Foto: mediotejo.net

Em Riachos, Torres Novas, foram cerca de meia centena as pessoas que se juntaram à entrada das instalações do Centro de Saúde (e que alberga também a sede do Agrupamento de Centros de Saúde (ACES) do Médio Tejo, reclamando por um médico que preste serviços médicos às populações de Alcorochel e Parceiros de Igreja, fazendo-se ouvir através de vários cânticos como “a saúde é um direito, sem ela nada feito”.

Presente na concentração, Manuel José Soares, da Comissão de Utentes da Saúde do Médio Tejo (CUSMT), que organizou a manifestação com o movimento “Queremos um Médico Já”, referiu que esta falta de médicos de família por vezes vezes resolve-se de forma “mais ou menos estável, outras vezes os próprios profissionais têm alguns problemas para continuar a dar assistência às populações”.

“Há uma evidente falta de médicos de família e prestadores de serviço no Médio Tejo, e infelizmente não só, a uma população idosa que tem realmente algumas dificuldades, e tem razão porque os cuidados primários basicamente têm a ver com cuidados de proximidade, e se não há cuidados de proximidade é evidente que esses problemas agravam-se para as pessoas, inclusive começa a haver algumas questões de ordem social de ansiedade, por os habitantes se sentirem até desprezados”. 

Depois de alguns representantes terem sido convidados a entrar nas instalações para falar com Diana Leiria, diretora do ACES Médio Tejo, a mesma veio também falar aos manifestantes, dizendo que está previsto o regresso de uma médica, a “doutora Raquel”, que é muito querida entre a população, a qual, segundo disse Diana Leiria em declarações à comunicação social, deverá regressar ao serviço a 4 de julho. Assim, disse Diana Leiria, será possível “estabilizar os cuidados nestas populações”.

Diana Leiria apelou ainda à compreensão da população face ao drama que se vive com a falta de médicos no país. “Tivesse eu médicos… preferia não ter este problema, como devem calcular. Vamos ver, vamos trabalhar, vamos tentar trabalhar em conjunto para que as coisas corram bem”, disse à população.

Horas depois foi em frente ao Centro de Saúde de Alcanena que se juntou perto de uma centena de pessoas exigindo igualmente a colocação de mais médicos de família e a reabertura das extensões de saúde encerradas durante a pandemia da covid-19.

Ao mediotejo.net Manuel Soares disse que o objetivo passava por “tornar públicas iniciativas que estamos a tomar em termos de mobilizar as populações para que defendam o direito a cuidados de saúde e atendendo a que a população de Alcanena – é um caso sui generis – em que mais de 50% dos utentes não tem médico de família, nem tão pouco há médicos em prestação de serviços que sejam suficientes para atender o conjunto da população” 

Manuel Soares frisou a importância destas iniciativas, dizendo que por vezes as pessoas dizem que “são situações irrealizáveis” ou que “eles fazem o que querem”, mas afiança que o cenário “não é bem assim” e que os movimentos de utentes e as populações alcançam conquistas importantes.

Ao mediotejo.net, a Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo (ARSLVT) referiu que existem atualmente 225.314 nos 11 concelhos abrangidos pelo ACES Médio Tejo, dos quais 55.901 não têm médico de família atribuído. Atualmente encontra-se a decorrer um concurso nacional de acesso à carreira especial médica – Medicina Geral e Familiar, no qual o ACES Médio Tejo tem 12 vagas a concurso.

A ARSLVT disse ainda ao nosso jornal que “o facto de os utentes não terem médico de família atribuído, não significa que não tenham acesso aos cuidados de saúde. Em todos os concelhos do ACES onde existe falta de médicos de família existem respostas alternativas, conseguidas através do recurso à prestação de serviços médicos, à contratação de médicos aposentados ou mesmo à realização de horas suplementares dos médicos do quadro”, afirma.

Sobre o caso concreto da UCSP de Torres Novas, a ARSLVT diz que “todos os utentes inscritos nas extensões de saúde que ainda não têm médico de família atribuído têm consulta médica nas próprias extensões de saúde, designadamente em Brogueira, Parceiros de Igreja e Alcorochel. No início do próximo mês, com o regresso ao serviço da médica que aí prestava cuidados, contamos que a situação fique resolvida”.

Relativamente a Alcanena, Manuel José Soares, porta-voz da CUSMT, tinha já dito à Lusa que este é o caso mais preocupante, uma vez que ao ter mais de 7000 utentes sem médico de família atribuído, numa população com 12.478 residentes (segundo os Censos de 2021), “é, em termos percentuais, a situação mais grave, embora, em termos absolutos, haja concelhos em pior situação, como é o caso de Abrantes, que tem 9.000 utentes sem médico de família, e de Ourém, que está muito perto dos 15.000″, notou.

No caso de Alcanena, a ARSLVT esclarece que “os médicos especialistas da UCSP realizam consulta de recurso e de vigilância para os utentes sem médicos. Existem igualmente duas médicas prestadoras de serviços e um médico aposentado que prestam cuidados aos utentes sem médico”, adiantando ainda que “está já autorizada a contratação de mais um médico aposentado que contamos que inicia funções no início de julho”.

Manuel Soares disse também ao nosso jornal que estão a ser preparadas outras concentrações do género em Tomar e em Abrantes.

Licenciado em Ciências da Comunicação e mestre em Jornalismo. Natural de Praia do Ribatejo, Vila Nova da Barquinha, mas com raízes e ligações beirãs, adora a escrita e o jornalismo.

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