A primeira conclusão a tirar das eleições legislativas é que a centralidade da política está no Parlamento. Comprovou-se que quando votamos elegemos deputados e deputadas e não governos ou primeiro-ministro.

O povo português exerceu a sua soberania através do voto. Retirou a maioria absoluta à coligação PSD/CDS, que sendo o mais votado, averba uma derrota significativa em número de votos e de mandatos perdidos – menos 12% em percentagem e menos 22 deputados/as. Está em minoria no Parlamento.

A maioria do povo português votou contra as políticas seguidas por Passos Coelho e Paulo Portas e existem condições para inverter a austeridade e o empobrecimento.

O PS foi o grande derrotado destas eleições. Não conseguiu convencer, porque as suas propostas não foram claras, não granjeou confianças na mudança que anunciava. A CDU aumentou ligeiramente a sua votação e tem mais um deputado.

O BE, que muitos davam como moribundo demonstrou que é possível à esquerda ganhar força e fazer o caminho de verdadeira alternativa. A clareza do discurso, a acutilância das propostas, o entusiasmo no contacto com a população foram marcantes. O BE disse ao que vinha e apontou soluções, desde logo nos debates, onde Catarina Martins soube colocar o “dedo na ferida”, mas indo mais longe, fazendo as perguntas que nunca foram respondidas durante a campanha, incluindo por António Costa, – sobre as pensões, sobre o futuro da Segurança Social, sobre as condições para governar à esquerda.

Matérias que continuam em cima da mesa. Existem todas as condições para governar à esquerda, com a legitimidade da maioria dos votos, com a legitimidade da maioria dos deputados/as. O que vai fazer o PS? Apoiar um governo de mais do mesmo, com uma nuance aqui ou acolá, ou inverter a lógica dos últimos 4 anos que nos leva para o fundo? Nos próximos dias teremos a resposta a esta questão. O BE foi claríssimo na noite das eleições – não viabilizará um Governo de Passos/Portas.

Nos Municípios do Médio Tejo há a registar que o PS ganha em 5 e a Coligação PSD/CDS em 8, sendo que em 9 concelhos há uma inequívoca vitória das forças à esquerda. É de realçar que o BE é a 3.ª força política em 11 dos 13 concelhos do Médio Tejo, tendo eleito um deputado pelo círculo de Santarém.

Registe-se ainda que a abstenção ficou abaixo da média nacional, não deixando de ter valores significativos que devem preocupar todos os responsáveis políticos e aqueles e aquelas que fazem da cidadania uma constante da sua vida.

Nas próximas semanas terá que existir clarificação perante a situação criada com os resultados eleitorais. Não se venha já com o papão da instabilidade, pois na instabilidade temos nós vivido e não se mande às urtigas aquilo que o povo determinou através do voto – recusou o poder absoluto e devolveu a política ao Parlamento.

Helena Pinto, vive na Meia Via, concelho de Torres Novas. Nasceu em 1959 e é Animadora Social. Foi deputada à Assembleia da República, pelo Bloco de Esquerda, de 2005 a 2015. Foi vereadora na Câmara de Torres Novas entre 2013 e 2021. Integrou a Comissão Independente para a Descentralização (2018-2019) criada pela Lei 58/2018 e nomeada pelo Presidente da Assembleia da República. Fundadora e Presidente da Mesa da Assembleia Geral da associação Feministas em Movimento.
Escreve no mediotejo.net às quartas-feiras.

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