Cerimónia pela Paz na Ucrânia, com alunos de Fátima. Créditos: CEF

O Centro de Estudos de Fátima (CEF) reuniu na sexta-feira, 25 de fevereiro, os seus alunos e de restantes instituições de ensino da cidade para, no átrio da escola, realizar uma “Cerimónia Pela Paz” na Ucrânia. Além de várias intervenções e de momentos simbólicos das crianças, como a entrega de cartas que serão encaminhadas para as embaixadas da Ucrânia e da Rússia, falou uma representante da comunidade ucraniana do concelho de Ourém.

O CEF acolhe desde há vários anos uma escola ucraniana, que funciona aos fins de semana, além de acolher 15 estudantes naturais daquele país. A proximidade a esta comunidade e os valores de solidariedade da própria instituição escolar estiveram na origem deste momento simbólico.

Cerimónia pela Paz na Ucrânia, com alunos de Fátima. Créditos: CEF

A cerimónia começou com a leitura de uma mensagem à paz em várias línguas, proferida pelos alunos do CEF e do Externato São Domingos. Interveio de seguida o diretor do CEF, Manuel Bento, constatando a “tristeza” pelos acontecimentos recentes na Ucrânia. “Nada justifica o sofrimento dos nossos alunos com família na Ucrânia”, refletiu, mostrando-se solidário tanto com ucranianos como com o povo russo, que vê os seus homens partirem para uma guerra “irracional” e “cínica”, que “só pretende perpetuar o poder instalado”. 

Vários estudantes entregaram cartas que serão encaminhadas às embaixadas envolvidas no conflito Foto: mediotejo.net

Falaram também o presidente da Assembleia Municipal de Ourém, João Moura, e o presidente da Câmara Municipal de Ourém, Luís Albuquerque, ambos manifestando a sua solidariedade com as vítimas da guerra e desejando que Fátima, como “cidade da paz”, possa dar com este momento simbólico um sinal para o mundo. 

O CEF disponibiliza há vários anos o seu espaço para uma escola ucraniana e tem vários alunos do leste europeu Foto: mediotejo.net

O mesmo sentimento em relação aos valores de Fátima foi assinalado pelo Reitor do Santuário de Fátima, Padre Carlos Cabecinhas. “A guerra não é solução, é sempre um problema”, frisou, salientando que o momento exprimia uma recusa da “indiferença”. “Só a paz é solução. Obrigada pelo vosso testemunho”, concluiu.

Na cerimónia falou ainda Tetyana Olsheuska, apresentada como a representante da comunidade ucraniana a residir no concelho de Ourém (cerca de 460 pessoas, segundo o presidente Luís Albuquerque). “Ontem de manhã eu acordei não com o despertador. Ligou a minha mãe. Ela chorava e gritava: ‘Oh filha, guerra, guerra…'”, lembrou. “Para nós é muito importante saber que o mundo democrático está do nosso lado”, frisou, manifestamente emocionada. “Vamos continuar a lutar. Glória à Ucrânia e viva Portugal.”

Em declarações aos jornalistas, Tetyana Olsheuska mostrou-se agradecida pelo apoio que os portugueses estão a dar à comunidade ucraniana, nomeadamente estes momentos de solidariedade. “Estamos muito preocupados. Até onde isto vai?”, indagou. Os imigrantes em Portugal tentam contactar as famílias e já se encontram a decorrer recolhas de fundos, mas as comunicações estão difíceis, além de haver dificuldades em sair da Ucrânia.

Desfile de bandeiras, lideradas pela bandeira da Ucrânia, foi um dos momentos simbólicos da manhã Foto: mediotejo.net

Da parte dos mais novos, os jovens de origem ucraniana que falaram com o mediotejo.net vivem a situação de guerra com ansiedade e muito receio do que poderá acontecer às famílias, constatando o corte das comunicações e a degradação das condições de vida, nomeadamente com a falta de energia e de água.

“Estou um pouco nervoso por eles”, confessou Daniel Veselovsky, de 15 anos, explicando que acaba por viver a situação de forma distanciada.

“Os meus avós e primos estão todos na zona de combate. Não têm rede, o meu primo graças a Deus conseguiu fugir, o resto da minha família está por lá”, explicou Diana TovKan, de 15 anos, referindo que como a rede está sempre a cair é difícil ter mais informações.

Vários estudantes escreveram cartas de apelo à paz que entregaram durante a cerimónia e, segundo foi mencionado, vão ser enviadas às embaixadas envolvidas no conflito. No final soltaram-se pombas brancas.

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Cláudia Gameiro, 32 anos, há nove a tentar entender o mundo com o olhar de jornalista. Navegando entre dois distritos, sempre com Fátima no horizonte, à descoberta de novos lugares. Não lhe peçam que fale, desenrasca-se melhor na escrita

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