Francisco António foi deputado na Assembleia Municipal de Sardoal durante duas décadas e autor de vários livros de poesia e de história local. Créditos: DR

Francisco da Silva António faleceu esta segunda-feira, 21 de fevereiro, aos 67 anos, na unidade de cuidados paliativos onde se encontrava internado, em Ourém, depois de vários anos a lutar contra um cancro.

As cerimónias fúnebres iniciam-se às 19h30 na capela mortuária de Santiago de Montalegre, Sardoal, e as exéquias religiosas realizam-se na terça-feira, 22, às 11h30, na capela do cemitério local. 

Deputado municipal pelo PSD, figura muito ligada aos movimentos associativos do Sardoal e com anos de dedicação à investigação da história e tradições locais, era também um poeta popular reconhecido, tendo publicado vários livros e recebido vários prémios.

Considerado “um homem de grande humanismo” e “um ser humano extraordinário” pelos muitos amigos que esta manhã lamentavam a sua morte nas redes sociais, foi um dos deputados municipais mais interventivos na Assembleia Municipal de Sardoal ao longo dos últimos 20 anos, tendo sido novamente eleito nas listas do PSD nas últimas eleições Autárquicas, em setembro de 2021.

Francisco António (1º à esq.) na tomada de posse da Assembleia Municipal de Sardoal, a 14 de outubro de 2021. Créditos: mediotejo.net

Francisco da Silva António nasceu em Salgueira, freguesia de Santiago de Montalegre, no concelho de Sardoal, a 12 de outubro de 1954, e viveu na aldeia de Codes durante 45 anos. Concluído o ensino primário, ingressou no Seminário Missionário Dominicano, nos arredores de Fátima, em 1965, onde permaneceu três anos, tendo feito o exame do 2º ano do Liceu em Leiria. Começou a trabalhar com 14 anos, como empregado de escritório, até ser chamado a cumprir o serviço militar, tendo seguido carreira na GNR até 1983.

Em 1984 foi trabalhar para uma empresa de Milreu, no concelho de Vila de Rei, e aí ficou a residir depois de casar, em 1989, considerando o concelho a sua “terra de coração”.

Desde muito novo começou a escrever versos, tendo concorrido a vários concursos de poesia e obtido vários prémios. Em 2017 publicou um livro sobre a história da sua freguesia natal, “Santiago de Montalegre, a sua História, as Lendas, as Gentes” (Edição Municipal) e em 2021 viu editados mais dois livros da sua autoria: “A Minha Poesia – Nos Contras da Vida” (Edição de Autor) e “Vila de Rei/Poemas de Alma e Coração – por entre o Alto Ribatejo e o Sul da Beira Baixa” (Edição da Câmara de Vila de Rei/Médio Tejo Edições).

Dedicou muito do seu tempo à investigação das histórias e lendas das suas terras (de nascimento e de adopção) e integrou vários movimentos associativos. Fez parte da Comissão Fabriqueira da Igreja; foi Secretário e Presidente da Associação dos Amigos de Santiago de Montalegre; foi membro e 1º secretário da Assembleia de Freguesia de Santiago de Montalegre; foi 1º secretário e deputado na Assembleia Municipal do Sardoal durante mais de duas décadas e deputado da Assembleia da Comunidade Intermunicipal do Médio Tejo, em representação do concelho de Sardoal. Voltou a ser eleito nas últimas eleições Autárquicas, em 2021, pelo PSD.

Dinamizou ainda, nos últimos anos, o Grupo de Facebook “Santiago de Montalegre no Coração”, com 1.200 membros. Esta manhã sucediam-se dezenas de mensagens de agradecimento por toda a dedicação de Francisco António à comunidade.

Com sentidas condolências à sua família e amigos, partilhamos um dos últimos versos que escreveu – através das quadras da sua vida, perpetuadas nos seus livros, poderemos sempre recordá-lo.

Quadras à Vida”

Abri o livro da vida,
Descobri logo um segredo.
É mais curta que comprida,
Tem vezes que mete medo.

Todo o homem ao nascer,
Traz o destino marcado.
Mas se não se precaver,
Vai passar um mau bocado.

Mandei recado à tristeza,
Para não vir ter comigo.
Mas ela vai com certeza,
Descobrir o meu abrigo.

Deitando contas à vida,
Achei que fui enganado.
Houve uma grande mexida
Naquilo que foi traçado.

Já não sei o que pensar
Desta minha geração.
Anda tudo a guerrear,
Sem saber porque razão.

Todos sabem que a vaidade
É o mal de muita gente.
É pena que a humildade
Ande sempre mais ausente.

Cá por mim fico entretido,
Ocupando os meus vagares.
É muito mais divertido
Fazer quadras populares.

In “Vila de Rei – Poemas de Alma e Coração”, de Francisco da Silva António (Edição Município Vila de Rei/Médio Tejo Edições, 2021)

Patrícia Fonseca

Sou diretora do jornal mediotejo.net e da revista Ponto, e diretora editorial da Médio Tejo Edições / Origami Livros. Sou jornalista profissional desde 1995 e tenho a felicidade de ter corrido mundo a fazer o que mais gosto, testemunhando momentos cruciais da história mundial. Fui grande-repórter da revista Visão e algumas da reportagens que escrevi foram premiadas a nível nacional e internacional. Mas a maior recompensa desta profissão será sempre a promessa contida em cada texto: a possibilidade de questionar, inquietar, surpreender, emocionar e, quem sabe, fazer a diferença. Cresci no Tramagal, terra onde aprendi as primeiras letras e os valores da fraternidade e da liberdade. Mantenho-me apaixonada pelo processo de descoberta, investigação e escrita de uma boa história. Gosto de plantar árvores e flores, sou mãe a dobrar e escrevi quatro livros.

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