As escolas vivem tempos difíceis, muito difíceis, de grande instabilidade que não garantem a paz e a serenidade, condições imprescindíveis à aprendizagem e ao crescimento dos nossos alunos. As escolas estão na rua, “gritam” cada vez mais alto e com uma “afinação” como há muito não se via. Mas afinal, quais são as “dores” das escolas e dos professores que os levam a ter queixas tão sonoras?
Desde que Maria de Lurdes Rodrigues assumiu a Pasta da Educação (2005-2009), a imagem pública e publicada dos professores foi colocada numa situação extremamente frágil, para não dizer completamente destruída. As declarações que a referida ministra foi proferindo – por exemplo, «não ser relevante» a presença de mais de cem mil professores na rua em protesto que, já na altura (08/03/2008), reivindicavam reconhecimento pelo estatuto e carreira bem como melhores condições de trabalho –, foram ancorando posições de desrespeito, desconsideração, desautorização, muitas vezes de humilhação por parte de múltiplos agentes que vão desde o governo, estruturas nacionais e regionais do Ministério da Educação, jornalistas e comentadores, pais e encarregados de educação, alunos e sociedade em geral.
A imagem miserabilista que foi veiculada, essencialmente desde 2005, faz com que os potenciais candidatos a (novos) professores fujam dessa opção a sete pés. Temos, hoje, uma classe profissional cansada, desiludida, descompensada, sobretudo em termos emocionais, envelhecida e, acima de tudo, injustiçada.
Este grito dos professores não é mais do que uma chamada de atenção para o que está em causa. O que está em causa é o nosso futuro coletivo. Sem bons professores, motivados, reconhecidos, autorizados não é possível garantir uma educação/formação de qualidade.
O que está em causa é o nosso futuro coletivo. Sem bons professores, motivados, reconhecidos, autorizados não é possível garantir uma educação/formação de qualidade.
Os professores têm que ter um tratamento diferente, quer ao nível do horário de trabalho quer ao nível da aposentação. Ao contrário da maior parte das profissões, o professor não tem apenas um local de trabalho. A escola, que deveria ser o seu exclusivo local de trabalho, entra pela casa dos professores e mantém-se lá, com frequência, até altas horas da noite, quer para corrigir trabalhos do dia quer para preparar aulas e/ou outras atividades do dia seguinte. Esta missão, ser professor, não permite indisposições matinais fruto de noites pouco ou mal dormidas porque os vinte ou trinta alunos que a cada hora tem sob a sua responsabilidade não lho permitem.
Estas minhas palavras não ancoram em princípios ideológicos de direita ou esquerda. Estas críticas vão direitinhas a todos os governos dos últimos vinte anos, todos sem exceção, que liquidaram aos poucos, não sei se de forma consciente ou inconsciente, a motivação dos professores.
Mas foi tudo mau na educação nos últimos anos? Não, claro que não. Foram conseguidos resultados extraordinários, essencialmente, na diminuição do abandono, melhoria do sucesso escolar e inclusão, mas estes bons resultados foram conseguidos à custa de um esforço sobre-humano dos professores que não vai e não pode durar sempre.
É tempo de os professores serem ouvidos e, acima de tudo, ATENDIDOS, para que possamos voltar a ter escola!
Estou plenamente de acordo com esta excelente reflexão. Mas de referir que ” … o sucesso educativo” também é fruto desta necessidade de impedir que os alunos fiquem retidos.