É o médico de quem se fala em Ourém. Radu Anagnoste, 50 anos, filho de pai grego e mãe romena, tem criado em torno de si uma reputação de profissional dedicado e respeitado pelos pacientes. Profundamente interessado pela profissão, Radu faz jus ao grego de “Anagnoste”: o que procura conhecimento. Com 24 anos, veio a Portugal pela primeira vez com uma companhia amadora de teatro e encantou-se pelo país. Hoje dá consultas no Olival e em Fátima – e quem já foi tratado por ele pede que não se vá embora.

Quando um paciente entra no seu consultório tenta adivinhar-lhe a nacionalidade. Brasileiro? Não! Ucraniano? Também não. Grego de pai, romeno de mãe, uma vida a percorrer os dois países. Seguem-se de imediato dois temas de conversa: ou as ilhas gregas, destino turístico por excelência, ou o famigerado Euro 2004 de futebol. Parece que ainda não se superou a derrota…

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Filho de pai grego e mãe romena, Radu conheceu Portugal quando tinha 24 anos e apaixonou-se pelo país

Radu Anagnoste comenta as conversas entre risos, referindo que os gregos também adoram futebol. Homem encorpado, de olhos claros, facilmente é confundido com um dos muitos habitantes de Leste que vivem em Ourém. É mais um dos médicos estrangeiros que dão consultas no município e que vieram ocupar as vagas deixadas nas extensões de saúde do território. Radu dá consultas no Olival, em Ourém e na Clinifátima, entre outros serviços em Lisboa. É o médico que não pára, que quer sempre fazer mais e melhor, e não abdica do utente sem perceber o que de facto ele tem e para onde deve ser encaminhado.

Comentamos que gosta de trabalhar. Ele sorri, refere que é assim que vê a sua profissão.

A dedicação, lembra, herdou-a do pai, também médico, que atendia todas as pessoas no seu consultório, sem olhar à origem ou às possibilidades. “Quando uma pessoa vai ao médico quer saber o que tem e às vezes sai-se pior que o que se veio”, comenta. Sublinha de seguida que este é o seu estilo, que há médicos menos faladores que são excelentes profissionais. “Mas nestes meios pequenos as pessoas querem perceber o que têm. É uma forma simples de estar”.

Nascido na Roménia, foi viver com três anos para a Grécia, voltando ao país materno parar tirar medicina. À Grécia regressará anos mais tarde, para se formar em Gestão de Empresas. Quando tentou uma primeira estadia em Portugal, em 2004, ainda iniciou um curso de Estatística, mas acabou por abandoná-lo. Está a tirar uma pós-graduação em medicina do trabalho. Explica que, hoje em dia, o estudo da medicina é sobretudo molecular e que a Estatística, por exemplo, foi uma forma de tentar ir ao encontro de métodos esquecidos da investigação médica. “É a tentação de aprender e aprofundar mais certos conhecimentos”.

Radu é um apaixonado pelo conhecimento e, talvez por isso, por Portugal. Foi em 1992, no âmbito de um festival de teatro estudantil em Almada, que veio a Portugal pela primeira vez. “Adorei!”, sintetiza, referindo que percorreu Lisboa e a costa portuguesa, voltando todos os anos para passar férias. Após a primeira tentativa de residência definitiva, em 2004, regressou em 2011, já com família formada. “Não foi por causa de dinheiro, foi mesmo porque gostava”, tenta explicar, referindo que na Roménia ou na Grécia também teria conseguido viver sem problemas. “É impressionante como um país tão pequeno tem uma história tão grande! Gostei da culinária, todos os anos engordava 4 a 5 quilos”, recorda, salientando que não há conversa entre portugueses que não acabe ao redor da mesa. “O mar dá-me qualquer coisa, a montanha outra coisa. É um pouco de tudo, preencho cada canto com um pouco de tudo”.

As equivalências não foram difíceis. Sendo grego, apenas teve que fazer um exame de português. A língua é semelhante ao romeno, dada a origem latina, pelo que rapidamente estava a trabalhar como médico de medicina geral e familiar, primeiro em Lisboa, depois gradualmente em Ourém.

Pedimos-lhe que compare o sistema médico português com o grego, por exemplo. Explica que são sistemas diferentes, salientando que em Portugal se aposta mais na formação contínua dos profissionais de saúde. Da Grécia vai ouvindo notícias, sente-se preocupado, assim como com Portugal. Estava para visitar o país natal no Verão, mas aconselharam-no a não ir, dada a falta de liquidez dos bancos. Sente falta das grandes azeitonas gregas e lamenta que não haja um restaurante típico nas redondezas.

Perguntamos-lhe se conhecia o Santuário de Fátima, responde que sim, que é cristão, não muçulmano. Rapidamente explica que na Grécia, dado os muitos anos de domínio turco, ainda se incute muito nos jovens o rancor contra a Turquia e os muçulmanos. Não concorda, salientando que certas coisas devem ser esquecidas para que a paz possa prosperar.

Gosta do concelho de Ourém, que fica perto de Lisboa e possui uma grande comunidade de imigrantes. “Há um movimento turístico fantástico, numa zona que, não sendo industrial, tem muito bom ambiente”, constata.

Terminamos a conversa com um pastel de Fátima. Radú sussurra:

– “Sou do F.C.Porto.”

– “Olhe que isso lhe vai trazer inimizades…”

– “Foi a equipa portuguesa que mais jogos assisti lá fora… Mas reconheço, o Benfica é o clube com mais gregos.”

Cláudia Gameiro, 32 anos, há nove a tentar entender o mundo com o olhar de jornalista. Navegando entre dois distritos, sempre com Fátima no horizonte, à descoberta de novos lugares. Não lhe peçam que fale, desenrasca-se melhor na escrita

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3 Comentários

  1. Realmente este médico é um profissional exemplar, já fui assistida por ele várias vezes assim como a minha família e sou-lhe muito grata. Sei que o que faz é por amor á sua profissão, mas também sei que é dificil encontrar profissionais assim. Espero que fique por cá muitos anos, que seja muito feliz em Portugal com a sua família e tenha muito socesso na sua vida profissional. Bem haja dr. Radu.

  2. Já acompanhei o meu pai numa consulta dele e pareceu-me ser bom profissional. Interessado e dedicado aos pacientes.

  3. Sem dúvida é um bom profissional muito empenhado pelo paciente. Só tenho bem a dizer e a agradecer. E como pessoa é gentil. Obrigado D. Por tudo até breve comprimentos. Celeste Costa 👍

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