O debate do Orçamento de Estado para o próximo ano agravou a minha preocupação com o que aí vem. A crise sanitária é uma realidade, mas a crise económica que já chegou, e promete ficar, é provavelmente muito mais grave que a crise financeira que se abateu sobre nós em 2009/2010. O que mais me assusta é que a narrativa do Governo para justificar este OE2021 e as opções que faz são assustadoramente parecidas com a estratégia de Sócrates em 2009/2010.
Ou seja, o Governo aposta quase tudo em aumentar apenas o rendimento de quem não perdeu tanto com a crise, ou seja, pensões, funcionários públicos, entre outros, e retoma o investimento nas obras públicas e na administração pública que ficou congelado desde 2015. Eu já vi este filme em 2009 e o resultado foi desastroso e também pela mão de socialistas que se repetem neste governo.
Se o objectivo do Governo é aumentar o consumo interno para ajudar as empresas, a prova dos últimos tempos é que a economia portuguesa cresceu sempre à custa das exportações e não do consumo interno. Esta realidade embaraçou todas as previsões do Governo e as teses do Partido Socialista. E é por essa razão que as justificações anunciadas para este modelo de orçamento não fazem sentido.
O problema não está em investir nas obras públicas ou na administração pública, o problema é a dose. Há uma clara falta de equilíbrio ou balanço existente com o sector empresarial. Este OE2021 ignora a crise económica que chegou, preocupa-se apenas em proteger algumas pessoas, o que é saudável. Mas o que será dessas pessoas se as empresas fecharem? E o que será do Estado Social se as empresas não pagarem impostos? E se o Estado aumenta os apoios sociais não é de pensar em apostar na recuperação das empresas para que estas possam vir, através dos seus impostos, a pagar essa necessária despesa social?
Este OE2021 deveria ter um maior equilíbrio entre o apoio às pessoas e o apoio às empresas que são absolutamente fundamentais para a sobrevivência do país, dos trabalhadores e para financiar a política social que apoia os mais desfavorecidos.
Assustador mesmo é verificar que estes aumentos populares apresentados pelo Governo são muito semelhantes àqueles que José Sócrates fez na véspera das eleições de 2010. Os investimentos públicos anunciados são muito semelhantes aos disparates de 2008 e 2009 quando Sócrates perdeu a cabeça e começou com as obras megalómanas.