Como noticiámos no final de setembro, Nuno Gomes, abrantino, professor de educação física e treinador de futebol, partiu para a China, onde passou a integrar os quadros técnicos da Academia de Futebol de Luís Figo naquele país asiático.

Já em outubro, a nosso convite, Nuno Gomes escreveu sobre o primeiro mês da sua experiência e contou-nos, na primeira pessoa, como tem sido a sua nova vida.

Este mês de novembro, volta-nos a falar de como tem sido viver do outro lado do mundo e em especial de como os chineses vivem o desporto e o futebol em particular.

” É recorrente verificar-se uma grande manifestação de alegria nos jovens quando, seja em treino ou competição, alcançam um objectivo ou desejo.

Um golo marcado, uma defesa efetuada, um passe bem executado ou um drible. Um reforço positivo por parte do treinador ou de outrem, são fatores que levam a que o atleta se sinta feliz e exteriorize a sua sensibilidade com um enorme sorriso, um abraço aos colegas de equipa preconizando um sentimento de união.

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Na China a cultura é um pouco diferente…

Lembro-me que nos primeiros treinos as manifestações emocionais por parte dos atletas eram reduzidas, desde a chegada ao treino, os atletas que chegavam mais cedo queriam uma bola e estar de forma quase isolada a recrearem-se. Durante o treino a timidez imperava, o que é normal numa fase inicial, e quando queriam exteriorizar um sentimento era de forma isolada e muito discreta. Com isto não quero dizer que existisse algum comportamento menos saudável para com os colegas ou treinador, mas somente uma conduta que deveria ser coletiva e era individual.

No final do primeiro treino eu e o meu colega Ricardo, tentámos inteirar-nos sobre esse aspeto da cultura chinesa e foi-nos explicado, pelo nosso manager, que era normal nos desportos coletivos as crianças/jovens não terem o hábito de festejar em conjunto, de imitar os festejos de algum ídolo ou até mesmo de saltar, rir, exteriorizar emoções de forma espontânea ou efusiva.  

Mais um aspeto, do treino, que terá de ser introduzido na cultura desportiva dos Chineses.

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Com o objetivo de aumentar a amizade e potenciar uma ligação saudável entre todos os intervenientes (jogadores, treinadores e pais), comecei por organizar exercícios numa fase inicial do treino que fomentassem a interligação entre eles e a cooperação, terminando com variadas determinantes, entre elas a de cumprimentar o colega sempre que o objetivo fosse alcançado. Mas não queria que o festejo, ou abraço, se tornasse uma obrigação do treino, mas sim uma manifestação espontânea para que todos se sentissem importantes e felizes.

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Gradualmente o objetivo foi sendo conseguido, após 3 meses os atletas já reagem com uma maior afetividade coletiva aos momentos do treino, interagem de forma mais assídua quer com os colegas quer com os treinadores, e já começa a ser normal sempre que marcam um golo festejarem de forma conjunta e mostrarem empatia. Mais importante, percebem que o festejo coletivo demonstra a importância que cada um tem no espírito coletivo de uma equipa.

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É com grande satisfação e orgulho que conseguimos proporcionar um pouco da nossa experiência e conhecimento a outra cultura, tendo em vista, neste caso, o desenvolvimento humano e desportivo do jovem atleta Chinês, mas também é para isso que aqui estamos….”

Tem 41 anos e uma profissão que tudo tem que ver com jornalismo e informação... Engenheiro Eletrotécnico. O gosto pela informação desportiva ganhou-o ainda criança com o pai e a mãe na rádio. A informação escrita é uma nova aventura. Acredita que o desporto é fator de promoção e desenvolvimento regional e de aproximação "das gentes", pelo que noticiá-lo é um imperativo. Praticou várias modalidades, foi treinador e árbitro de basquetebol. É casado e tem uma filha que o obriga a correr. Colabora na Antena Desportiva da rádio Antena Livre, sendo a rádio uma das suas maiores paixões.

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