Anita, capitã da equipa do Ouriense, tenta furar pela equipa do Sporting e chegar a baliza leonina. Foto arquivo: mediotejo.net

Olhar concentrado em campo, um sorriso discreto após o apito final. Entre o suor do treino e a roupa desportiva, permanecem visíveis os pequenos detalhes da feminilidade. Ana Filipa Santos, 26 anos, é a “Anita”, a capitã do equipa de futebol feminino do Clube Atlético Ouriense. Regressada aos treinos, é com satisfação que prepara uma nova época na Liga BPI, com todos os constrangimentos que a pandemia possa trazer. Anita é uma jogadora que quer a “bola no pé”. E não esconde a paixão de estar em campo.

O futebol deixou há muito de ser um desporto de homens. Pelo menos em Ourém. À medida que a equipa de futebol feminino do Clube Atlético Ouriense prepara o seu treino, depois de um forçado período de paragem, Anita destaca-se entre as demais. Não será a mais exuberante, nem tão pouco a mais atlética, é até um pouco mais baixa e franzina que muitas colegas. Mas é a capitã da equipa. A postura é discreta, mas afirmativa e a sua presença destaca-se entre as demais.

Anita é a capitã de equipa do Ouriense. Foto arquivo: mediotejo.net

Anita representa uma equipa que quer voltar a dar que falar, ainda que um primeiro lugar na Liga não esteja entre os objetivos, mais a mais tendo em conta a concorrência e o forte crescimento do futebol feminino em Portugal. Estar entre as melhores equipas do país e disputar a Liga BPI é um orgulho para estas mulheres, para Ourém e toda uma região.

Anita admite que prefere o futsal mas não esconde que ainda ambiciona uma carreira no futebol Foto: mediotejo.net

Cabelo comprido, atado em rabo de cavalo. As unhas, compridas e bem tratadas, embelezadas com um amarelo vivo, chamam inevitavelmente a atenção. Uma ou outra tatuagem também. Anita é uma atleta bonita, mas de espírito determinado. Parca nas palavras, sabe no entanto o que tem que dizer. Aprendeu a jogar à bola na rua, ainda criança, com amigos. Não houve papel de género que a intimidasse.

Noutra época, recorda, para as meninas poderem praticar futebol tinham que se misturar nas equipas existentes, formadas praticamente por rapazes. “Não era necessariamente mau”, reflete. Mas hoje há muitas equipas de formação só femininas.

Natural de Fátima, Anita começou aos 12 anos pelo futsal, através da equipa do Centro de Estudos de Fátima (CEF), que na época participava na distrital. Com 15 anos mudou-se para o Atlético Ouriense e para o futebol tradicional, não obstante durante um ano tenha tentado a sua sorte de novo no futsal, através do Centro Desportivo de Fátima.

Equipa vai lutar pela manutenção na Liga principal do futebol feminino Foto: mediotejo.net

Admite que prefere o futsal ao futebol. “É o tempo com a bola no pé”, procura explicar, “eu sou uma jogadora que gosta de ter muita vez a bola. Sinto-me bem no jogo é com a bola no pé. No futsal isso acontece muito mais vezes”.

A esperança de fazer uma carreira no futebol profissional ainda não desapareceu, mas Anita admite que já não é o seu objetivo principal e olha “o futuro de outra forma”. Licenciada em desporto natureza, trabalha como “personal trainer” e gosta do que faz, assim como da competição ao serviço do Atlético. “É realmente isto que gosto de fazer”, salienta, e “sinto-me bem a fazê-lo”.

Anita remata para grande defesa da guardiã de Vila Verde. Foto arquivo: mediotejo.net

No futebol “as coisas estão a mudar” e as mulheres desempenham o seu papel competitivo num desporto que até há bem pouco tempo consideraria a sua presença “impensável”. No entanto, constata a atleta, o futebol feminino português está ainda muito longe doutras realidades, como de Espanha ou nos EUA, onde possui uma predominância até superior à do futebol masculino.

“Vamos evoluindo”, reflete, constatando que o futuro da modalidade vai depender do caminho da Federação Portuguesa de Futebol e dos patrocinadores, atualmente ainda muito voltados para o futebol masculino.

Anita começa o seu dia às 06h30 e às 20h00 vai treinar futebol. A sua paixão desportiva não atrapalha a vida privada, já que o companheiro também é futebolista. “Damos-nos bem: ele joga ao sábado, eu jogo ao domingo. Eu vejo os jogos dele e ele vê os meus. Equilibra-se bem”, comenta, rindo.

Anita Santos, capitã de equipa do Ouriense. Foto: mediotejo.net

A pandemia é uma fonte de preocupação para a equipa, que não quer ser um foco de propagação, admite a capitã. Mas as atletas estão motivadas, afirma Anita, e querem voltar rapidamente à competição depois do gosto amargo com que se terminou a última época.

A equipa feminina de futebol do Clube Atlético Ouriense, a disputar a liga principal de futebol, apresentou-se no dia 1 de agosto, com um plantel praticamente fechado e várias caras novas. A jogar na zona sul da Liga BPI e com um orçamento de 90 mil euros/ano “histórico” para o clube, o objetivo é chegar aos quatro primeiros lugares da série, para assegurar desde logo a manutenção e depois disputar a fase final com o primeiro objetivo alcançado. Depois, bem, é desfrutar, evoluir e chegar o mais longe possível na tabela classificativa!

Ouriense marca e vence o Valadares por 2-5. Foto arquivo: mediotejo.net

Cláudia Gameiro, 32 anos, há nove a tentar entender o mundo com o olhar de jornalista. Navegando entre dois distritos, sempre com Fátima no horizonte, à descoberta de novos lugares. Não lhe peçam que fale, desenrasca-se melhor na escrita

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