Nasci na cidade onde desagua o Tejo. ”Deveria” eu ter nascido onde me parece sempre ter vivido, à beira de uma ribeira que, com outras, quando não está seca, entronca até ao fio de água que vai dar ao Nabão que vai acabar no Zêzere, afluente a engrossar o Tejo.
Não estou a rever matéria para o exame de geografia de há muitas décadas, mas a reconstituir a minha vida na sua ligação com o Tejo. Ligação que tem sido permanente, apesar de tantas, mas apenas episódicas, ausências.
Sou – sinto-me – do distrito de Santarém, de um distrito que deixou de existir, e de uma província, o Ribatejo, que há ainda mais tempo, e mais claramente no plano administrativo, é só uma reminiscência sem contornos, uma memória sem limites físicos. Mas ambos com algo de indefinível que se agarra às gentes. E que, sendo indefinível, terá a ver não com touros, campinos, touradas, mas talvez com o Tejo, do lado de riba e não só, até onde chega o além-Tejo para qualquer das margens.
Ficaria para aqui a escrever sobre estas circunstâncias (de que também somos feitos) mas apenas quero deixar um primeiro sinal identificador, que tenha a ver com um sentido que procuro e desejo dar a uma colaboração em que estreio.
No nosso País, nesta pátria velha de séculos que é a nossa, vejo o rio Tejo como – vou usar a palavra… – estruturante. O Tejo atravessa a meio Portugal e tem um meio. Pelo que, sendo o meio do que atravessa o País ao meio, o Médio Tejo é o (meu) centro de Portugal.
E, como tudo o que passa pelo meio, o Tejo pode separar ou juntar; como tudo o que está no centro, o Médio Tejo pode ser centrípeto ou centrífugo. O que se exige é que exista uma perspectiva de conjunto, patriótica, para que assim se veja. Não me esquecerei, por isso, do documento do IV Plano de Fomento (1974-1979) em que se falava da obsolescência dos distritos e da necessidade das regiões-plano, assim se trazendo para o papel (e só para o papel!) a falta de uma visão nacional, do conjunto, de ordenamento do território. Mais se avançou – e enorme salto foi! – com a Constituição da República Portuguesa adoptada por grande (diria esmagadora) maioria, em que a regionalização é uma das traves-mestras do Portugal a construir em democracia, numa democracia que não se esgotasse no acto periódico do povo escolher quem o represente e que, depois de escolhido, se esquece do que prometeu para ser eleito.
Há quase 40 anos está por cumprir esse desígnio constitucional que era resposta a uma necessidade sentida e já antes expressa em documento. Falharam os esforços para o concretizar. Que não foram só os que levariam à criação de um degrau que falta no nosso ordenamento. Que foi também, por exemplo, uma iniciativa de que me recordo, e a que, como deputado, dei todo o apoio, que se traduzia na regularização e navigabilidade do Tejo, projecto de uma empresa de Tomar.
Tanta coisa a lembrar. No campo da saúde, da educação, dos transportes. Do Poder Local.