Só queríamos que a garota experimentasse a água gelada da nascente. Um bocado de sadismo paternal à mistura com a genuína vontade de ver aquele azul turquesa da piscina do Agroal e um mergulho de cortar a respiração para sufocar o calor de agosto. Havia uma fila de vários metros, cuja proximidade daria azo a amplas discussões sobre se as medidas de prevenção covid-19 não fazem, em certos casos, mais mal que bem. Ainda vimos quem contornasse sentidos proibidos. Ou se aventurasse por atalhos, rio adentro. No final, não chegámos a entrar. Tivemos de caçar com gato. Ou tomar banho à gato? Já vos explico.
Antes de sair de casa ainda espreitei o “Info Praia”. Eram 11h00 de domingo, dia 9 de agosto, e a lotação já era dada como esgotada. Vamos? Não vamos?… “Pode ser que esvazie um bocado e consigamos entrar, afinal é quase hora de almoço…”, pensei, com excesso de otimismo.
A bebé ainda não vira o Agroal. Ainda não sentira nos pezinhos aquela agressiva água fria que, diz quem sabe, faz pequenos milagres pela pele. Também já era tarde para ir até à costa e não valia muito a pena uma longa deslocação por meia hora de veraneio. Assim, lá fomos para o Agroal.
Ao contrário do que me questionaram cerca de três horas depois, no supermercado, ao recordar este episódio, “Não!, não é necessário ligar para a Câmara de Ourém para marcar lugar”. Basta aparecer. A lotação encontra-se nas 200 pessoas, mais banhista menos banhista. Há várias vedações colocadas, e na margem de Tomar o acesso está efetivamente proibido. Depois há uma tenda onde os funcionários municipais fazem o controlo das entradas e entregam uma pulseira de utilizador.

O primeiro sinal de que a viagem seria provavelmente em vão surgiu pouco depois de passarmos o Parque Natureza. A fila de carros já tinha quilómetros. Algo bastante normal no Agroal em agosto, mas que não convinha em tempo de pandemia. Ainda assim, tentou-se a sorte. O carro ficou já na margem tomarense, serra acima. Do topo via-se a piscina, com aquele azul de ilha paradisíaca que só conhecemos pelo cinema, de filmes como Os Piratas das Caraíbas.
Não parecia estar muita gente na zona vedada, em torno da piscina. O próprio tanque estava bastante vazio. “Onde estarão as pessoas todas destes carros?”, ainda indaguei, com alguma esperança que o pessoal por ali andasse sobretudo a passeio.
As pessoas estavam, afinal, na fila. Uma longa e densa fila. Uns com máscara, a família toda, outros sem máscara, também a família toda. Quase que se podiam escolher equipas. O distanciamento social era uma ilusão bem intencionada.
Mas, enfim, estamos aqui… O que fazemos?
A proximidade do meio dia apertava o calor e o rio convidava. Não me apetecia fazer o mesmo que alguns banhistas mais atrevidos, passando ao lado da barreira de acesso proibido de Tomar. Ouvira dizer que havia quem chegasse à piscina seguindo por dentro do rio, mas além de soar a ilegalidade, a água é gelada…
À saída, junto à ponte, avistámos uma pequena praia junto ao rio, com acesso livre. Uma dezena de pessoas estava ali ao sol, com as crianças a brincar entre as pequenas represas.
Vamos? Bem… é só meia hora…

Debaixo da ponte, onde o sol não apertava, e longe dos vizinhos, por ali nos deixámos ficar. Ainda vimos passar um carro da GNR, mas não nos constou que tivessem mandado dispersar ninguém.
“Ui, ai… pedras e mais pedras… Não dá para andar descalço. Por isso que não está aqui mais ninguém…”
A bebé adorou. A água fria é um incómodo relativo nestas idades. O pai também adorou. A mãe é que não gostou das pedras nem da bicharada. O Agroal era assim, há 30 anos, quando ali ia com a família, ao encontro de uma praia fluvial em estado puro. Há pelo menos uma década que a modernidade sanitária por aqui fez amplas intervenções. E é bom que assim seja. Sobretudo em tempos de viroses.
Saímos depois da dita meia hora. Continuava a haver fila, mas parecia mais pequena. As pessoas passeavam pela rua de acesso à praia fluvial, a maioria desistindo assim que se apercebiam do “engarrafamento”. A esplanada do café também estava composta.
De regresso ao carro, olhámos uma última vez para a paisagem paradisíaca, ao fundo.
“Isto é quase estar a meio do deserto e ver uma miragem. O oásis está mesmo ali, mas não podemos lá chegar…”