscritos. E no sábado tem de estar tudo pronto para recebermos os milhares de visitantes que chegam para esta Festa, que é a montra grande daquilo que se faz no concelho da Chamusca. Em 2022 recebemos cerca de 100 mil visitantes durante os nove dias de festa. Este ano, creio que vamos ultrapassar esse número em larga escala. Estamos com uma expectativa elevadíssima.

Qual é o investimento do Município nessa ‘montra grande’ do concelho da Chamusca?
Temos quase meio milhão de euros destinados à Ascensão para este ano. Falo em despesa. A receita é sempre muito relativa, depende de vários fatores. Mas, se por um lado investimos, também sabemos que no final teremos retorno, porque estamos a fazer a economia do concelho circular.

Paulo Queimado, Presidente da Câmara Municipal da Chamusca. Créditos: mediotejo.net

Consegue viver a Semana da Ascensão em pleno, mesmo não podendo despir a pele de presidente da Câmara?
Não, claro que não. A quinta-feira, então, é um dia mesmo muito stressante. Fico sempre aqui nesta sala [salão nobre dos Paços do Concelho] durante a entrada de toiros. Tenho rádio, SIRESP, walkie talkies, telemóvel, tudo… estou em comunicação com toda a gente. Depois de fazer o cortejo, dou uma volta para baixo, outra para cima, normalmente com o comandante dos Bombeiros, para perceber como estão as coisas. Depois, venho para a Câmara e fico aqui com o Centro de Operações, com a GNR e a Proteção Civil. É aqui que dou a ordem de saída dos toiros. Quando me dizem, ‘entrou tudo, está fechado e está tudo bem’, aí sim, descomprimo e respiro fundo. Depois, há sempre a preocupação com a organização, com os expositores e com a segurança. Os nossos planos de segurança e de emergência são muito apertados.

Não há espaço para disfrutar da festa…
Tento estar sempre um bocadinho com os amigos e com a família que vem. Mas é muito absorvente. Uma agenda sempre muito cheia. Este ano, começamos logo em grande, antes da abertura, com a inauguração de dois espaços dentro do Programa da Mobilidade Urbana Sustentável, a envolvente do Mercado Municipal e a envolvente da futura Casa das Artes. Vai estar cá a senhora Ministra da Coesão [Ana Abrunhosa]. Portanto, vai ser um dia muito cheio e de muito protocolo. O resto da semana, é tentar gerir aquilo que é o trabalho na Câmara durante o dia, as iniciativas em que tenho de estar presente, o jantar e os petiscos com os amigos… é uma gestão difícil. Há vários mundos a girar aos mesmo tempo. Mas, com boa vontade e poucas horas de sono, tudo se faz.

Chamusca vai estar em Ascensão de 13 a 21 de maio com muita música e animação. Foto: CMC

Enquanto presidente de Câmara, o que é que lhe tira o sono? Quais são as suas grandes preocupações relativas ao concelho que lidera?
Nada me tira o sono, porque só me deito depois ter o dia resolvido. Depois de pensar no que fiz durante o dia e de programar o dia seguinte. Mas há coisas que me fazem pensar e refletir. Preocupa-me muito a questão de querer trazer investimento para a Chamusca e de nos últimos três ou quatro anos ter perdido mais de 5 milhões de euros de investimento por causa de uma estrada. Isso faz-me muita confusão. Não me tira o sono, mas faz-me perder horas de descanso. Porque tento de todas as formas trazer investimento para o concelho, faço todos os contactos, falo com as pessoas, recebo-as… e quando vêm ao território perguntam-me: ‘Quando é que a autoestrada [A13] está pronta?’ Eu não sei dizer e as pessoas vão investir noutro sítio onde tenham a autoestrada a 5 minutos…

Preocupa-me muito a questão de querer trazer investimento para a Chamusca e de nos últimos três ou quatro anos ter perdido mais de 5 milhões de euros de investimento por causa de uma estrada.

Paulo Queimado, presidente da Câmara Municipal da Chamusca

Essa é uma luta antiga, que parece não ter fim à vista…
A Chamusca não tem acessibilidades. E eu contra isso não consigo fazer nada. É uma situação que não se percebe, sobretudo quando se fala tanto em coesão territorial e em valorização do interior. Fala-se numa nova ponte, mas eu não quero uma ponte. Quero a A13. Ainda mais agora, com a hipótese de o novo aeroporto vir para Santarém, que é um projeto que eu defendo e em que acredito muito. Não quero continuar a ver a Chamusca num enclave, afastada daquilo que será um centro de decisão económica. Falta aqui, à volta da grande cidade aeroportuária, esta circular, que é a A13. É uma questão estruturante para a Chamusca, mas também é fundamental para o desenvolvimento da Lezíria do Tejo e do Médio Tejo.

Além da falta de acessibilidades, outra problemática que tem vindo a ser debatida é a falta de médicos no concelho da Chamusca.
Sim. Ao dia de hoje [4 de maio], temos dois médicos e um estagiário, com problemas gravíssimos na resposta direta à população. O nosso concelho tem 746 quilómetros quadrados, mais de 8.500 habitantes e uma população muito envelhecida, a precisar de cuidados médicos. A nossa coordenadora da USF é incansável. Criámos uma programa de apoio, para cativar médicos, para ver se conseguimos passar a nossa USF de modelo A para modelo B, que é logo outro incentivo financeiro para o território. A verdade é que o nosso atual centro de saúde também não é apelativo. Felizmente, estamos na reta final de conclusão do novo edifício. Tivemos recentemente uma visita de futuros médicos, num dia aberto da ACES Lezíria, e vi uma certa motivação. Esperamos que alguns deles sintam carinho pelo Ribatejo e queiram vir para a Chamusca. O que é certo é que é uma dificuldade grande que temos vindo a sentir. Temos outra reunião agendada com o senhor Ministro da Saúde e desde a última reunião que tivemos a Chamusca ainda está pior do que estava… Este é um problema de toda a região. Na Lezíria do Tejo sentimos muito essa carência de médicos. Porque além da falta de médicos de família no concelho, deparamo-nos constantemente com constrangimentos nos nossos hospitais centrais.

“A Chamusca não tem acessibilidades. E eu contra isso não consigo fazer nada. É uma situação que não se percebe, sobretudo quando se fala tanto em coesão territorial e em valorização do interior. Fala-se numa nova ponte, mas eu não quero uma ponte. Quero a A13.”

Paulo Queimado, presidente da Câmara Municipal da Chamusca

O problema da A13 e a carência de médicos no território não dependem da ação direta do presidente de Câmara. Mas dos projetos que estão nas suas mãos, e que tem competência para concretizar com autonomia, o que é que gostava de concluir ainda durante este mandato?
Tenho um objetivo muito claro. No dia em que sair, não quero deixar a Câmara como a encontrei. Quero deixar a Câmara com saúde financeira. Quero deixar obra feita, sem dívidas a fornecedores. Quero deixar os projetos que não conseguir concluir prontinhos para avançar. Temos aí o Portugal 2030 em força e ainda temos um PRR para concluir. Há muitos projetos que já não serei eu a executar, mas quero deixar tudo pronto para que quem venha a seguir possa dar continuidade a este trabalho. Tenho tudo muito bem planeado. Quem me dera já ter inaugurado tudo o que está por inaugurar e ter os equipamentos todos abertos e a funcionar. Como por exemplo, as piscinas que ainda temos fechadas. Mas, muitas vezes, não depende só de nós. A competência ou incompetência de cada um às vezes ultrapassa aquilo que é a nossa função ou o nosso querer. Mas temos feito muito e concluído muitos projetos.

“No dia em que sair, não quero deixar a Câmara como a encontrei. Quero deixar a Câmara com saúde financeira. Quero deixar obra feita, sem dívidas a fornecedores. Quero deixar os projetos que não conseguir concluir prontinhos para avançar.”

Paulo Queimado, Presidente da Câmara Municipal da Chamusca

Este será o seu último mandato. Está satisfeito com o trabalho que tem vindo a desenvolver enquanto Presidente de Câmara e com o rumo que a Chamusca está a seguir?
Muito satisfeito. A primeira vez que me candidatei com a minha equipa, há 10 anos, fizemos um programa eleitoral a 12 anos, muito convictos de que iríamos ficar durante três mandatos. E, ainda há dias, estávamos a fazer uma análise do que já estava feito e do que falta fazer, e é surpreendente. Eu tinha-me focado muito em quatro ou cinco pontos, como a requalificação de todas as escolas, a criação de um centro escolar, qualificar a escola sede, ter um novo centro de saúde, um novo arquivo histórico municipal… ou seja, uma série de projetos daqueles que se veem… entre muitos outros. Conseguimos superar tudo aquilo que era o nosso projeto inicial. Também tivemos a sorte de ir tropeçando em muitos e bons parceiros pelo caminho, com ideias espetaculares, que não conseguiam implementar e que nós apoiámos e que nos ajudaram a enriquecer o nosso próprio projeto. Nunca tivemos medo de experimentar coisas novas e de arriscar, muitas vezes contra tudo e contra todos. Acredito muito que pequenas ações podem transformar as vidas das pessoas. Somos os maiores investidores sociais do Alentejo. Trabalhamos muito para as pessoas. Esse trabalho tem resultado bem. Estou muito satisfeito, conseguimos cumprir e já temos quase 90 % do programa de 12 anos feito. E consegui fazer mais 150% daquilo que nem imaginava que ia fazer um dia.

O que vai fazer a seguir?
Se calhar vou lanchar e beber um café [risos]. Agora, a sério… eu tenho muitas saudades da conservação e restauro. Mesmo muitas. A área do Património preenche-me realmente. E tenho muita pena de, durante estes anos, não ter tido disponibilidade financeira para fazer algumas obras de requalificação do património. Até porque não são propriedade do Município. Aliás, o pouco património que tínhamos foi vendido em leilões e hastas públicas. Mas a Chamusca é riquíssima. Temos as Igrejas, com azulejaria, com a talha dourada, a escultura, a pintura… e que estão a precisar de intervenções de fundo. Tenho muita pena. Isto para dizer que gostava muito de trabalhar na área da Cultura e Património. Mas não sei o que é que o futuro me reserva e onde é que me querem. Eu vou estar disponível para tudo, para o meu partido, para a minha terra e para o meu país. Portanto, é um dia de cada vez. O que sei é que quero continuar a fazer aquilo que gosto de fazer. Nunca fiz um trabalho contrariado, tive sempre a sorte de fazer aquilo que quis e aquilo que gostava.

Para concluir, o que é que a Chamusca tem de especial?
É o tal ADN. Não sei se é dos ares do Tejo, da charneca e do campo, que fazem aqui uma mistura explosiva e que, de facto, nos fazem sentir de maneira diferente. A Chamusca sempre teve um grande potencial, desde os séculos XVI/ XVII. Sempre houve aqui gente muito abonada e com muita influência a nível nacional, desde ministros a gente da economia e da agricultura. Parecendo que não, a nível cultural isso tem influência. Sempre tivemos grupos de teatro, orquestras, músicos, poetas, escritores… No que diz respeito à cultura, sempre estivemos por cima, ao nível do que acontecia no panorama nacional. Sempre houve um movimento cultural muito grande e muito rico na Chamusca. Esse movimento artístico foi-se enraizando e ficou. A Chamusca ainda fervilha. Espera-se que continue a preservar esta dinâmica e que cultive este gosto junto das gerações vindouras.

Carla Paixão

Natural de Torres Novas, licenciada em jornalismo, apaixonada pelas palavras e pela escrita, encontrou na profissão que abraçou mais do que um ofício, uma forma de estar na vida, um estado de espírito e uma missão. Gosta de ouvir e de contar histórias e cumpre-se sempre que as linhas que escreve contribuem para dar voz a quem não a tem. Por natureza, gosta de fazer perguntas e de questionar certezas absolutas. Quanto ao projeto mais importante da sua vida, não tem dúvidas, são os dois filhos, a quem espera deixar como legado os valores da verdade, da justiça e da liberdade.

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1 Comentário

  1. Pode ser que alguém seja colhido por um touro e não haja médicos e recursos para acudir essa(s) pessoa(s). E com tão maus acessos rodoviários, pode ser que os feridos humanos não cheguem a tempo a um hospital de Lisboa. Essas actividades tauromáquicas que a Chamusca insiste em manter são violentas para os animais e são perigosas para os transeuntes. Se o Sr. Presidente quer evolução, pense em evoluir também no que se refere a algo tão simples como o respeito pelos animais (não-humanos). Sejam criativos, caramba! Arranjem umas bolas grandes decoradas com motivos tradicionais e substituam os bovinos por essas bolas. As bolas que lancem espigas para o ar enquanto vão rolando pelas ruas! Metam chupas-chupas agarrados às espigas, para as crianças apanharem, em vez de lhes ensinarem que os animais devem ser tratados como COISAS! EVOLUAM! Eu não visito a Chamusca. Recuso-me.

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