O Festival Mourisco, evento histórico e cultural a realizar em Mouriscas, proposto por Amadeu Bento Lopes, no âmbito da primeira edição do Orçamento Participativo de Abrantes, vai decorrer na sede de freguesia entre 26 e 28 de maio. As inscrições para a participação estarão abertas até dia 13 de abril, contando-se com voluntários que adiram à iniciativa e que queiram trajar a rigor. A ideia é fazer uma recriação histórica, numa viagem ao mundo medieval, indo ao encontro da história de Mouriscas.

O vereador com o pelouro da Cultura da CMA, Luís Dias, procedeu à apresentação da dinâmica do projeto, feito em parceria, que consiste na realização do evento de recriação histórica, com um orçamento global de 60 mil euros, definido pelo Orçamento Participativo 2016, iniciativa que deu o segundo lugar a este projeto no ranking de propostas mais votadas, com 160 votos.

A data de realização será entre 26 e 28 de maio; os horários vão variar entre as 14h00 e a 01h00 de sexta-feira, as 11h00 e a 01h00 de sábado, e as 11h00 e as 22h30 de domingo.

Dentro da contextualização histórica do evento, o vereador da CMA explicou que se enquadra no período de Al-Andaluz, no povoado agora conhecido por Mouriscas, onde coexistiam povos árabes e cristãos. Durante o processo restaurativo e de formação do Reino de Portugal, a população moçárabe (cristã) lutou pela liberdade, mantendo sempre um espírito tolerante e de abertura ao diálogo, lia-se na apresentação projetada.

Deste modo, o evento de recriação histórica nos séculos X e XI, pretende ser “uma viagem única ao mundo medieval de um imaginário mourisco em tempo de reconquista cristã”.

O festival conta ainda com 3 momentos de recriação previstos, com chegada da caravana moura a 26 de maio, o ataque às mouras no sábado, dia 27, e no último dia do festival, domingo, prevê-se que as duas culturas estejam já em harmonia.

Quanto à distribuição do espaço, terá várias zonas de realização, incluindo a Liça (treino de cavalos) e zona de espetáculos de contextualização, área de jogos e brincadeiras, áreas alimentares/restauração, área de mercadores (barraquinhas e artesãos) e os dois acampamentos, o cristão e o mouro.

As formas de participação são várias, assentes em participação voluntária e consideradas mediante inscrição até dia 13 de abril em local designado no site da CM Abrantes e na página de Facebook que será criada para o evento. As participações podem variar entre a recriação, animação e expositor/mercador com artesãos e artífices, que promovem a venda de produtos artesanais ou recriam os ofícios da época.

O regime de voluntariado funciona mediante inscrições abertas até dia 13 de abril, para que possam ser acionados seguros,  e ser dada formação específica para a área escolhida de participação, tendo ainda alimentação assegurada durante o evento (caso esteja em mais do que um turno).

Vão ser promovidos 6 workshops cujo objetivo passa pela preparação dos vários intervenientes inscritos, sendo decoração de espaços comerciais e residenciais (toda a comunidade), construção de figurinos (pessoas com alguns conhecimentos de costura), criação de postos de venda (Interessados em construir bancas para venda de produtos), criação de personagens (todos os interessados em teatro – idade mínima de 8 anos, desde que acompanhados por responsável adulto), arte militar medieval (técnicas de combate) para homens e mulheres maiores de 18 anos, e danças coreografadas (todos os interessados em dança), sendo a idade mínima de 8 anos, desde que acompanhados por responsável adulto.

Amadeu Bento Lopes, o proponente deste projeto, considera-se o “mentor da ideia”, o “idiota” deste projeto, reconhecendo que a estrutura apresentada foge um pouco àquilo que pretendia que fosse executado. Na sua visão este seria um projeto para descobrir as raízes e assente numa base tradicional. “É difícil as pessoas terem ideias, estamos a ser escravos das ideologias de outros e somos pouco criativos. E eu tento ser o mais criativo possível”, referiu, em declarações ao mediotejo.net.

Quanto à estrutura apresentada na tarde desta segunda-feira, no auditório da EPDRA, em Mouriscas, o mentor considerou que está “um bocadinho aquém. Mas é normal, quando intervém sempre mais que uma pessoa, há sempre duas cabeças, três sentenças”, assumiu.

Questionado sobre o receio que foi mencionado nas intervenções das autarcas de Abrantes e Mouriscas, Amadeu Bento Lopes disse que não deve ser motivo para que o festival não seja uma realidade.

“As pessoas têm características próprias de serem mouras. O mourisco é, a nível nacional e provavelmente além das nossas fronteiras, tem muito poucas características próprias, e o ser português também. Vamos buscar tudo lá fora, mas depois falta-nos criar as nossas raízes, é o que quero procurar encontrar para nos identificarmos cada vez mais. Sermos mais bairristas, sermos como outras freguesias em busca da tradição, mais valorizável porque temos grandes qualidades e às vezes vamos buscar projetos fora. Isto é retroceder mil anos atrás, tão simples quanto isso”, explicou.

Quanto a expectativas, o mentor do projeto espera que “venha gente de todo o lado (…) a proposta é envolver, envolver, envolver, cada vez mais. Os mourisquenses, a comunidade abrantina, a comunidade vizinha, comunidade escolar e as forças vivas do concelho”.

“A comunicação foi ligeiramente tardia, mas tarde é o que nunca vem, e estamos sempre a tempo, assim as pessoas o queiram fazer”, terminou.

Presente na apresentação esteve a autarca da freguesia de Mouriscas, Maria Teresa Dinis, que frisou a importância da realização do primeiro Orçamento Participativo de Abrantes bem como a sua continuidade em próximas edições, para que “os mourisquenses possam unir-se uma vez mais com novos projetos”, lembrando a proposta vencedora, também em Mouriscas, de requalificação do Largo Espírito Santo, pelo proponente António Louro.

Maria Teresa Dinis agradeceu ainda a ideia submetida por Amadeu Bento Lopes que acabou por ser acarinhada pelos cidadãos que a votaram, ainda que tenha ficado receosa pelo facto de esta ser uma ideia difícil de implementar.

Maria do Céu Albuquerque, presidente da CM Abrantes, lembrou que a iniciativa, por ser uma estreia, poder correr muito bem ou pode ser fracasso, uma vez que por ser novidade acarreta sempre riscos.

Ainda assim, a presidente da CMA apelou para que todos possam juntar-se à organização e às entidades, levando o projeto avante, mostrando ainda estar “convicta de que vai ter uma forte adesão”.Recorde-se que o Festival Mourisco foi a segunda proposta mais votada entre as quatro vencedoras do Orçamento Participativo de Abrantes, no ano 2016. Resgatou 120 votos e prevê 60 mil euros de despesas. Agora uma realidade, o Festival Mourisco, evento histórico/cultural, surgiu de proposta de Amadeu Bento Lopes que pretende congregar em 3 dias as várias comunidades escolares, coletividades do concelho de Abrantes, de diferentes faixas etárias, e reunir atores de atividade comercial a nível local e nacional.

Esta atividade surge das propostas recolhidas pela CMA, no âmbito do Orçamento Participativo que se realizou em 2016 pela primeira vez no concelho de Abrantes e que deu oportunidade à população de apresentar as suas sugestões.

Na altura da divulgação de resultados do OP 2016, o proponente havia dito ao mediotejo.net que este evento cultural e histórico idealizado para o fim do último ciclo escolar, seria operacionalizado em 3 localizações da freguesia de Mouriscas, criando uma ‘Aldeia Mourisca’, sendo o 1º posto na escola do 1º ciclo de Mouriscas, a 2ª localização no campo de futebol das Aldeias e a 3ª na Rua Matias Lopes Raposo, tendo continuidade até ao largo Dr. João Gualberto Santana Maia, dado os pontos de proximidade entre si.

O objetivo, segundo Amadeu Bento Lopes, é “recriar e manter uma identidade histórica/cultural e de continuidade para todos, no sentido de perceber e fazer entender os indícios existentes, aquando da existência do Povo Lusitano e ainda o aparecimento da designação dos povos Mouros fazendo assim uma alusão também à origem do nome ‘Mouriscas’ “.

Na ocasião, em declarações ao mediotejo.net, o proponente mostrou-se visivelmente admirado com a aprovação da proposta e com o número de votos reunidos. “Temos sempre esperança em conseguir validar as nossas ideias”, comentou.

“A ideia surgiu por eu já acompanhar eventos históricos e medievais há 5 ou 6 anos, e entretanto vi que Mouriscas tem potencial para fazer qualquer coisa desse género. É tentar unir o útil ao agradável para promover a nossa terra”, explicou.

O projeto pretende assentar numa estratégia de valorização do património mourisquense, ao mesmo tempo que pretende apelar à fixação da população jovem e divulgar a identidade e a história junto da comunidade. “As pessoas às vezes são alheias à cultura e à nossa história, têm tendência a menosprezar e a esquecer”, salientou Amadeu Bento Lopes.

O proponente assumiu ter divulgado a proposta junto das pessoas, partilhando ainda a ideia via redes sociais. “Há muito tempo que tenho esta vontade e as pessoas já conheciam a ideia. Depois foi falar, divulgar junto das pessoas, pois considero que esta é uma proposta inclusiva, engloba o concelho”.

Formada em Jornalismo, faz da vida uma compilação de pequenos prazeres, onde não falta a escrita, a leitura, a fotografia, a música. Viciada no verbo Ir, nada supera o gozo de partir à descoberta das terras, das gentes, dos trilhos e da natureza... também por isto continua a crer no jornalismo de proximidade. Já esteve mais longe de forrar as paredes de casa com estantes de livros. Não troca a paz da consciência tranquila e a gargalhada dos seus por nada deste mundo.

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