Foto: Carlos Alves

A solidão do meu mundo é tão gritante que o seu ruído não me deixa dormir. Na guerra sem destino, o meu peito está tão apertado que me gela. Agridem o mundo inteiro as cenas de guerra cruel que esmagam corações de crianças aterrorizadas, com bombas caindo do céu, mães sem amparo nem teto escondem-se nos porões sem água e sem alimento. Só se ouvem estrondos de explosões que ecoam sobre os corpos. É o comércio de armas, é a ânsia de dominação, é o jogo imundo de interesses, onde os inocentes matam os seus semelhantes obedecendo a ordens que planeiam comandantes, em confortáveis gabinetes.

Desperta-me os piores instintos quando o Estado lhes dá o poder de “superiores”. Não o merecem. Vejo tudo cheio de uniformes. Uniformes de gala, uniformes de campanha. É impressionantemente espantoso de onde é que todas estas armas apareceram de repente.

Pois é! Apetece-me discursar. Não sei se para me entenderem se, simplesmente, para anunciar o fim do discurso, para que os ouvintes não tenham um ataque. Quando um fala, os outros ouvem. Libertem o mundo! As crianças precisam de crescer, nem que seja em cima das árvores. A mulher precisa de um homem que a faça feliz. O mundo está envolto em armas, caímos na demência. Todos estamos com ar infeliz. Todos nos refugiamos no terror da existência miserável que se esconde na trincheira da nossa cobardia.

Como eu gostava de ser Charlie Chaplin, o homem mais famoso do mundo. Um homem que não é atirador nem inventor. Um homem que fez rir toda a gente, europeus, russos, chineses, americanos, e até marinheiros do velho e novo continente. Só não fez rir Marte devido à deficiente ligação existente, onde nem sequer há cinema. Um homem baixo, com um chapeuzinho preto, uma bengalinha, um bigodinho. Andava como nunca alguma pessoa andou neste mundo. Bamboleava-se rápido e apressado sobre os dois pés com as pontas viradas para fora. Tinha olhos negros, quase tristes, e que olharia preocupado para este mundo, porque ele está cheio de rudezas. E é verdade, elas aí estão. As rudezas são homens monstruosos, grosseiros, com quem o senhor Chaplin brigaria. Como é que ele conseguiria tudo isto? Nos seus olhos insondáveis haveria um enorme terror, profundo e quase animal e, ao mesmo tempo, um grão de ironia por uma coisa destas ser possível. Era tão bondoso e amável para toda a gente. Tinha um cãozinho de pano e brinquedos como os das crianças.

Todos os homens deveriam ir vê-lo. Iriam escangalhar-se a rir e ficar-lhe, toda a vida, agradecidos por esse riso. Queremos um céu repleto de estrelas gordas, inchadas de tanta noite.

Vou terminar com uma curiosidade que li num livro. Um pai que pretendia acalmar o filho revoltado pelo caos e pela confusão do mundo rasgou um mapa-mundo em pequenos pedaços e pediu ao filho, que queria mudar o mundo, que o reconstituísse à sua maneira, convencido de que ele não seria capaz. Contudo, ao fim de meia hora, o filho tinha reconstituído o mapa. Perante o espanto do pai, explicou-lhe que tinha reparado, antes de o pai o ter rasgado, que havia, nas costas do mapa, o retrato de um homem. A sua única preocupação foi “reparar” o homem e, ao fazê-lo, reparar o mundo.

É albicastrense de gema, mas foi em Malpique (Constância) e em Tramagal (Abrantes) onde cresceu e aprendeu que a amizade e o coração são coisas imprescindíveis na valorização do ser humano. Vive no Entroncamento. Estudou conservação e restauro e ciências sociais. É membro da Associação Portuguesa de Escritores (APE). Trabalha na área de informática. Participou em várias Antologias Poéticas e escreveu o livro “Diálogos da consciência” que serviu para se encontrar consigo próprio numa fase difícil da sua vida. Acha que o mundo poderia ser melhor, se o raciocínio do Homem fosse estimulado. A humanidade só tem um caminho que é amar, amar por tudo e amar por nada, mas amar.

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