Fotografias de Pedro Pereira

A cidade de Ourém celebra este domingo o seu 30º aniversário, dia em que se assinala também o Dia Mundial do Refugiado. A Secretária de Estado das Migrações assina em Ourém, neste 20 de junho, um protocolo para o financiamento do Centro Local de Apoio à Integração de Migrantes. Este é o concelho do Médio Tejo com maior concentração de migrantes (4,9% de residentes estrangeiros), com cerca de 2.500 cidadãos regularizados, de 71 nacionalidades. Neste dia, quisemos também conhecer melhor os novos habitantes da cidade e convidámos o fotógrafo brasileiro Pedro Pereira para nos contar a sua história de vida e nos revelar 30 rostos desta Ourém que abraça a sua diversidade.

Eu sou o Pedro Pereira, tenho 30 anos, sou fotógrafo, brasileiro natural de Vassouras, uma cidade de 34.000 habitantes no interior do estado do Rio de Janeiro. Hoje vivo em Caxarias, uma freguesia da cidade de Ourém.

Cheguei a Portugal há três anos, em 2018. Além das malas, desembarquei aqui com minha esposa, Ingrid Lyra, e minha filha mais velha, na época com apenas 7 meses de idade. Tudo que eu vim buscar em Portugal eu encontrei, e fui surpreendido com mais. Desde a proximidade com os restantes países europeus até a segurança, a tranquilidade e tudo mais que compõe o conceito de Qualidade de Vida.

Daí em diante, descobri um país encantador! Um povo peculiarmente especial, que celebra o dia-a-dia num café com uns copos, uma boa conversa, com amizade e cortesia. Aliás, amizade foi algo que encontrei aqui, tenho uma família de amigos que por muito pouco eu os chamo de pais. Foram incansáveis em nos ajudar (ajudar a minha família), até psicologicamente. Eu conto. Tive cá um filho em 2019, e foi um período bem complicado para nós, nessa altura. O Sr. Carlos Curto, a Sra. Paula Curto e a filha deles, Andréia Curto, lá da Covilhã, foram os pilares que nós precisámos naquela altura. Estando a tantos quilómetros da nossa família que estava no Brasil, eles fizeram bem o papel deles, e foram e são nossa família. Por essas e outras, o povo português, pra mim tem esta marca, sabem ser verdadeiros amigos!

E, eu pergunto: É preciso muito mais para apaixonar-se por um país? Pois bem, pra mim, foi a cereja do bolo. No mais, Portugal é uma terra linda!

Eu sou uma pessoa que pode ser resumida em uma palavra: Sonho! Sou um autêntico sonhador, e em determinada altura da vida eu coloquei na cabeça que sonhar é escolher o que vai acontecer. Daí em diante, entre os amigos do Brasil, assumi esta alcunha. Sonhador! E penso que eles têm alguma razão, afinal, tenho orgulho em dizer que sou mais um brasileiro que desembarcou aqui sem conhecer ninguém, nem o país, e que tinha o propósito de fazer aqui a vida, e que assim o fez, como se diz no Brasil “aos trancos e barrancos!”, que significa “Contudo, com as dificuldades vou levando”, ou algo assim.

A minha maior paixão na vida (depois da minha família, é claro!) são as pessoas, o Ser Humano. E eu também sonho que posso ser uma voz em prol dos direitos fundamentais do Homem através do meu Fazer Artístico, através da Fotografia. E é exatamente por isso que fotografo, porque quero desenvolver esta capacidade de estabelecer um discurso através das minhas imagens. Por isso que a fotografia é minha profissão, é meu Hobby, é minha terapia… é tudo! Em se tratando de Hobby, tenho outro que também é terapêutico, a música. Não sou músico! Mas sou capaz de me conectar com alguns instrumentos, da guitarra ao teclado, do teclado à percussão, todos dão-me enorme prazer!

Iniciei-me na fotografia há cerca de 10 anos. Na altura, eu havia conseguido um emprego promissor e estudava Psicologia. Mas o sonhador convenceu-se que poderia ser fotógrafo, sem ter nenhum tipo de referência próxima na profissão, foi algo que veio de dentro, e como eu oiço muito minha voz interior, eu fui à luta.

Não foi fácil começar! Mas eu amo a fotografia, e desde o início isso sempre me moveu, e moveu as circunstâncias. Conheci as pessoas certas na hora certa, e quando me dei por mim, eu já não estudava Psicologia e nem tinha o emprego de antes, a fotografia já me sustentava, em todos os sentidos. Foram muitos anos tendo como actividade principal a Fotografia ligada ao Turismo, basicamente eu fotografava famílias em viagem.

Paralelamente também fotografei casamentos, eventos sociais em geral, concertos, teatro, produtos… Quando eu falo que os acontecimentos foram gentis comigo, posso citar um facto, relacionado com a cidade onde vivi desde os meus 15 anos, Barra do Piraí (cidade vizinha da que eu nasci), no estado do Rio de Janeiro. Concomitantemente com a minha decisão de ser fotógrafo, sem eu ter qualquer conhecimento daquele movimento, a minha cidade, na pessoa do então Secretário de Desenvolvimento Econômico Roberto Monzo, e seu braço direito no projeto Helder Cardozo, desenvolviam diversos mecanismos para a receção de produções cinematográficas. Assim, a cidade passou a receber diversas produções de cinema e televisão. A sagacidade desses senhores, Roberto Monzo e Helder Cardozo, foi tão grande que até cursos voltados para as várias áreas do cinema e televisão eles trouxeram para a cidade, com a estratégia de abastecer as produções com mão-de-obra local. Assim fiz o meu primeiro curso na área das imagens, Cinematografia Digital. Além disso, trabalhei em alguns Sets de cinema e televisão, nacionais e internacionais, tendo sido este o meu batismo, a minha inicialização neste mundo de produção de imagem. Obrigado Roberto Monzo! Obrigado Helder Cardozo! Gratidão!

Daí, como já citei, fui para o turismo de maneira orgânica. Quando percebi, já estava a fazer aquilo. Estudei Introdução a Fotografia Digital no Ateliê da Imagem e em seguida, fiz um curso de nível técnico no SENAC-RJ. Participei de alguns Workshops no Brasil, o que mais me marcou e mudou drasticamente minha fotografia foi uma imersão “Perseguindo Fotografias Verdadeiras”, com os fotógrafos consagrados Robson Kunz e Nei Bernardes, duas referências mundiais de fotografia de casamento. Para se ter uma noção da grandeza destes fotógrafos, supriram e ascenderam minha necessidade de fotografar momentos genuínos mesmo quando não fotografo casamento. Obrigado Nei! Obrigado Robson! Gratidão!

Quando cheguei em Portugal tinha ideia de continuar com a fotografia de turismo como atividade principal, e levar de modo paralelo a fotografia documental. Assim o fiz logo que cheguei. Fiz os contactos necessários e, em dezembro de 2018, tive a concessão da produção e venda de fotografias na “Óbidos Vila Natal 2018”, sendo o primeiro trabalho deste género em terras de Pedro Álvares Cabral. Com o fim do evento, fui para a cidade da Covilhã, e fiz o mesmo na Estância de Ski da Serra da Estrela, através de uma parceria com os Senhores Carlos Varandas, Diretor Geral, e Arthur Costa Paes, Presidente daquela organização. Com o fim do inverno, me mantive pela cidade, foi a altura em que meu segundo filho estava para nascer, e ele nasceu Covilhanense.

No fim de 2019 cheguei em Caxarias pela segunda vez, e é onde estou até hoje. Devido à pandemia, não pude continuar com a vida nómada atrás dos eventos turísticos que comportam a minha atividade. Foi desta maneira que eu comecei a realizar um sonho antigo que era fotografar futebol. Nos tempos de Brasil eu já o tinha feito, inclusive trabalhei com o ex-jogador brasileiro Zico, mas nunca fiz desta a minha atividade principal. Porém, devido às circunstâncias, desde janeiro de 2021 tenho fotografado jogos de futebol. O primeiro time a abri-me as portas foi o C.C.D. Caxarias, depois o time feminino do Atlético Ouriense, e a partir daí tenho galgado… recentemente fiz um trabalho com um time feminino internacional, o Paris XI, erradicado em Montreuil, Paris, França.

Desde o início de 2020 tenho colaborado com uma agência brasileira, “Enquadrar”, onde de modo esporádico recebo pautas, ou as crio eu mesmo, e são fotografias direcionadas ao mercado brasileiro.

Sinceramente, não sou de participar em concursos fotográficos. Se calhar é porque eu nunca acho que tenho uma grande foto! Eu gosto muito do que eu crio, mas chega a ser engraçado como eu penso, para mim, são trabalhos que eu faço para mim mesmo, para eu próprio comunicar-me comigo. Pode ser confuso, mas é simplesmente isso!

Voltando à minha paixão pelo Ser Humano, eu tenho trabalhos pessoais com esta temática, o Ser Humano e o meio em que ele está inserido. Por isso, quando surgiu a possibilidade de expressar-me imageticamente sobre os 30 anos da cidade de Ourém, o Ser Humano saltou-me aos olhos. Porque a cidade, para mim, resume-se em arquitectura, que é estática. E o Ser Humano, que é dinâmico, que pratica a cultura, é que dá sentido às construções… e seguindo neste raciocínio, eu trago estes rostos, que na verdade são mais que isso. São histórias, que entram na história da cidade, e que a cidade também entra na história deles.

No meio destes retratos há Ourienses de nascença e Ourienses adoptados, e que igualmente compõem a cidade, contribuem para as práticas diárias culturais e tradicionais da cidade de Ourém. Se calhar estou a ser ousado, mas sonho que minhas fotografias sejam uma Ágora, onde as pessoas possam criar diálogos, nem que sejam internos, com a finalidade de desenvolver práticas mais justas para com o Ser Humano como um todo.

Discutir os efeitos das migrações e emigrações que são tendência mundial, e que podem e devem ser discutidas para que se estabeleçam relações que fazem bem a todos, os que chegam, os que vão, e os que estão!

Eu me pego envolvido nessas questões de maneira intuitiva e natural – afinal, sou mais um estranho que chega, cheio de sonhos, e com uma vontade enorme de somar com a comunidade local.

Sou diretora do jornal mediotejo.net, diretora editorial da Médio Tejo Edições e da chancela de livros Perspectiva. Sou jornalista profissional desde 1995 e tenho a felicidade de ter corrido mundo a fazer o que mais gosto, testemunhando momentos cruciais da história mundial. Fui grande-repórter da revista Visão e algumas da reportagens que escrevi foram premiadas a nível nacional e internacional. Mas a maior recompensa desta profissão será sempre a promessa contida em cada texto: a possibilidade de questionar, inquietar, surpreender, emocionar e, quem sabe, fazer a diferença. Cresci no Tramagal, terra onde aprendi as primeiras letras e os valores da fraternidade e da liberdade. Mantenho-me apaixonada pelo processo de descoberta, investigação e escrita de uma boa história. Gosto de plantar árvores e flores, sou mãe a dobrar e escrevi quatro livros.

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