O país vive um período de agitação política. Tudo começou com o chumbo do Orçamento do Estado para 2022 e, prevê-se, continuará até à realização das eleições legislativas intercalares marcadas para 30 de janeiro de 2022.
Como quase tudo na vida, também aqui os acontecimentos sucedem-se em ciclos. Primeiro a encenação, a argumentação catastrofista, depois o aponta-culpas, o passa-culpas, a espera para ver como andam as coisas, segue-se a fase da entrevista e depois entramos em campanha. Neste processo e neste período surgiram 4 sondagens.
Para além da frase feita “as sondagens valem o que valem” e do descrédito que as mesmas têm vindo a acumular (lembremo-nos das recentes eleições autárquicas), o que é um facto é que comentadores adoram sondagens e os dirigentes partidários não dispensam olhar para elas. E fazem bem, na minha opinião. Não se deve acreditar piamente, mas a informação que transmitem deve ser um, entre muitos outros, um factor a ter em consideração.
Mas sentiu-se nas últimas semanas um especial frenesim na expectativa que as sondagens confirmassem a narrativa dominante: para uns a expectativa era que as sondagens dessem uma maioria a toda a direita independentemente do PS ser o partido mais votado – a direita sonha com uma “geringonça” do seu lado… Nada feito, a direita não tem maioria em nenhuma sondagem.
Outros gostavam de ver BE e PCP apoucados e o PS à beira de uma maioria absoluta. Também não existe correspondência com este cenário. PS ganha as eleições, mas em nenhuma tem maioria absoluta.
E por último ainda havia a expectativa de ver o BE a cair de forma estrondosa. Também não aconteceu. Em 3 das 4 sondagens o Bloco continua a ser a terceira força política.
Mas as sondagens valem o que valem e também se enganam. E daqui até 30 de Janeiro, todos nós temos que seguir a campanha, com atenção, com empenho e com exigência, pois o país não pode nem deve prescindir de clareza sobre como serão os próximos anos.
A campanha é feita por todos e todas. O povo não é apenas receptor para ouvir os discursos, deve também conseguir colocar na ordem do dia as questões sobre as quais quer que os discursos falem.
É fundamental que a próxima campanha eleitoral seja um processo de confronto de ideias e de projectos e de clareza por parte de todos os partidos.