O Cardeal D. António Marto, que deixa na próxima semana o lugar de bispo da diocese de Leiria – Fátima, despediu-se da cidade religiosa no encerramento do Encontro de Hoteleiros, na quinta-feira, dia 3 de março. Um percurso de “glória e cruz”, como o definiu, que acompanhou o melhor e o pior momento do Santuário das últimas décadas: o Centenário das Aparições, com a visita do Papa Francisco e uma afluência recorde de fiéis a Fátima, e a pandemia de covid-19, que a deixaria deserta.
No seu discurso, António Marto chegou a emocionar-se e a deixar escapar algumas lágrimas ao recordar a missa que fez perante o recinto do Santuário completamente vazio, nas cerimónias de 13 de maio de 2020.
“É a última vez que vos falo como bispo responsável do Santuário de Fátima”, começou por referir aos hoteleiros presentes no Centro Pastoral Paulo VI, onde foram apresentadas as estatísticas e os dados económicos de 2019 a 2021. O Cardeal lembrou que inicialmente teve relutância em aceitar o cargo de bispo desta diocese, uma vez que era cético em relação ao fenómeno de Fátima. “Depois converti-me”, comentou, após uma reflexão em torno das Memórias da Irmã Lúcia. “Fátima estranha-se, depois entranha-se”, brincou.
O clérigo lembrou que quando chegou ao Santuário procurou repensar a dinâmica hsitórico-cultural de Fátima, apostando na internacionalização. Foi nesse sentido que convidou para as celebrações aniversárias bispos de todo o mundo, nomeadamente de Ásia, continente de que o Santuário se tem querido aproximar.
Após a visita do Papa Bento XVI, em 2010, começaria a pensar num percurso comemorativo de sete anos até ao Centenário das Aparições. “Foi um programa muito belo”, recordou, que incluiu uma dinâmica também cultural e artística.
“Foram sete anos empolgantes”, que procurou envolver desde as dioceses portuguesas aos vários países que visitaram a cidade neste período. “Culminou em 2017”, com os seus 9,5 milhões de visitantes estimados e a presença de representantes de 150 países. “Foi um momento inesquecível”, admitiu, “valeu a pena”, reconhecendo que tal lhe mostrou que Fátima é mesmo um “altar do mundo”.
Mas “a glória e a cruz andam juntas” e depois do pico do centenário veio a pandemia e as enchentes deram lugar a um Santuário completamente deserto, em maio de 2020. “Recordo esse momento doloroso”, comentou visivelmente emocionado, em que realizou a missa para um recinto de oração vazio. Porém, salientou, o “mundo estava unido a nós”. “Trazia sobre os meus ombros o peso do sofrimento da Humanidade”.
Em agosto último as multidões voltaram, embora ainda não ao nível dos números pré-pandemia, e espera-se uma retoma gradual. “É a minha hora de partida”, comentou, considerando que não se deve ficar agarrado a um lugar e sair no momento oportuno.
A intervenção do sacerdote foi concluída por uma intensa salva de palmas dos presentes.