Vila passou a cidade em 1991 mas continua com alguns problemas de crescimento, como diz em entrevista o presidente da câmara Luís Albuquerque Foto: mediotejo.net

Em 1991 era o seu pai, Mário Albuquerque, que se sentava na cadeira da presidência da Câmara. Este domingo, o atual presidente do município, Luís Albuquerque, vai celebrar os 30 anos de elevação de Ourém a cidade, de olhos postos no que gostaria que existisse em 2050. Em entrevista ao mediotejo.net, admite que Ourém não cresceu da melhor maneira ao longo das últimas três décadas, manifestando problemas estruturais de organização do território que lhe condicionam o desenvolvimento. As obras a decorrer no Castelo e em vários pontos da cidade, bem como o desenho de um novo plano urbanístico, pretendem alterar esta realidade.

Por estes dias, vive-se em Ourém um ambiente de celebração. A par das muitas obras a serem concluídas e inauguradas, a sede de concelho comemora os seus 30 anos de elevação a cidade. O município fez inclusive uma pequena imagem estatuária alusiva à data, distribuída pelas lojas da cidade que assim a desejassem exibir. A ideia foi um sucesso, tendo sido distribuídos mais de 175 exemplares.

O presidente da Câmara de Ourém, Luís Albuquerque, manifesta-se satisfeito não só com o programa celebrativo, como com a adesão da população a estas pequenas iniciativas promocionais. A cidade, admite, tem falta de população, um dos problemas que mais tem afetado o território. Criar mais emprego, habitação e uma maior ligação a Fátima são objetivos de futuro que estão nas prioridades deste executivo em final de mandato, mas já a pensar na reeleição.

O presidente Luís Albuquerque admite que a gestão de duas cidades tão diferentes como Fátima e Ourém é complicada. Foto: mediotejo.net

O que representam para si os 30 anos da cidade de Ourém?
É um marco importante da cidade. Quis o destino que fosse eu a presidir ao município na altura desta comemoração e obviamente temos procurado, dentro das nossas limitações e dos condicionalismos existentes, também a nível de pandemia, dar à cidade momentos diferentes – culturais, desportivos, de requalificações – que são importantes para o futuro da cidade e fazem com que as pessoas sintam orgulho de aqui viver. Esse é o objetivo também.

Este aniversário é de, alguma forma, uma homenagem ao trabalho do seu pai, Mário Albuquerque, que promoveu o processo de elevação de vila a cidade?
É verdade que há 30 anos era curiosamente o meu pai o presidente da Câmara Municipal de Ourém, mas a cidade evoluiu ao longo destes 30 anos com outros protagonistas, com outros executivos, que não do PSD e do CDS, como o Partido Socialista. Todos, tenho a certeza, procuraram fazer o melhor para que a cidade pudesse crescer e isso aconteceu.
Indiscutivelmente, hoje a cidade não é ainda a cidade que todos queremos. Mas é uma cidade muito mais moderna, mais preparada para o futuro do que era há 30 anos. Isso penso que é indiscutível.
Estamos muito empenhados em que isso possa continuar a acontecer. A cidade, se evoluiu – e é verdade que evoluiu nestes últimos 30 anos – tem aspetos que não evoluíram da forma que todos desejávamos para que pudesse hoje estar num patamar mais elevado em termos de desenvolvimento, em termos de qualidade, em termos de consolidação de cidade. É este trabalho que estamos a desenvolver que queremos continuar.

a cidade evoluiu ao longo destes 30 anos com outros protagonistas, com outros executivos, que não do PSD e do CDS, como o Partido Socialista. Todos, tenho a certeza, procuraram fazer o melhor para que a cidade pudesse crescer, e isso aconteceu

Esta elevação a cidade foi feita na premissa de que assim seria mais fácil caminhar para o progresso. O que é esta elevação permitiu, ou o que é que não teria surgido se não fosse uma cidade?
Não é uma pergunta fácil. O estatuto de cidade obviamente é diferente do de uma vila. Uma cidade geralmente é sinónimo de maior desenvolvimento, de maior proximidade aos serviços públicos, privados, saúde, educação.
Não sendo uma cidade de interior, longe disso, é uma cidade que está bem situada no país. O estatuto que temos de cidade permite-nos criar e atrair outro tipo de pessoas, de investimentos para o nosso território, que sendo vila possivelmente alguns poderiam não o querer fazer. Penso que tem mais a ver com isso. 
Nós enquanto cidade temos que procurar conseguir atrair esse tipo de investimento, esse tipo de pessoas. Na minha opinião, um dos problemas grandes que a cidade tem é a falta de gente a morar aqui. Isso impede-nos de ter um maior crescimento e uma maior oferta de alguns produtos. Os investidores hoje procuram lugares consolidados em termos de população para puderem melhor desenvolver os seus negócios.

Pegando na sua resposta, o que é que não está tão bem ao fim destes 30 anos de cidade?
Acho que falta à cidade um Plano de Urbanização. Um Plano de Urbanização hoje é feito precisamente para dar dimensão às cidades, para que possam crescer de uma forma sustentada, ordenada, mas com características em termos de desenvolvimento adaptadas a uma cidade.
Nós nestes 30 anos não conseguimos ainda ter um Plano de Urbanização. Estamos, como é sabido, numa fase final da sua elaboração, irá muito brevemente para consulta pública. Isso penso que é um aspeto fundamental para que possamos ter uma cidade diferente, mais consolidada. Trazer mais gente para a cidade, porque havendo um Plano de Urbanização poderá haver mais construção, poderá haver maior dimensão dentro da cidade.

A cidade, se evoluiu – e é verdade que evoluiu nestes últimos 30 anos – tem aspetos que não evoluíram da forma que todos desejávamos para que pudesse hoje estar num patamar mais elevado em termos de desenvolvimento, em termos de qualidade, em termos de consolidação de cidade.

Depois claro, há a questão das requalificações urbanas. A cidade de Ourém estava há muitos anos sem qualquer tipo de investimento. Temos alguns projetos em fase muito adiantada, um deles até vai à próxima reunião de câmara, que é o prolongamento da requalificação da avenida D. Nuno Álvares Pereira até ao viaduto do IC9, no sentido nascente, que irá permitir que toda a zona urbana da cidade possa crescer. São projetos importantes, entre outros que temos dentro da cidade.

A questão da população é então um problema que se mantém na cidade de Ourém?
É, sem dúvida. O concelho de Ourém é o maior concelho da Comunidade Intermunicipal do Médio Tejo. É o segundo maior concelho do distrito de Santarém. Mas se depois formos comparar Ourém com, por exemplo, os vizinhos Tomar e Torres Novas, o que verificamos? O concelho de Ourém tem 45 mil habitantes. Tomar tem 38 mil e Torres Novas 36 mil, sensivelmente. Tomar tem 20 mil sediados na cidade e Torres Novas tem 18/17 mil sediados na cidade. Ourém tem 45 mil habitantes mas apenas 7 mil sediados na cidade, o que é manifestamente pouco para aquilo que queremos e para a dimensão do nosso concelho.
Também fruto de erros do passado em termos de falta de planeamento, permitindo a dispersão que hoje existe no nosso concelho em termos de habitação. Isso obviamente condicionou a que as pessoas se pudessem concentrar mais na cidade de Ourém.
Voltando ao que disse há pouco: o Plano de Urbanização poderá ser muito importante para termos outro tipo de condições para atrair mais pessoas para a nossa cidade, porque poderá haver mais construção, mais apartamentos disponíveis para que as pessoas se possam instalar. É hoje um dos principais problemas da cidade de Ourém.

Luís Albuquerque com o filho, no primeiro dia do seu mandato como presidente da câmara, em 2017. Foto: mediotejo.net

Que evolução mais o orgulha, como presidente, nestes 30 anos de cidade?
Já não me recordo bem do que era a cidade há 30 anos. Mas hoje, por exemplo, temos um parque ribeirinho, o Parque da Cidade, que não tínhamos há 30 anos, que é muito utilizado por todos os ourienses. Inaugurámos há pouco tempo uma ampliação desse parque e queremos continuar a fazê-lo, estamos a trabalhar nesse projeto.
Não tínhamos o Mercado que hoje temos. Há 30 anos o Mercado era feito quase que nas ruas da cidade. Temos um Teatro Municipal, que há há 30 anos estava a ser inaugurado, o antigo cinema, hoje um Teatro Municipal totalmente renovado, adaptado às novas necessidades. Temos algumas vias requalificadas que não existiam no passado. Temos o edifício municipal totalmente renovado. Estamos a requalificar o jardim da cidade, que irá trazer uma nova centralidade, uma nova vivência para o centro, que não era intervencionado há quase 30 anos. Estamos a trabalhar para que as praças da cidade possam ter outro dinamismo. 
Uma situação que só recentemente conseguimos resolver foi começar a dotar zonas periféricas da cidade com saneamento básico. Portanto, toda uma série de situações muito diferentes que nos trazem mais modernidade, mais pujança do que aquela que tínhamos há 30 anos. 

nestes 30 anos não conseguimos ainda ter um Plano de Urbanização. Estamos numa fase final da sua elaboração, irá muito brevemente para consulta pública. Isso penso que é um aspeto fundamental para que possamos ter uma cidade diferente, uma cidade mais consolidada

Dentro do programa dos 30 anos, está a planear-se para novembro um congresso que pretende pensar a cidade para os seus 50 anos. Qual a sua perspetiva, para onde deve a cidade caminhar?
A cidade de Ourém sempre foi muito virada para o comércio. Queremos que isso possa continuar a acontecer, mas para isso é preciso dar mais qualidade de vida às pessoas que aqui queiram habitar.
Temos a questão do Castelo. No próximo 8 de julho iremos inaugurar a requalificação do Castelo e queremos com isso também atrair mais gente para a vila medieval. Aproveitando termos aqui perto Fátima, queremos reencaminhar muitos daqueles que vão a Fátima para Ourém e também para o Castelo, o que nunca foi conseguido. Iremos lançar uma forte campanha publicitária nas principais vias de comunicação do país, onde iremos promover não só Fátima mas também a vila medieval. Penso que a cidade de Ourém tem que caminhar muito nesse sentido. 
Depois temos a questão da consolidação da cidade. Fixar mais gente na cidade consegue-se com a criação de emprego. Emprego cria-se com empresas. Empresas criam-se com condições que as Câmaras possam dar para que haja a necessidade dessas empresas aqui se instalarem. Por isso a zona industrial de Casal dos Frades é também um polo importante de desenvolvimento da nossa cidade, porque complementa aquilo que queremos trazer para a nossa cidade, que é mais gente. Em termos gerais, é um pouco neste sentido que acho que devemos trabalhar para que a cidade possa continuar a crescer ao longo próximos anos, para que seja um polo de desenvolvimento ou agregador de toda a nossa região.

Foto: mediotejo.net

Fátima tem tirado vida à cidade de Ourém?
Todos nós sabemos que ainda existe esta diferença, se assim se pode dizer, entre Fátima e Ourém, e que por vezes não é fácil gerir estas duas realidades. Fátima obviamente tem tido um crescimento enorme e ainda bem que assim é. Nós temos procurado dentro das nossas competências e possibilidades responder às necessidades que Fátima hoje apresenta. E temos que procurar que Ourém, cidade, Castelo, possa beneficiar da proximidade de Fátima e é isso que temos procurado fazer. 
Hoje o concelho de Ourém continua com uma taxa de desemprego muito baixa. Não obstante estarmos muito dependentes do turismo religioso – o turismo foi uma das atividades que mais sofreu com a pandemia – conseguiu-se manter uma taxa de desemprego muito baixa. Isso reflete-se não só em Fátima como no resto do concelho, porque há muita gente que trabalha em Fátima. Isso é importante para nós. Por isso eu dizia que nós, em Ourém, temos que procurar tirar o maior partido da proximidade com Fátima. Ainda não o conseguimos na totalidade, mas acho que caminhamos para isso. 

Cláudia Gameiro, 32 anos, há nove a tentar entender o mundo com o olhar de jornalista. Navegando entre dois distritos, sempre com Fátima no horizonte, à descoberta de novos lugares. Não lhe peçam que fale, desenrasca-se melhor na escrita

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