Os responsáveis das bibliotecas do Médio Tejo fazem recomendações de leitura no nosso jornal todas as semanas. “Em fevereiro celebre o amor!” é a sugestão hoje apresentada por Sónia Lourenço, da Biblioteca Municipal António Botto, em Abrantes, que retoma a iniciativa de contar histórias ao telefone. Ligue-se à biblioteca… e boas leituras!

Na sugestão de leitura de hoje recomendo um tema e, a partir desse tema, sugiro livros. Fevereiro celebra o amor e este é o tema que pretendo abordar.

amor é um tema recorrente e intemporal na literatura portuguesa e na literatura mundial e tem sido tratado, ao longo do tempo, em diferentes géneros e formas, sempre de forma distinta. O assunto acaba por se repetir e reinventar. A visão, a representação e a interpretação do amor na literatura varia de acordo com cada época, com cada corrente literária e, claro, com cada autor.

De amor se fez um mundo de romances, histórias e canções, da poesia trovadoresca, às cantigas de amor e de amigo, dos romances de cavalaria à literatura contemporânea.

Quem leu os clássicos conhece os melhores e incontornáveis romances de amor. Quem não leu, ainda está a tempo de ler. 

Guerra e Paz, de Liev Tolstói, é o clássico dos clássicos, no que ao amor diz respeito, o melhor romance de sempre, no amor e na guerra. Anna Karenina é uma das maiores histórias de amor da literatura mundial, um pungente e arrebatador romance, também, deste autor. 

Romeu e Julieta, de William Shakespeare, é o ícone intemporal do amor romântico, universalmente reconhecido. Tristão e lsolda é a história lendária dos dois amantes da Cornualha, cujo amor se prolonga para lá da vida, consumando-se simbolicamente numa “silva verde e folhosa”, sempre renovada, que nasceu na campa de Tristão e foi mergulhar na campa de Isolda.  

Quem se lembra de Lolita, de Vladimir Nabokov? E de O vermelho e o negro, de Stendhal? E de Ligações perigosas, de Choderlos de Laclos? E de Madame Bovary, de Gustave Flaubert? Já leram Margarita e o Mestre, de Mikhail Bulgákov? 

O amor entre Baltasar e Blimunda é um dos pontos que sustentam O memorial do convento, um dos mais elogiados romances de José Saramago. Amor de Perdição é o título da novela do escritor português Camilo Castelo Branco, uma das mais importantes durante a fase do Romantismo em Portugal e uma das mais eternas histórias de amor da literatura portuguesa. Dá ênfase ao romance proibido de Simão Botelho e Teresa de Albuquerque e é um apelo à liberdade do amor contra as exigências sociais do século XIX. Já Os Maias, de Eça de Queirós, é uma crónica de costumes, retrata e crítica a sociedade lisboeta da segunda metade do século XIX, dando relevo aos amores incestuosos de Carlos da Maia e Maria Eduarda. 

Na poesia, e ao que ao amor importa, destaco o nosso António Botto, com Canções, e Fernando Pessoa, com toda a sua obra poética, dois génios de toda a nossa literatura. Evidencio o eterno Luís Vaz de Camões, com Sonetos e Sonetos amorosos. Saliento Sonetos, de Florbela Espanca, A invenção do amor e outros poemas, de Daniel Filipe, e Obra poética, de David Mourão-Ferreira. Ressalto, ainda, Pablo Neruda, Octávio Paz e Carlos Drummond de Andrade, com os mais belos poemas de amor de todos os tempos.

Álvaro de Campos foi um dos heterónimos de Fernando Pessoa, considerado um dos nomes mais importantes da poesia e da crítica literária portuguesa. Pioneiro do modernismo em Portugal, o poeta escreveu sobre inúmeros temas, incluindo o mais universal de todos: o amor. «Todas as cartas de amor são ridículas. Não seriam cartas de amor se não fossem ridículas.» E por falar em cartas de amor, quem se recorda de Cartas de amor de Fernando Pessoa a Ofélia Queiroz?

Recomendo, vivamente, a leitura de uma das mais belas peças da literatura epistolar universal, Cartas portuguesas, de Soror Mariana Alcoforado. Um belíssimo testemunho de um amor impossível entre uma freira de Beja, cuja vocação foi posta à prova, e o cavaleiro francês Noel Bouton, marquês de Chamilly, que estava em Portugal com as suas tropas, envolvido na guerra da Restauração.

Ao que à literatura infantojuvenil concerne, os livros O Gato Malhado e a Andorinha Sinhá, de Jorge Amado, Olga e Cláudio, de Mário Cláudio e O sapo apaixonado, de Max Velthuijs, ilustram que não há amores impossíveis e que o universo fantástico de fadas, bruxas, príncipes encantados e princesas maravilhosas possibilita criar e reproduzir fantasias amorosas.

E dando continuidade ao tema do amor

O amor nos tempos de cólera, de Gabriel García Márquez, cujo enredo foi inspirado na paixão proibida vivida pelos pais do autor, narra a paixão do telegrafista, violinista e poeta Florentino Ariza por Fermina Daza. Guia para um final feliz é o romance de Matthew Quick que nos apresenta o casal de protagonistas Pat Peoples e Tiffany Webster. Carol é o romance que Patricia Highsmith publicou originalmente, devido à sensibilidade do tema, sob o pseudónimo de Claire Morgan, em que se quebram estereótipos e se explora um amor (então) proibido entre Therese Belivet e Carol Aird. Nick e Amy Dunne formam um casal desavindo no celebrado thriller psicológico de Gillian Flynn, Em parte incerta. Revolucionary road é o romance de Richard Yates que expõe o casal Frank e April Wheeler. No elogiado romance de F. Scott Fitzgerald, O Grande Gatsby, Jay Gatsby e Daisy Buchanan vivem um romance marcante. Emily Brontë, no seu único romance, O monte dos vendavais, explora a relação de Heathcliff e Catherine Earnshaw, um amor rejeitado com consequências trágicas. No curioso relacionamento entre Elizabeth e Mr. Darcy reside o principal foco de interesse desta clássica história de amor de Jane Austen, Orgulho e preconceito, uma das obras mais aclamadas da literatura inglesa. O primeiro romance publicado por Nicholas Sparks, Diário da nossa paixão, dá-nos a conhecer o amor entre Noah Calhoun e Allie Hamilton. As pontes de Madison County, de Robert James Waller, revela-nos a história apaixonante e profundamente comovedora de Robert Kincaid, fotógrafo famoso, e de Francesca Johnson, mulher de um agricultor do Iowa. E O Corcunda de Notre Dame, de Victor Hugo, aborda as diferentes facetas do amor, da possessão ao amor ideal e puramente afetuoso.

Muitas mais sugestões poderiam ser apresentadas, mas, de momento, fico por aqui. Espero que tenha ‘aguçado o apetite’ para boas leituras!

Neste contexto, tendo como mote o amor e à volta desta bibliografia sugerida, a Biblioteca Municipal António Botto, em Abrantes, retoma a iniciativa de contar histórias ao telefone. 

“Uma história só para si!” é a atividade que a Biblioteca Municipal António Botto promoveu, pela primeira vez, no passado mês de dezembro, mas que, devido ao sucesso e adesão que teve, foi retomada no dia 8 de fevereiro. Os interessados em ouvir uma história contada ao telefone, deverão inscrever-se através do número 963 827 939, nos dias úteis, entre as 10h e as 14h, e escolher a melhor hora para escutar as palavras que preparámos. Esta atividade dirige-se a todas as pessoas, dos 0 aos 100 anos, que gostem de ouvir histórias e irá decorrer de terça-feira a sexta-feira, das 10h às 12h e das 17h às 21h, até dia 26 de fevereiro. Cada história a contar será uma surpresa, mas como este mês de fevereiro celebra o amor, a Biblioteca António Botto tem as mais bonitas histórias de amor para oferecer. À distância de uma chamada, oferecemos uma história, um conto, um poema, uma carta de amor… para si ou para oferecer a alguém!

Coordenadora do Serviço de Bibliotecas de Abrantes / Biblioteca Municipal António Botto

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