Convidámos os responsáveis das bibliotecas municipais do Médio Tejo a fazerem as suas recomendações neste espaço de forma alternada, às segundas-feiras. “Meridiano 28”, de Joel Neto, é a sugestão apresentada esta semana por Margarida Teodora Trindade, da Biblioteca Municipal Gustavo Pinto Lopes, em Torres Novas.

Passe pela biblioteca… e boas leituras!

“Ah, os livros— suspirou Fitzhugh (…)
— Eram de meu pai. Deixou-me outras suas bibliotecas, uma delas inteiramente em português. Milhares de livros. Não leu um só, mas não ignorava o seu poder.” (p.35)

A partir desta citação podemos falar do livro todo. Deste livro de Joel Neto, que encerra dentro de si não outro livro, mas muitos outros livros.

Diria até que o móbil desta história é esse desafio de ser escritor, de construir realidades concretas a partir da literatura, de conseguir oferecer aos leitores essa tridimensionalidade imaginária.

Joel Neto fá-lo com mestria nos seus livros e MERIDIANO 28 é disso paradigma. Exemplo evidente são as características que empresta às suas personagens, conseguindo essa proeza mágica de quase lhes adivinharmos a voz ou de as podermos olhar nos olhos.

Há neste romance inúmeras referências à literatura, música e cinema. Aparecem-nos vivos ícones de época que nos transportam para cenários de filmes antigos, onde os amores de guerra nos chegam pela expectativa de avistar, ao longe, Clark Gable ou Mitzi Mayfair.

A abundância de referências é uma âncora ao longo da obra, não tratasse o livro também de Literatura e do ofício da escrita. Menções explícitas a Charles Dickens, Pearl S. Buck e ao próprio Saint-Exupéry, que entra como personagem, a partir de factos reais, são apenas alguns exemplos. Alude-se também a Nemésio, Vitorino, evocado, inevitavelmente, com o seu “Mau Tempo no Canal”.

Da leitura, e logo desde o início, fica no ar essa pergunta tão inquietante: o que é a literatura e que poder é, afinal, esse, o dos livros? Pergunta essa que me pareceu coser toda a narrativa a partir do fio condutor que são as palavras de Joel Neto.

Depois, entram em força, neste livro, a História, a Geografia — a geoestratégia — também a Ciência, as viagens, os territórios, as ilhas dos Açores.

A enlaçar tudo isto, Joel Neto coloca o Homem, e nele a Humanidade: o amor, a amizade, a alegria, a tristeza, o nascimento, a morte.

Prevalece, afinal, o que fica da História dos homens como legado maior, a Memória.

Em suma, e quanto ao livro (sem querer dele desvendar mais), haverá lugar melhor para falarmos dele do que numa biblioteca, lugar de conhecimento e de memória?

É, pois, exatamente por isto, mas não só, que o escritor estará em Torres Novas, nesta biblioteca municipal, no próximo dia 8 de outubro, a falar deste e de outros livros seus. Um regresso à terra que já o acolheu em tempos idos.

Passe pela Biblioteca Municipal Gustavo Pinto Lopes no próximo dia 8, pelas 21h30, e leia este arrebatador Meridiano 28, de Joel Neto.

Diretora da Biblioteca Municipal de Torres Novas

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *