Nos dias de hoje deparamo-nos com vários casos de violência contra crianças nas escolas, em instituições (tais como centros de acolhimento de crianças), nas ruas, mas também na própria família.
Uma pequena percentagem destes casos de violência conduz à morte, mas na maior parte das vezes trata-se de violência que não deixa marcas físicas visíveis. Deixa marcas profundas a nível emocional, afetivo, social, cognitivo e comportamental, podendo vir a comprometer todo o desenvolvimento da criança e isso tem impacto na nossa sociedade.
Na maior parte dos casos os efeitos podem afetar a saúde da criança, a sua capacidade de aprendizagem ou mesmo a vontade de frequentar a escola. Pode ainda afetar a forma como se relaciona com os outros e a sua forma de ser ou estar. Este tipo de violência doméstica pode ainda fazer com que as crianças fujam de casa ou adotem comportamentos de risco.
A confiança e a autoestima da criança são destruídas, podendo colocar em perigo as suas capacidades de serem bons pais no futuro. Existe ainda um maior risco de depressão na vida adulta.
Muita desta violência está escondida na “privacidade das famílias” e as crianças não têm muitas vezes capacidade ou coragem para relatar atos de violência de que são vitimas, por terem receio de represálias por parte do agressor ou mesmo por vergonha. Há ainda casos em que as crianças omitem a situação em que vivem para proteger o próprio agressor.
Não raras vezes, nem a criança nem o agressor veem algo estranho nos maus-tratos infligidos, podendo encarar estes atos como uma forma necessária de castigo ou de disciplina, ou mesmo em alguns casos, até mesmo como atos de amor – “ele(a) bate-me porque se preocupa comigo”.
A OMS (Organização Mundial da Saúde) refere que mais de 18 milhões de jovens menores de idade sofrem maus tratos na Europa, sendo que essa é a causa de morte de cerca de 852 crianças abaixo dos 15 anos anualmente. No entanto, os especialistas da organização afirmam que esses números são apenas a “ponta de um iceberg”. Cerca de 29,1% das crianças são maltratadas emocionalmente, enquanto 22,9% sofrem agressões físicas. Quanto a abusos sexuais, 13,4% das meninas são vítimas desse tipo de ação, contra 5,7% de meninos.
Os maus-tratos físicos à criança são frequentemente acompanhados de violência verbal, que consiste em ignorar a personalidade ou a autodeterminação da criança. O resultado desta violência psicológica é a desvalorização, a depravação da criança, o que pode transformá-la num indivíduo não compreendido, desobediente ou mesmo delinquente.
As crianças que não sofrem, mas testemunham atos de violência, podem também tornar-se violentas. Segundo especialistas da área da psicologia, há mais probabilidades de que estas crianças sejam violentas com os seus parceiros na vida adulta do que aquelas que cresceram em lares não violentos.
Ainda segundo especialistas da saúde mental, o trauma emocional pode ser grande ou pequeno, surgir numa ocasião isolada ou repetir-se frequentemente. Pode ter um efeito imediato ou sofredor, ou não ser possível identificar o dano durante algum tempo. Mas uma coisa é certa – independentemente do efeito prejudicial que possa ter, aumenta em potência ao longo do tempo, nunca permanece estático.
Pensemos então nos adultos que queremos para amanhã e que sociedade queremos contruir.