A política do cuidado, a economia do cuidado, são termos que começam a entrar no nosso vocabulário e a questionar-nos sobre concepções, estereótipos que se mantêm e perduram, mas também sobre os caminhos a seguir e como inovar neste sector.
Os cuidados nunca foram valorizados e muito menos contabilizados. Tarefas de mulheres, a quem competia tratar da casa, dos filhos e filhas, dos idosos e idosas, dos doentes, fazer as compras, tratar das roupas, ir à escola dos filhos. Quantas vezes ouvimos e dissemos “a minha mãe não trabalha, é doméstica”, embora sobre os seus ombros estivesse toda a responsabilidade de planear, gerir e executar tarefas, quantas vezes invisíveis, mas que garantiam o bem-estar de toda a família.
As sociedades evoluíram e sobretudo devido à entrada das mulheres no mercado de trabalho foi preciso responder de forma diferente à prestação dos cuidados essenciais a crianças, idosos e idosas, pessoas com dependências, pessoas com deficiência.
Mas o “cuidar” continuou a não ser devidamente valorizado. Os baixos salários praticados no sector serão o melhor exemplo, mas também a forma como olhamos para os lares, na maioria dos casos, negativa, ilustra a não valorização deste sector. Ir para o lar só em último caso…
A pandemia catapultou para a agenda a “política do cuidado”. Da forma mais dramática com os surtos em muitos lares e a morte de utentes, mas também porque ficámos a saber a forma de funcionamento, as dificuldades e insuficiências, e até a sua organização e modo de funcionamento. É incontornável questionarmos sobre como são tratados os nossos familiares, os nossos amigos ou vizinhos que estão numa instituição. Percebemos também que até agora pouco sabíamos do seu funcionamento e enquanto comunidade pouco ou nada fazíamos para interagir com estas instituições. Chocamo-nos com situações agressivas e de maus-tratos, mas não vamos muito mais longe.
Agora, com a pandemia, as coisas têm mesmo que ser diferentes.
Temos que encontrar os meios e as estratégias para garantir que toda a população recebe o cuidado que precisa. As respostas não são uniformes, bem pelo contrário, tudo indica que têm que ser adaptadas ao tipo de pessoas a quem se dirigem, à área geográfica, aos recursos existentes na comunidade onde se inserem.
Uma certeza tenho, a resposta não pode continuar como até aqui. Compete ao Estado dinamizar todo um processo de criação das estratégias, com a participação directa dos utentes. Compete ao Estado concretizar um Programa de Formação a nível nacional, que capacite quem trabalha ou vai trabalhar no sector. Compete ao Estado pagar salários dignos que correspondam à importância do trabalho prestado. Compete ao Estado uma fiscalização permanente, pedagógica quando necessário, mas também punitiva para os abusos.
Em resumo, temos que perceber quão importante o Cuidado é para a coesão social, para a igualdade e para os direitos de todas as pessoas, independentemente da sua idade, da sua condição de saúde. A área do Cuidado é fundamental e imprescindível para a economia e para o desenvolvimento do país. Precisamos de uma política pública para esta área. Precisa de dinheiro, é óbvio, mas não só.
Ou vencemos este desafio ou ficaremos com uma sociedade egoísta, cruel, discriminadora. É preciso cuidar do CUIDADO!