A narrativa dos últimos meses que tem sido repetida até à exaustão reza que enquanto uns falam, outros fazem. Na última sexta-feira tive o privilégio de ouvir uma atualização desta narrativa. Há os que sonham e há os que fazem.
Isto seria intelectualmente desonesto se antes não fosse simplesmente ridículo. Passo a esclarecer para que não fiquem dúvidas. Os que falam e sonham nem sempre têm acesso aos meios para fazer e os que podem fazer, normalmente não sabem falar nem sabem sonhar. Além do mais, não basta fazer. É preciso saber fazer.
Mas reconheça-se aqui o passo em frente em relação ao passado recente. Apesar de a presunção permanecer indelével e a provocação continuar a fazer parte do ADN, o autismo parece menos agudo e algumas das boas ideias que continuam a nascer nos sonhos de alguns que não têm acesso aos meios, começam arrogantemente a ser aproveitadas.
Mas numa coisa estamos de acordo. É preciso pensar. É preciso pensar, mas de preferência antes de executar. E aqui, volto a ter dúvidas porque a ânsia de mostrar obra feita dá resposta aos impulsos quando devia responder à estratégia.
Àquela que não se deixa ver por trás da agressividade, acreditando a voz alta que intimida e consegue esconder a realidade. Não tenho dúvidas que muitos ainda se deixarão enganar, mas também vou tendo a certeza que o apoio silencioso vai ganhando dimensão e simpatizantes.
Talvez seja isso que esteja a incomodar. Com tão pouco conseguir influenciar para que se faça tanto.
É óbvio que esse mérito é desvalorizado ou nem sequer é reconhecido, mas esse reconhecimento torna-se desnecessário para quem sabe que está do lado certo da história. E a história está repleta destes episódios com verdades reconhecidas a prazo que foram criticadas no presente.
É isso que nos deve dar a força suplementar para ultrapassar os obstáculos do caminho. A força da certeza que só devemos reagir quando não temos um rumo acrescida da humildade que é com todos que devemos rumar se queremos chegar mais longe.