Convidámos os responsáveis das bibliotecas municipais do Médio Tejo a fazerem as suas recomendações neste espaço todas as segundas-feiras, de forma alternada. “A vida no campo”, de Joel Neto, é a sugestão apresentada esta semana por Margarida Teodora Trindade, da Biblioteca Municipal Gustavo Pinto Lopes, em Torres Novas.
Passe pela biblioteca… e boas leituras!
Trazer aqui um livro sobre o qual tanta gente ilustre já falou, não é fácil.
Assim como não é fácil fazer uma sugestão, sobretudo quando se trata de ir ao encontro de uma proposta para uma época em que a leitura pode (e deve) significar liberdade, viagens e descontracção.
Todavia, A vida no campo, de Joel Neto (Marcador, 2016), é um enorme exemplo de generosidade na literatura. Centrado na opção pessoal da mudança de vida da grande cidade para o campo, o autor relata-nos o quotidiano das coisas e das pessoas simples vivido na magnífica ilha da Terceira, nos Açores.
A partir de um território e de uma rotina onde se quis instalar, e que é sinónimo de bem-estar e de bem-viver, numa comunhão plena — ao ritmo de cada estação do ano — com as memórias, a terra, os cheiros, o clima, o mar, os afectos, os laços de solidariedade e de vizinhança, a gastronomia e a autenticidade — que é alimento constante daquela opção de vida tomada de forma consciente — Joel Neto alia a imensa generosidade da ilha à sua generosidade pessoal, colocada na escrita.
E o leitor ao ler este livro não sente outra coisa que não seja gratidão, quando não comoção, por conta das pequenas histórias narradas ou da descrição dos cenários para onde, levado pela leitura, se sente transportado. E vício. Cada história breve é lida de um trago. E acabando uma já estamos colados à seguinte e a este calendário que nos agarra ao livro onde o tempo lento da narrativa nos detém, sacia e apraz.
Ir de férias é também isto. É desacelerar, às vezes parar, ou mudar de vida, ou aceitar outros desafios quotidianos. É reaver a capacidade de, livres, nos deixarmos levar e, talvez dentro do necessário silêncio, ler.
A proposta que aqui deixo é então esta: passe pela Biblioteca Municipal Gustavo Pinto Lopes, faça o seu empréstimo, pegue neste livro e aceite viajar através dele aos Açores, até à Terceira. Descubra a autenticidade da Terra Chã e o Lugar dos Dois Caminhos e usufrua da tranquilidade das narrativas de Joel Neto e da capacidade, notável, de escrever — e bem — sem sobrancerias ou deslumbramentos acerca de um lugar deslumbrante.
E tenha umas boas férias.