A Rota Cultural e Etnográfica das Ribeiras da Arcês, do Rio Frio e do Rio Tejo que ganhou o Orçamento Participativo Portugal em 2017 foi inaugurada este sábado, dia 26 de setembro, em Mouriscas, junto à milenar Oliveira do Mouchão, alguns meses depois do inicialmente anunciado, cerimónia adiada devido à situação de pandemia de covid-19. A Associação Cultural das Rotas de Mouriscas (ACROM) promotora do projeto espera agora pelos visitantes e pedestrianistas que possam também alavancar e dinamizar a economia da região, disse o presidente António Louro. Com 47 km de extensão, a Grande Rota das Ribeiras de Arcês, Rio Frio, e Rio Tejo atravessa várias aldeias e pontos de interesse cultural e natural nos concelhos de Abrantes, Mação e Sardoal.
A Grande Rota das Ribeiras de Arcês e Rio Frio, e do Rio Tejo (GR 55), que atravessa os concelhos de Abrantes, Sardoal e Mação, foi por fim inaugurada junto à Oliveira do Mouchão, em Mouriscas, na presença de Ermelinda Marques, a mourisquense que doou a Oliveira do Mouchão à Junta de Freguesia de Mouriscas. Presentes estiveram também os presidentes das Câmara Municipais de Abrantes, Mação e Sardoal, bem como Rui Santos, representante da Direção Geral do Património Cultural, o presidente da Junta de Freguesia de Mouriscas, Pedro Matos, entre outros autarcas e diversos elementos da ACROM.
“Foi um longo processo de três anos que atravessou algumas dificuldades, situação que arrastou os prazos de execução da GR 55, mas o mais importante foi termos trazido o projeto a bom porto”, começou por dizer o presidente da ACROM, António Louro, e preponente da proposta vencedora.
A GR 55 atravessa várias aldeias dos referidos concelhos, passando em zonas de património cultural, como é o caso da Oliveira do Mouchão, bem como pela Zona de Lazer da Lapa (Sardoal) e pela Queixoperra (Mação). “Será brevemente homologada e até já passou a ser percorrida por imensos caminhantes”, disse António Louro justificando a inauguração nesta data 26 de setembro.

Classificada como “um diamante bruto que precisa de ser lapidado” por António Louro, a GR 55 apresenta presentemente “apenas a espinha dorsal daquilo que falta fazer. A valorização e recuperação de um vasto património existente ao longo dos 47 quilómetros da Grande Rota é uma tarefa para os anos vindouros. Da nossa parte esse desafio já começou e iremos tentar recuperar algumas estruturas existentes de forma aumentar o potencial cultural e turístico e obter algum retorno económico para o nosso território”.
Esta Grande Rota conta neste momento com duas azenhas a funcionar e brevemente terá a terceira. Segundo António Louro, em declarações ao mediotejo.net, a GR 55 “é um processo de recuperação de um património mais vasto que temos ao longo da Rota, das ribeiras”. Algumas ideias já existem, “uma delas está no PDR 2020 e aguardamos aprovação da candidatura para recuperar mais uma azenha”.
Conta que perto da Oliveira do Mouchão há também “um forno antigo para artefactos em barro cozido, uma peça única das muitas que haviam nesta região. Tencionamos recuperar, embelezar e mostrar essa estrutura, interligar com a Rota. E outras… queremos recuperar um moinho dos dez que existem em Mouriscas, recuperar uma nora monumental, bonita, alta com três pilares junto à zona de Caldeiras de Ribeira de Arcês”.
E “se deixarem sonhar” a ACROM, a intervenção chegará ao canal de Alfanzira “histórico do tempo dos Filipes, precisa de uma recuperação, é bonito. Onde antigamente, com o Tejo navegável, as embarcações eram puxadas à sirga, a partir das margens e era assim que se transportavam as mercadorias”.
Projetos que a associação quer recuperar “em função dos apoios que forem chegando” nota António Louro. Um património próximo, a 100 ou 150 metros, e algum mesmo na Grande Rota, será “uma questão de sinalética ou de um painel direcional e as pessoas visitam, voltam à Rota e seguem o percurso”.

A Grande Rota das Ribeiras de Arcês, Rio Frio e do Rio Tejo conta então com 47 quilómetros “e é pensada para ser percorrida em três percursos, embora possa ser de uma só vez”: Mouriscas (Abrantes) – zona de lazer da Lapa (Sardoal); zona de lazer da Lapa – Queixoperra (Mação); e Queixoperra – Mouriscas.
“Muitas pessoas conhecem parte do percurso porque a ACROM foi fazendo caminhadas e desbravando trilhos onde passa a Rota. Uma parte significativa dos mourisquenses já conhece e agora com a inauguração melhor! Sendo que está sinalizada de forma mais eficiente. Contamos com o desanuviamento da pandemia para virem mais pessoas. A ACROM já trouxe aqui grupos de Lisboa. Vêm de autocarro, dormem por aí nas residenciais, fazem as caminhadas, almoçam e regressam às suas terras. É isto que nos interessa, no sentido de captar alguma dinâmica económica porque tem de haver algum retorno para o turismo local”, afirma António Louro, acreditando no “sucesso” da Rota.
Esta grande rota será homologada pela FCMP – Federação de Campismo e Montanhismo de Portugal, com ligação a várias pequenas rotas e com a GR 12 (Caminho do Tejo), passando também em zonas de património cultural, nomeadamente a oliveira do Mouchão (Mouriscas – Abrantes), a calçada romana existente no Casal de Santa Graça (Valhascos – Sardoal) e ainda a Anta de Rio Frio (Ortiga – Mação).
O projeto inclui 5 pontes em madeira, no atravessamento das duas ribeiras, três painéis centrais, um em cada concelho, 12 painéis mais pequenos, várias intervenções levadas a cabo pela empresa Floema responsável pela sinalética da Rota, num investimento que rondou os 80 mil euros.

Na cerimónia de inauguração, após o descerramento da placa, o presidente da Junta de Freguesia de Mouriscas, Pedro Matos, começou por admitir que “esta não é a inauguração que todos desejávamos e que este projeto merece mas é a possível nestes tempos de pandemia” esperando que “a Grande Rota seja benéfica para todos, um desafio dos caminhantes e amantes da natureza. Que aproveitem o ar puro e as lindas paisagens que o interior tem”.
Por seu lado, Vasco Estrela, presidente da Câmara Municipal de Mação, lembrou que esta Grande Rota “nasce muito do impulso da sociedade civil, desta associação que através do Orçamento Participativo tentou encontrar os meios para concretizar este projeto”.
O autarca sublinhou ainda o empenho das três câmaras municipais considerando “importante, cada vez mais, esta ligação intermunicipal para a valorização do nosso território e projetos comuns”.
Por último destacou a relevância de “tirar partido daquilo que os territórios têm de bom, para mostrar aos nossos visitantes, e as pessoas dos nossos concelhos que muitas vezes não conhecem a nossa realidade. Um fator importante para o desenvolvimento das nossas terras, com a recuperação das azenhas e de outros locais que possam ser visitados”.

Miguel Borges, presidente da Câmara Municipal de Sardoal, destacou “a resistência da natureza e a resiliência destes jovens membros da ACROM que acreditaram, que fizeram projeto e foram para a frente. Hoje é uma realidade” num território do interior “onde não falta qualidade. Nesta Grande Rota podemos mostrar a qualidade da beleza da nossa natureza. […] Mas a grande riqueza é o património humano”, disse.
A encerrar a cerimónia o presidente da Câmara Municipal de Abrantes, Manuel Jorge Valamatos, assinalou um conjunto de tópicos entendidos como “fundamentais” no dia de inauguração. Desde logo elogiou a capacidade do proponente António Louro de “transformar uma ideia num projeto de valorização do nosso território com este investimento de 80 mil euros, enaltecer a criação da ACROM como consequência deste projeto”.
O autarca exaltou também “a importância dos mecanismos de democracia participativa e a relevância que os cidadãos podem e devem ter nos processo de codecisão e nos investimentos públicos” e engrandeceu “o trabalho de tantos voluntários sobretudo mourisquenses e da empresa Floema por esta tremenda empreitada que permite descobrir lugares perdidos e desfrutar dos mais belos quadros da nossa natureza, valorizar a água e os nossos recursos hídricos aqui também celebrados. E a necessidade constante de preocupação ambiental, para a sua preservação”.
Salientou ainda “o intercâmbio cultural das nossas gentes, costumes e tradições. Reforçar que somos cada vez mais adeptos do turismo, do desporto na natureza e da segurança e proximidade. Hoje é isto que é aqui celebrado mesmo nestes tempos de incerteza”, afirmou, assumindo “o compromisso de continuar a preservar esta Grande Rota”.

na inauguração da Rota Cultural e Etnográfica das Ribeiras da Arcês, do Rio Frio e do Rio Tejo – GR-55. Créditos: mediotejo.net
Na ocasião, o mediotejo.net falou também com Ermelinda Marques que contou ter pensado em “dar a Oliveira do Mouchão a um primo para fazer lenha mas antiga presidente da Junta de Mouriscas não me deixou, disse: não faça isso, que é património português! Então resolvi dá-la à Junta de Freguesia”, doação o que foi oficializada a 28 de fevereiro de 2019.
Ao ver recuperada a Oliveira do Mouchão, árvore com 3350 anos, Ermelinda Marques manifesta-se “muito contente! Era do meu avô, passou para a minha mãe e agora é de todos, um património” de Portugal.
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