Leio e ouço coisas admiráveis. Assombrosas.
Se Cavaco não nomear Costa é um golpe de Estado!
O que Costa está a fazer e um golpe de Estado!
Isto é como no futebol, quem ganha governa.
A coligação PSD/CDS ganhou, deve governar!
O PS perdeu , fique quieto no seu lugar!
Os gajos andam todos a fazer o jogo partidário e não se preocupam com o país!
As coisas que se dizem! Os argumentos que se avança! A insanidade que pulula!
Vamos então falar de jogos, vitórias, derrotas.
Não. O “jogo partidário”, o “jogo eleitoral”, o “jogo democrático não é como o futebol.
Um jogo de futebol é o que se chama na teoria dos jogos um jogo de soma zero. Se uma equipa ganha a outra perde. Simples. Os pontos que se atribuem é outra coisa.
O “jogo democrático ou eleitoral ou partidário” é um jogo totalmente diferente. É o que na teoria dos jogos se chama um “jogo de soma não nula”: não se trata de, se um ganhar, o outro perder.
Em primeiro lugar é suposto que a resultante seja boa para um terceiro aqui esquecido: o “povo”, os eleitores, o “pais”, que se pronunciou e faz as suas opções.
Em segundo lugar elege-se um Parlamento. Não é realmente o campeonato do 1º ministro. (Claro: os partidos “da governação” acentuam demasiado essa tecla, para dramatização eleitoral e para reduzir os termos da “alternativa”. mas é retórica eleitoral).
O “jogo parlamentar” não é o jogo do tu ganhas eu perco. É um jogo de maiorias. Maiorias que suportem um governo. Relativas ou absolutas. De negociação e de compromisso. Governará quem assegurar uma maioria parlamentar de suporte a um governo.
Pode governar-se com maioria relativa? Pode.
Pode governar-se com maioria absoluta? Pode.
São ambas legítimas? São.
Outra coisa deste jogo: no futebol há um árbitro. O árbitro assinala as irregularidades cometidas.
Aqui, no” jogo político”, há um árbitro. O Presidente. Mas a função do árbitro é totalmente diferente. Ele olha as tais maiorias e escolhe, dentro do quadro parlamentar, quem entende que ganhou e melhor responde ao país, para que o país ganhe com o jogo.
E faz parte das regras do jogo ser ele a avaliar e a decidir quem indigita para 1º ministro.
Pode achar que uma maioria relativa basta.
Pode exigir uma maioria absoluta e estável.
O nosso Presidente tem reiteradamente exigido uma maioria estável no Parlamento e ameaçado não dar posse a soluções minoritárias.
Ah! Aqui o tempo do jogo é definido pelo Presidente.