Humberto Delgado nasceu no Boquilobo, Torres Novas. Foto: DR

No dia 15 de maio de 2016 o Aeroporto da Portela, em Lisboa, passou a designar-se “Aeroporto General Humberto Delgado”. Completaram-se, naquele dia, 110 anos sobre a data de nascimento de Humberto da Silva Delgado, nascido em Boquilobo, freguesia de Brogueira, concelho de Torres Novas, distrito de Santarém.

Humberto Delgado frequentou o Colégio Militar entre 1916 e 1922 e, em 1925, entrou para Escola Prática de Artilharia, em Vendas Novas. Participou na revolta militar de 28 de Maio de 1926, que derrubou a I República e implantou a Ditadura Militar que, poucos anos mais tarde, em 1933, daria lugar ao Estado Novo de Salazar. Durante vários anos, Humberto Delgado apoiou as posições oficiais do regime salazarista, em especial o seu anticomunismo.

Humberto Delgado

Já na década de 40, Humberto Delgado representou Portugal nos acordos secretos com o governo inglês sobre a instalação das Bases Aliadas nos Açores, no decurso da II Guerra Mundial. Entretanto, em 1944, foi nomeado Diretor do Secretariado da Aeronáutica Civil.

Em 1952, Humberto Delgado assumiu o cargo de adido militar na Embaixada de Portugal em Washington e de membro do comité dos Representantes Militares da NATO. Promovido a general na sequência da realização do curso de altos comandos, passou a Chefe da Missão Militar junto da NATO. De volta a Portugal, foi nomeado Diretor-Geral da Aeronáutica Civil.

Os cinco anos que viveu nos Estados Unidos modificaram a sua forma de olhar para o regime político vigente, do qual se tornou especialmente crítico. Apresentou-se como candidato da oposição à Presidência da República, em 1958, contra o candidato do regime, Américo Tomás.

Numa conferência de imprensa da campanha eleitoral, realizada em 10 de maio de 1958, quando lhe foi perguntado por um jornalista a sua posição relativamente ao Presidente do Conselho, respondeu com a célebre frase “Obviamente, demito-o!”. Esta resposta incendiou os espíritos dos contestatários ao Estado Novo e fez tremer o regime e Salazar.

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A coragem que manifestou ao longo da campanha eleitoral, face à repressão policial do regime, foi decisiva para que fosse cognominado “General sem Medo”. Apesar do enorme entusiasmo em torno da sua candidatura, o resultado eleitoral não lhe foi favorável graças à fraude eleitoral montada pelo regime.

Salazar, porém, não ganhou para o susto e, nas eleições seguintes, o Presidente da República passou a ser eleito por um colégio eleitoral.

Em 1959, na sequência da derrota eleitoral, vítima de represálias por parte do regime e de ameaças por parte da PIDE, o General Humberto Delgado pediu asilo político na Embaixada do Brasil. Convencido de que o regime não poderia ser derrubado por meios pacíficos, promoveu a realização de um golpe de estado militar, concretizado em 1962 e que visava tomar o quartel de Beja e outras posições estratégicas importantes de Portugal. O golpe, porém, fracassou.

Convidado para um encontro com supostos opositores ao Estado Novo, Humberto Delgado dirigiu-se à fronteira espanhola perto de Olivença, a 13 de fevereiro de 1965, caindo assim numa cilada. Ao seu encontro foi um grupo de agentes da PIDE, liderados por Rosa Casaco.

O agente Casimiro Monteiro assassinou-o, bem como à sua secretária, sendo os corpos ocultados próximo de Villanueva del Fresno, cerca de 30 km a sul do local do crime. Ironicamente, o chefe da brigada da polícia política que assassinou o “General sem Medo” era também natural da nossa região, do Rossio ao Sul do Tejo.

A casa onde nasceu, na pequena aldeia de Boquilobo, Torres Novas, encontra-se atualmente restaurada e transformada em espaço museológico dedicado à sua memória. A habitação original constava apenas de uma casa térrea do século XIX, com palheiro anexo, integrando uma grande cozinha com lareira, sala, e dois quartos. A fachada principal, para onde deita a cozinha e a sala, é rasgada por uma janela e duas portas de postigo.

O conjunto foi adquirido em 1993 por Joaquim Marques de Oliveira, para ser oferecido à Junta de Freguesia local, com o fim de aí se instalar o futuro Museu Humberto Delgado.

As obras de adaptação foram iniciadas nesse mesmo ano. O palheiro, à direita do imóvel principal, foi recuperado e ampliado com um piso superior, segundo projeto do escultor José Aurélio.

Casa Museu Humberto Delgado situa-se na aldeia do Boquilobo. Foto: mediotejo.net

A Casa Memorial Humberto Delgado foi inaugurada em Maio de 1996, por altura do 90.º aniversário de nascimento do general. Quem quiser visitar este núcleo museológico deve contactar o Museu Agrícola de Riachos.

José Martinho Gaspar nasceu em Água das Casas (Abrantes), na década de 60 do século XX, e vive em Abrantes. É Professor de História e Mestre em História Contemporânea. Desenvolve a sua ação entre aulas, atividades associativas (Palha de Abrantes e CEHLA/Zahara, mas também CSCRD de Água das Casas), leitura e escrita, tanto de História como de ficção, sendo autor de vários artigos e livros. Apaixonado por desporto, já não vai em futebóis, mas continua a dar as suas voltas de bicicleta. Afinal, diz, "viver é como andar de bicicleta: não se pode deixar de pedalar e quando surge um cruzamento escolhe-se o nosso caminho".

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