Centro histórico de Abrantes. Fotografia: Nuno Caetano Pais
ÁUDIO | Visita guiada com o historiador abrantino José Martinho Gaspar

1. Castelo de Abrantes

Castelo de Abrantes. Créditos. CMA

Ex-libris da cidade e seu espaço fundador. É um dos sítios mais visitados de Abrantes, e há quem visite este património sem sequer ir a outros pontos da cidade.

O castelo medieval e fortificado nos séculos XVII e XVIII teve grande importância estratégica, mas as suas origens remontam até antes da fundação da nacionalidade. Após várias escavações foram encontrados elementos da Idade do Bronze, da Idade do Ferro e do período Romano. Também alguns vestígios muçulmanos mostram que este morro de Abrantes acabou por ser sempre ocupado.

Existe a dúvida sobre a dimensão da presença romana no local, ainda que persista a ideia da existência de uma via importante que ligava Mérida a Lisboa, além de que se pensa ali ter existido uma cidade com alguma dimensão, mas sem se terem encontrados vestígios dela, apesar de uma placa antiga na zona de Alvega que indica uma Aritium Vetus.

Foram encontrados vestígios no castelo de uma deusa romana, e no Rossio uma estátua de grandes dimensões que está no Museu Ibérico de Arqueologia e Arte, que marca a presença anterior à nacionalidade.

Enquadra-se o castelo na linha dos Castelos do Tejo, desde Amieira do Tejo, a Belver, e depois Abrantes, Almourol e Torres Novas, na linha defensiva do Tejo, que permitiu fazer a reconquista do território cristão e que depois, desde meados do século XII, se tenha feito o avanço em direção a sul.

2. Igreja de Santa Maria do Castelo – Panteão dos Almeida

Espaço museológico que o município transformou em 2021, tendo sido reinaugurado há um ano, trata-se de uma capela anterior à nacionalidade, que depois evoluiu para igreja medieval. Foi transformada significativamente por opção de D. Diogo Fernandes de Almeida, no século XV, que tornou a igreja muito semelhante à que existe nos dias de hoje, com instalação de túmulos da Família Almeida – muito próxima de alguns reis de Portugal, caso de D. João II e D. Manuel I. Criaram aqui o seu panteão, com túmulos de estilo gótico, à semelhança do que sucedeu no Mosteiro da Batalha.

Os sucessores da família estão nos túmulos de estilo renancentista e manuelino, mais clássico. Santa Maria do Castelo também tem azulejos e frescos que se assumem como elementos significativos do património integrado.

A igreja foi transformada em Museu Regional Dom Lopo de Almeida em 1921. Cem anos depois deu lugar a este espaço requalificado como Panteão dos Almeida.

3. Torre de Menagem e Palácio dos Governadores

Último reduto dentro dos castelos medievais, foi reedificada no início do século XIII, sendo que teria três pisos, acabando em consequência de um tremor de terra por necessitar de ser reedificada, no início do século XVI, passando a contar com dois pisos e configuração atual.

De frente o Palácio dos Governadores, também associado a D. Diogo Fernandes de Almeida, alcaide-mor do Castelo, e ao seu filho D. Diogo de Almeida, primeiro Conde de Abrantes. Trata-se de um espaço apalaçado e que foi evoluindo, assumindo a estrutura apalaçada, abobadada, e próxima do que é possível observar hoje em dia.

Sepultado na entrada da Igreja está o Marquês de Abrantes, que estava à frente de Abrantes nas Invasões Francesas, e acaba por haver ocupação da vila pelos franceses, situação que deixou o marquês desgostoso. Preferiu ser sepultado numa campa rasa, e que todos passassem por cima da campa, como prova de humilhação.

A igreja que era antecessora da atual, foi um espaço onde decorreu o conselho de Guerra que levou à Batalha de Aljubarrota. D. João I e Nuno Álvares Pereira encontraram-se em Abrantes para discutir a estratégia seguinte, após a Batalha dos Atoleiros. Diz-se que D. João I foi ouvir missa à Igreja de São João. Conta-se que a Pedra de Golias, situada à frente da Igreja de Santa Maria do Castelo,  que estaria à frente da Igreja de São João, foi onde D. João I se coloco em cima para subir para o cavalo e seguir para a Batalha de Aljubarrota.

4. Jardim do Castelo

Dos poucos jardins românticos que existem no país. Data da década de 80 do século XIX. Tem a curiosidade de ter sido construído no antigo fosso do castelo. Assumiu preponderância no papel para a sociabilidade enquanto vila e depois cidade. Contém o coreto onde se faziam concertos de música ao domingo, para a comunidade, uma vez que as associações que existiam eram para acesso restrito a algumas famílias mais ricas – caso da Assembleia de Abrantes.

Sendo espaço público, foi sendo dedicado às bandas musicais que Abrantes tinha em grande número, bem como outras entidades capazes de entreter.

A partir de meados do século XX, a ideia de Cidade Florida assume destaque ligada ao jardim. Abrantes tinha o fiel jardineiro Simão Vieira enquanto responsável pelas placas ajardinadas e floridas, levando inclusive a ganhar prémios nacionais e internacionais.

É um espaço onde as pessoas vinham fazer as fotografias, depois do casamento na Igreja de São Vicente, por exemplo.

5. Outeiro de São Pedro

Outeiro de S. Pedro, Abrantes. Créditos: CMA

Chegou a ter uma igreja, mas foi demolida. Nuno Álvares Pereira terá estado neste ponto acampado com cerca de 3 mil homens… apesar de ser pouco provável todos ali caberem, sendo certo que alguns ali terão estado. Contém um monumento a D. Nuno Álvares Pereira, com arquitetura de Duarte Castel-Branco. Tinha uma figura em bronze que foi roubada e estava associada à elevação de Abrantes a cidade. Em 1966 fez 50 anos que Abrantes tinha sido elevada à condição de cidade e como tal foi erigido o monumento. Porém só foi inaugurado em 1968, pelo então presidente da República. É um espaço de referência e com uma vista privilegiada sobre o Tejo – em tempos uma barreira, mas também uma ligação entre regiões – e onde se avistam os Mourões, o que resta da extremidade de uma ponte de barcas, construída no início do século XIX; motivou alguns equívocos durante algum tempo.

Vista sobre o Tejo, com as pontes ferroviária e rodoviária sobre o rio, e Rossio ao Sul do Tejo. Foto: Diogo Pinto / mediotejo.net

Também se avista a Ponte rodoviária sobre o Tejo, que une Barreiras do Tejo a Rossio ao Sul do Tejo, bem como a ponte ferroviária do final do século XIX, quando inaugura a Linha da Beira Baixa. O Tejo foi um elo de ligação importante para Lisboa quando era navegável nesta zona, avistando-se o Porto do Tejo e o Porto do Rossio ao Sul do Tejo, onde outrora chegavam navios de grande envergadura, os varinos com cerca de 40 toneladas. De Abrantes seguiam produtos locais como o azeite, a palha, e traziam até à região outros tantos produtos que faziam falta à região.

6. Edifício (ou Casa) Carneiro

No antigo Edifício ou Casa Carneiro, na Rua de São Pedro, que se encontra em obras de reabilitação, nascerá o Museu de Arte Contemporânea Charters de Almeida. Terá outros espaços inseridos numa ótica de versatilidade, incluindo um auditório e outras exposições. Está em fase adiantada de obra, pelo que se aguarda a sua inauguração com expetativa. Trata-se de um edifício do século XIX, que era pertença de um militar. Os seus tectos, os vidros e a presença de arte nova marcam este património.

A vila vai crescendo a partir do castelo, com ruas estreitas, tipicamente medievais e mais antigas. Avança-se pela Rua Nova. Crê-se que esta seria a judiaria de Abrantes, um espaço de segregação composto por pessoas de religiões diferentes e estavam condicionadas e juntas no mesmo espaço.

Na extremidade de um dos edifícios verifica-se o vestígio daquele que foi um dos primeiros cinemas de Abrantes, o Éden Salão. O cinema chegou no início do século XX, e fazia-se nas feiras com exibição pública com projeção num lençol branco como tela. Depois começaram a construir espaços para cinema “meio abarracados”. A Misericórdia também fez um espaço de cinema, conhecido como o Chapas, porque tinha uma cobertura de chapa e quando chovia fazia tanto barulho que quase não se ouvia o som do filme.

7. Largo da Ferraria, Igreja de S. Vicente e o marco que todos chamam de pelourinho

Igreja de São Vicente em Abrantes. Créditos: CMA

As ruas costumam estar associadas a profissões, espaços comerciais ou manufaturas lá existentes. Neste largo verifica-se altaneira a Igreja de São Vicente, uma das grandes igrejas de Abrantes, a par da de São João, sendo as catedrais da cidade. As duas igrejas terão tido instalação medieval, tendo sido encontradas sepulturas e elementos do Adro Velho de S. Vicente.

No século XVI, com arquitetura mais maneirista, fazem as duas igrejas que se observam aos dias de hoje. O Adro de S. Vicente foi alargado em meados do século, tendo a autarquia adquirido as casas que estavam junto da igreja e construíram os muros e a escada existentes.

No Largo da Ferraria existe o marco do triplo centenário – “a que as pessoas chamam erradamente de pelourinho”, segundo José Martinho Gaspar. Uma obra que existe em muitas cidades e vilas, e que se trata de propaganda do Estado Novo. Em 1940, na II Guerra Mundial, Portugal não participa e o Estado Novo aproveita isso para fazer este tipo de propaganda, colocando os marcos centenários com datas que não são muito precisas: 1140 como o ano da fundação, 1640 como o ano da Restauração e 1940.

Em termos de mercados, o comércio fazia-se nestas praças e largos públicos, sendo que em Abrantes se fazia no Jardim da República, o então Rossio, ou no Alto de Santo António, junto ao Edifício Pirâmide. No século XIX havia um mercado no Largo da Ferraria onde se vendia peixe, carne e vísceras de animais “porque era um sítio onde passava muito vento e fazia com que as moscas não parassem e não poisassem sobre a carne e o peixe”, conta o historiador a título de curiosidade.

8. Rua Maria de Lourdes Pintasilgo, a antiga Rua do Brasil e dos Oleiros

Avançamos pela antiga Rua do Brasil e dos Oleiros, atual Rua Maria de Lourdes Pintasilgo, abrantina nascida a 18 de janeiro de 1930 em Abrantes. Foi a primeira mulher a assumir os cargos de secretária de Estado, ministra e primeira-ministra, tendo sido igualmente a primeira mulher a candidatar-se à Presidência da República.

Viveu em Abrantes até aos 12 anos e o seu percurso começou a diferenciar-se quando se formou em Engenharia, durante os anos 50 do século XX. Ligada aos movimentos internacionais estudantis católicos e à defesa dos direitos das mulheres, entrou na vida política antes da Revolução do 25 de abril 1974. Morreu a 10 de julho de 2004.

Nesta rua que agora tem o seu nome, consta a casa em que nasceu, a aguardar a sua reabilitação. José Martinho Gaspar crê que merece um dia vir a ser Casa-Memória desta figura feminina ímpar.

Esta rua é perpendicular à emblemática Travessa do Tem-Te Bem, também uma rua medieval, onde o comércio se fazia e onde hoje não passa o trânsito automóvel, mantendo um traçado ancestral.

Maria de Lourdes Pintasilgo, ligada ao movimento feminista e ao catolicismo social, “é uma figura de referência não apenas portuguesa, mas internacional”.

9. Praça Raimundo Soares Mendes, a Praça do Município

Chafariz na Praça Raimundo Soares Mendes com o edifício da Câmara Municipal em pano de fundo. Créditos: CMA

Este é conhecido como o Largo da Câmara, tendo um conjunto de patrimónios interessantes, desde logo a a antiga Casa da Câmara, onde existem referências do século XIII e XIV, mas a estrutura atual é mais tardia. Só no século XVII assumiu as caraterísticas atuais, com três pisos e com varanda no terceiro piso e parte inferior que eram designadas lojas, porque era um espaço comercial. As reuniões aconteciam no último piso.

No século XVII é construída a torre do relógio, sendo que era a padronização e marca do tempo, com as pessoas a guiarem-se pelos relógios públicos.

Consta ainda o edifício pombalino com águas furtadas que é do século XVIII, que era o Paço Real, para quando o rei vinha a Abrantes, nomeadamente D. Manuel I, ali se instalaria. Chegou a ser um dos primeiros colégios do século XX do secundário na cidade.

Também o Edifício Falcão se destaca, como sendo do século XIX, que pertencia a uma família rica de Abrantes e a Câmara acabou por adquirir. Era da família Soares Mendes e depois passou para a família Sousa Falcão.

Instalou-se no edifício uma filial dos Armazéns do Chiado, que mostra uma presença importante em termos comerciais a partir dos anos 40 e 50.

Foto: CMA

No meio da praça está uma referência das esculturas que se encontram na envolvente, da autoria de óscar Guimarães. Tratam-se de obras que retratam alguns elementos culturais da vila e da cidade. O caso do chafariz.

A questão do abastecimento de água em Abrantes não era fácil, pois pela sua localização tornava difícil o acesso à água potável e de nascente, ou mesmo para outros fins. Nesse sentido existiam muitas cisternas, seja em casas ou edifícios públicos, e o chafariz faz a evocação à água, que a partir de 1891 passa a dispor da possibilidade de a partir da Casa da Água, em Vale de Rãs, de conseguir começar a abastecer a própria vila com umas máquinas a vapor, ao queimar lenha que vinha da zona norte do concelho e que fazia elevar a água para o castelo e depois era distribuída.

Durante muito tempo o abastecimento de água funciona durante muito tempo por gravidade dentro da vila, mas também na Rua Bernardino Machado, no próprio chão com a colocação de calçada portuguesa, há referência à água e à forma como corria e era encaminhada no centro histórico, em escorrência por ali abaixo.

Pausa para procurar as caixinhas que ainda existem na zona histórica, onde o guarda noturno passava e abria a tampa, rodando com a chave para se saber que tinha passado na rua. “Não havendo polícia eram os próprios comerciantes que pagavam e ele tinha de passar de tanto em tanto tempo”, esclarece.

10. Largo Ramiro Guedes e envolvência

Diz-se que vivia naquela zona o José Peres, empresário abrantino, com grandes suíças e que levou a que Rafael Bordalo Pinheiro se inspirasse para criar a figura do Zé Povinho. Consta que um dia se cruzaram em Lisboa, e ao deparar-se com aquela figura, Bordalo Pinheiro entendeu que seria a imagem do homem tipicamente português. Chegou a desenhar a cara de José Peres no jornal, e este chegou a procurar Bordalo Pinheiro, causando algum receio ao artista, mas afinal este só queria agradecer o facto de ter inspirado e se ter transformado naquela figura emblemática que personifica a população portuguesa.

Largo Dr. Ramiro Guedes. Foto: CMA

Ali existe um painel que ilustra alguns dos momentos mais marcantes da cidade, no muro de pedra de cor antracite.

Ali se avista a calçada ondeada, que desenha a água que seguia encaminhada, em zigue-zague, no abastecimento de outrora. Mais abaixo, está a famosa Rua do Cano.

Subimos em direção à Rua Santa Isabel, recordam-se os diferentes espaços, desde barbearias, e dali recorda o historiador, com base numa foto antiga, a indicação de que passava um autocarro pequeno e havia uma faixa pendurada que dava indicação sobre a altura máxima dos veículos que ali podiam passar.

11. Rua Santa Isabel e o conceito Cidade Florida

O conceito Abrantes Cidade Florida foi sendo cultivado pelos moradores, sendo emblemáticas as fachadas e janelas com floreiras, vasos e flores de cores vistosas a destacar nestas casas típicas, pintadas de branco e com contornos a amarelo. Foto: mediotejo.net

A Rua Santa Isabel tem ainda as ‘medalhas’ afixadas nas paredes, com a indicação dos prémios em concursos que se faziam no âmbito da identidade Cidade Florida. As ruas floridas arrecadavam prémios em concursos nos anos 50/60 e ostentavam esses títulos com orgulho.

12. Igreja de São João e Igreja da Misericórdia

Igreja de São João Baptista, em Abrantes. Créditos: CMA

A igreja de São João, tal como a de S. Vicente, complementam as paróquias abrantinas. Integrada no estilo maneirista, com percurso idêntico à de S. Vicente, tem no seu interior algumas diferenças e especificidades, nomeadamente nos altares e elementos. Esta igreja tem o Senhor Jesus do Capítulo que estava na Igreja do antigo Convento de São Domingos onde é hoje a Biblioteca Municipal. Isto porque os antigos conventos foram extintos e acabaram os bens para passar para privados, outras igrejas ou para a Câmara Municipal.

Apesar de estarem maioritariamente fechadas, só reabrindo para as celebrações, o historiador frisa que há possibilidade de visitar estes patrimónios em articulação entre o serviço de turismo e a paróquia local.

Ali ao lado consta a Igreja da Misericórdia, um espaço que merece visita e que pertence à Santa Casa da Misericórdia de Abrantes, no Largo Motta Ferraz, em frente aos Correios.

Trata-se de uma igreja do século XVI, junto ao espaço onde existia o antigo Hospital do Salvador. Foi construída e edificada, tendo alguns elementos distintivos, caso do Altar-mor e o retábulo de talha dourada do século XVIII. Também as tábuas sobre a vida de Jesus Cristo, que serão de Cristóvão Lopes, denominado Mestre de Abrantes, e sendo referência estão dispostas de modo mais fiel ao original.

Também a Sala do Definitório com a mesa redonda, a azulejaria e as obras de Misericórdia, encerram elementos que tornam o espaço muito curioso e único a nível nacional.

Tem ainda um portal, na lateral, que evoca a fundação da Misericórdia, com o rei e rainha, além do pelicano associado à ideia de caridade – a ave que em caso de fome tira pedaços da sua carne para dar às suas crias.

13. Jardim da República, o antigo Rossio

O Jardim da República era o antigo Rossio da vila, espaço comercial por excelência e de encontros das pessoas. Até ao século XIX foi um espaço com papel fundamental, desde questões comerciais aos primeiros espetáculos de cinema. Na altura seria um terrado de feira, e foi evoluindo ao longo do século XX, tendo tido um coreto na zona central.

Tem forte ligação à presença militar, porque o Convento de São Domingos começou a receber tropas e era ali que se faziam as paradas militares e juramentos de bandeira – algo que ainda hoje acontece.

Em 1940 é instalado o monumento aos mortos da Grande Guerra, de Rui Roque Gameiro. Trata-se de um monumento que começou por ser pensado para o Outeiro de São Pedro. Foi evoluindo, sendo que as figuras no topo chegaram cedo a Abrantes, em 1931, estiveram nove anos à espera da decisão sobre o sítio onde seriam colocadas.

O espaço está igualmente ligado a dois conventos que ali existiram: o Convento de São Domingos onde está instalada a Biblioteca Municipal António Botto e o MIAA (Museu Ibérico de Arqueologia e Arte) e o Convento da Graça (atual Escola Superior de Tecnologia de Abrantes).

Ambos são instalados no século XVI no centro da cidade, sendo que o Convento de São Domingos era masculino, enquanto o da Graça era feminino, estando associados nomeadamente aos doces conventuais e em particular à confeção da Palha de Abrantes.

Até que morra a última freira o Convento da Graça esteve aberto, até final do século XIX, sendo que só depois é demolido.

Já o Convento de São Domingos começa a ter uma ocupação militar mais cedo, ainda com presença dos frades. Passa a ser até hospital militar. No século XX, o Regimento de Infantaria 2 instala-se ali e seguem dali tropas para a I Guerra Mundial. Na segunda metade do século XX é adquirido pela Câmara Municipal e acaba por ter função sobretudo cultural, sendo que ali se faz exposição dos Mestres de Abrantes e de Sardoal, fazem-se as Jornadas Culturais e instalam-se algumas associações. Surge depois a Biblioteca Municipal e mais recentemente o MIAA.

14. Praça Barão da Batalha, Assembleia de Abrantes e Montepio Abrantino

Chegados à Praça Barão da Batalha, tempo para recordar a Praça da Palha de Baixo, nome pelo qual era conhecida. Associado ao comércio da palha, sendo que o Largo Ramiro Guedes era a antiga Praça da Palha de Cima.

A negociação da venda da palha para Lisboa era negociada na Praça Barão da Batalha e no Largo Ramiro Guedes, sendo que ambas eram praças importantes para encontro da sociedade abrantina.

Entre outros espaços na envolvente, caso do Café Pelicano, um café central dos anos 60 e que durou até final dos anos 80. É uma referência em termos de espaço de tertúlia e polo cultural. O edifício era casa do Capitão-Mor.

A seguir, o edifício amarelo, a Assembleia de Abrantes, do arquiteto Raul Lino, de referência no século XX, cujo busto se encontra numa estátua ali ao lado. Esteve ligado à revolução em termos arquitetónicos no Estado Novo.

A Assembleia era uma associação onde a burguesia local se reunia, sendo que não é única que é obra deste arquiteto, existindo outras casas com traça da sua obra.

José Martinho Gaspar entende que seria justo criar-se um percurso que dê a conhecer a arquitetura de referência em Abrantes, com importância em termos locais.

Ao lado, o edifício do Montepio Abrantino Soares Mendes – Associação de Socorros Mútuos. É uma associação de meados do século XIX, de 1856.

Uma associação que fazia sentido em termos de assistência naquela altura, para auxiliar os mais necessitados. As instalações proporciona aos associados uma série de consultas médicas e meios de apoio social que de outra forma a população não teria. Na altura, a simples entrega de um medicamento era uma coisa complexa de fazer.

Os associados, segundo o historiador, vinham receber mensalmente um frasco de álcool. “Era um desinfetante a que as pessoas não tinham acesso”, conta.

De frente à Praça Barão da Batalha a Rua de Nossa Senhora da Conceição, que vai em direção a uma das entradas/saídas da cidade no sentido sul. Tinha muitas estalagens e é uma rua que tinha muita presença pela Garagem dos Claras, sítio de partidas e chegadas de autocarros, antes de ser criada a Rodoviária Nacional e antes da transformação em termos de transportes.

Seguindo esse caminho, a certa altura o Largo 1º de Maio, junto ao Tribunal, e que encerra as imagens do 1º de Maio de 1974, quando se dá uma grande manifestação que encheu a rua para celebrar essa liberdade. “Acaba por assinalar a transformação de uma Abrantes tradicional, num tempo diferente”, refere o historiador.

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O percurso poderia continuar, e ser feito de forma circular, apesar de termos optado por um passeio mais curto, mas que desse relevo a pontos históricos e património relevante que se funde com a história da cidade, guiado por quem sabe.

Outro ponto de interesse seria o Alto de Santo António, onde a vista é também interessante sobre o centro histórico da cidade, contando com a torre de telecomunicações – imagem de marca de Abrantes – e junto ao Hotel Turismo, a antiga Casa de Saúde, e tantas outras infraestruturas que foram surgindo ao longo do século XX.

Prolongando o percurso, seguiria pelo Cine-Teatro São Pedro e fecharia no centro histórico. As opções são muitas, e há sempre a possibilidade de o fazer com o apoio do serviço de Turismo e Património da Câmara Municipal, podendo organizar-se visitas em grupo e partir num passeio com História, viajando no tempo e conhecendo mais sobre a identidade e a história da fundação da cidade.

Formada em Jornalismo, faz da vida uma compilação de pequenos prazeres, onde não falta a escrita, a leitura, a fotografia, a música. Viciada no verbo Ir, nada supera o gozo de partir à descoberta das terras, das gentes, dos trilhos e da natureza... também por isto continua a crer no jornalismo de proximidade. Já esteve mais longe de forrar as paredes de casa com estantes de livros. Não troca a paz da consciência tranquila e a gargalhada dos seus por nada deste mundo.

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1 Comentário

  1. O PROGRAMA VISITA GUIADA DESPERTOU MEU INTERESSE EM VISITAR ABRANTES. COMO PASSEI POR LÁ HÁ POUCO TEMPO, OBSERVEI QUE A CIDADE FICA NUMA ENCOSTA ÍNGREME O QUE NÃO DEVE FACILITAR A VISITA AOS MONUMENTOS EM GRUPOS DE PESSOAS COM MAIS DE 60 ANOS.ESSA É A MINHA DÚVIDA

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