Luís Miguel Jerónimo nasceu em Lisboa há 34 anos, cidade onde vive, mas tem as raízes bem plantadas em Vila de Rei. Créditos: mediotejo.net

Miguel Jerónimo foi vereador eleito pelo PS em Vila de Rei, atualmente é deputado municipal naquele concelho, e trabalha em defesa do ambiente, desde 2015 ligado ao GEOTA – Grupo de Estudos de Ordenamento do Território e Ambiente. Na verdade, coordena para o GEOTA projetos de reflorestação na Serra de Monchique, Pinhal de Leiria e Serra da Estrela, territórios fortemente fustigados pelos incêndios. Acredita que as novas gerações são menos consumistas e que o capitalismo tem os dias contados. Economicamente defende algum protecionismo e o consumo através de cadeias curtas. Diz que em Portugal o grande problema é “executar” e defende um pagamento por serviços de ecossistemas, em benefício dos territórios do interior.  

Luís Miguel Jerónimo nasceu em Lisboa há 34 anos, cidade onde vive, mas com raízes bem plantadas em Vila de Rei, onde vivem os pais. O pai é da aldeia de Milreu, onde cresceu, e a mãe também lá viveu, embora seja oriunda de uma aldeia do concelho de Abrantes, Matagosa, colada ao concelho de Vila de Rei.

Lembra que os pais pertencem àquela geração que teve de migrar para Lisboa, à procura de melhores oportunidades de vida q ligada aos tribunais por via profissional. Quando se reformaram voltaram às origens, portanto Miguel sempre teve uma grande relação com a região. “Ir à terra é uma coisa que fazíamos todos os fins de semana”, recorda.

“Fico muito feliz por ter terra. Hoje em dia há muita gente que cresce em Lisboa e já não tem essa ligação ao resto do país. Isso para mim é muito querido”. Os verões eram passados em Vila de Rei e “acho que de certa maneira influenciou quer a minha escolha, o meu percurso académico”, diz, ao acrescentar ter escolhido arquitetura paisagística, mestrado que tirou no Instituto de Agronomia de Lisboa. Infelizmente viu a região arder muitas vezes.

“Acho que me deixou marca, não só ligação mas depois a questão do desastre, do impacto que isso tinha nas pessoas, acho que deixou semente para que hoje tenha decidido criar e desenvolver projetos” de reflorestação. Quando terminou o curso de arquiteto paisagista, Portugal atravessava “o pico da crise” de 2011 e “havia um brutal desinvestimento público e brutal desemprego” pelo que trabalhou dois anos a recibos verdes para o Instituto Nacional de Estatística.“

“Nada a ver com a minha área, mas teve de ser”. Desde 2015 que está ligado ao GEOTA – uma Organização Não Governamental (ONG) de ambiente que nasceu a partir de uma ideia base: considerar o ambiente como um fator central de desenvolvimento. Desde então desenvolve projetos de ordenamento do território e de gestão ambiental, sendo que, desde 2019, desenvolve profissionalmente e a 100% os Renatures. Falámos com o ambientalista que se descreve como um ativista acionista, tendo em conta que atua no terreno. A entrevista decorreu no Museu da Geodesia, ao lado do Picoto da Melriça, no Centro Geodésico de Portugal.

Luís Miguel Jerónimo nasceu em Lisboa há 34 anos, cidade onde vive, mas tem as raízes bem plantadas em Vila de Rei. Créditos: mediotejo.net

Coordena para o GEOTA projetos de reflorestação em Monchique, Pinhal de Leiria e Serra da Estrela. Qual foi o real impacto dos incêndios nestes locais e o que está planeado fazer nesses territórios ardidos?

O GEOTA é uma organização que nasceu em 1981, portanto já tem mais de 40 anos de história. Desenvolve projetos de Norte a Sul do país e sempre teve, e continua a ter, um impacto muito grande nas mais diversas matérias; no ambiente, no ordenamento do território. O Renature é um resultado disso, nasceu em 2019. O ano de 2017 foi o annus horribilis dos incêndios, não só pela área ardida – ardeu mais de meio milhão de hectares – mas pelas vidas humanas que se perderam. Esperemos que nunca mais aconteça uma tragédia semelhante. Em 2018 deu-se o incêndio de Monchique que foi o maior incêndio da Europa nesse ano, arderam cerca de 27 mil hectares. A área ardida nacional não foi muito elevada nesse ano mas efetivamente o incêndio de Monchique foi catastrófico de dimensões semelhantes ao da Serra da Estrela em 2022. Nós, GEOTA, já trabalhávamos naquela área com outro projeto, sobre estas temáticas mas do ponto de vista da investigação e não da ação em si. Estávamos a meio desse projeto deu-se o incêndio e houve uma reorganização da estratégia em que se desenvolveram programas de intervenção, modelos de gestão, para áreas ardidas. No início de 2019 houve um interesse de um investidor privado, no caso da empresa Ryanair, no âmbito da sua responsabilidade social, e parcerias ambientais de financiar um projeto com ações de reflorestação em Monchique. Há uma ligação pessoal e afetiva da parte do CEO da Ryanair – tem uma casa em Silves, quando se deu o incêndio, a família estava na sua casa e viu aquilo de perto e foi um motivo. Era o primeiro ano que a Ryanair criava as suas parcerias ambientais e houve uma ligação afetiva, deu-se a oportunidade. Menos de 6 meses depois do incêndio em Monchique já estávamos no terreno a planear, juntamente com proprietários, ações de reflorestação. O incêndio foi em agosto 2018 e começamos no terreno, a planificar tudo, em março de 2019. As intervenções no terreno começaram em outubro desse ano; ou seja um ano depois estávamos no terreno, com equipas a apoiar proprietários na serra de Monchique.

Em Portugal há uma dimensão muito diferente do resto da Europa e do mundo; aqui 98% da propriedade florestal é privada. Quando falamos de grandes incêndios são pessoas reais que são afetadas e que perdem 100% da sua atividade económica ou um complemento à sua atividade económica, ou viram as suas casas arder. Sem falar da perda de vidas humanas, não foi o caso de Monchique, mas efetivamente há uma perda brutal por parte das pessoas. Tem que haver proatividade, há momentos de prevenção mas também no pós incêndio que é preciso ativamente recuperar e apoiar as pessoas na reflorestação das suas propriedades. E obviamente implementar modelos de gestão que as tornem mais resilientes aos futuros incêndios que infelizmente sempre fizeram e sempre vão fazer parte da nossa paisagem.

Como é o processo de reflorestação em Monchique?

No caso de Monchique as ações são adaptadas às espécies que lá existem e que há uma ligação produtiva com o território, isto é, as ações que fazemos na serra de Monchique, são sobretudo com produtores de cortiça e medronho. Trabalho com esses produtores que viram a sua propriedade arder, que tiveram um decréscimo na sua produtividade e fazemos integralmente, a 100%, a reflorestação das propriedades que arderam. Portanto, daqui a 20 anos – o sobreiro demora 30 anos a dar rendimento mas do medronheiro ao sétimo ano já conseguem tirar rendimento das plantas – não é só um contributo para recuperar ambientalmente a área, para dar resiliência, também é um apoio à economia e aos produtores locais.

Ou seja, além do impacto ambiental e económico é ponderado o impacto social?

Sim. A dimensão social é muito relevante no Renature Monchique porque estamos a trabalhar só com proprietários privados. Vamos no quarto do projeto e resulta num milhão de euros de investimento privado naquele território. Neste momento trabalhamos com 60 proprietários numa área de cerca de 900 hectares. O nosso objetivo é chegar aos dois mil hectares, há aqui também um limite naquilo que é a nossa operação, mas todos os anos tentamos adicionar novos proprietários, nova área, não só no aspeto de reflorestação mas também no aspeto de apoio à gestão.

São conciliáveis; o económico, social e ambiental?

Têm de ser! Só conseguimos mudar o território se houver um equilíbrio entre estes três pilares; económico, social e ambiental. Qualquer outro modelo é de curto prazo. Tudo o que não tiver este equilíbrio é um modelo de curto prazo que pode dar retorno imediato mas a longo prazo não vai acrescentar nada ao território. O exemplo são as monoculturas de eucalipto que trazem retorno imediato para os proprietários mas a longo prazo degradam e desertificam os territórios.

A Serra da Estrela por exemplo, foi o mais catastrófico incêndio de 2022, deixou marcas profundas na Serra – arderam cerca de 25 mil hectares -, andando no terreno que perceção tem relativamente à razão daquele incêndio tomar aquelas proporções, e o que é que se perdeu realmente?

O Parque Natural da Serra da Estrela tem um património natural mundial da UNESCO, ou seja, temos ali relíquias, habitats e espécies que não existem e mais lugar nenhum deste planeta. É compararmos o arder de um monumento que é património mundial, é uma coisa única, portanto é um impacto muito grave na componente ambiental. Depois há outros impactos: as pessoas, os produtores, os baldios. Naquela zona há uma forte presença dos baldios, é com essas entidades que estamos a trabalhar, é um gestão comunitária, cooperativa dos terrenos. Também houve uma grande perda no aspeto social e económico. Quanto ao que correu mal – obviamente não sou especialista, é pura opinião – mas creio que algum relaxamento de meios.

O principal problema é na prevenção, ou seja, não há uma real prevenção face aos incêndios, o combate ao incêndio é uma mitigação de danos, o problema já lá está. Mas é na prevenção que conseguimos fazer a diferença. Depois como é que um incêndio que estava controlado volta em força e fica quase mais uma semana a arder, obviamente que há uma má gestão de meios, algum relaxamento, descoordenação. Mas não me quero focar muito nisso, embora do ponto de vista de Proteção Civil tem de ser resolvido. Monchique também foi um caso semelhante, a certa altura o fogo estava quase controlado, houve desmobilização de meios e o fogo voltou em força, ficou fora de controlo e esteve quase uma semana a arder. Nestes incêndios catastróficos há sempre erros operacionais no terreno, mas o maior erro de todos é a falta de prevenção, de ordenamento de território e gestão que este País tem.

Qual é o plano para a Serra da Estrela?

A Serra da Estrela ardeu em 2017 e agora em 2022. O projeto começou a ser montado antes deste último incêndio, neste momento o projeto está a operar em áreas afetadas em 2017. E agora estamos a expandir o projeto para as áreas afetadas em 2022. Esperemos que no final deste ano já consigamos incorporar alguma parte dessas áreas. Estamos a trabalhar sobretudo com as entidades gestoras de baldios, baldios que gerem 2 a 3 mil hectares. Um baldio é uma espécie de cooperativa em que as pessoas em vez de gerirem a sua propriedade individualmente juntaram-se, normalmente à volta de uma aldeia, de uma comunidade no terreno, e gerem todas as propriedades como se fosse uma. No caso a área que estamos agora a começar a trabalhar é dos baldios de Cortes do Meio, uma aldeia perto da Covilhã, ardeu em 2017, e são 700 compartes em cerca de 3 mil hectares. Ali o modelo é apostar num mix de espécies, pinheiro bravo, castanheiro, azinheiro, sobreiro e medronheiro. A lógica passa por haver um mosaico agroflorestal bio diverso que depois possa ter diferentes produtos.

O pinheiro sobretudo para madeira e resina, o castanheiro para a castanha ou madeira nobre, medronheiro para a aposta no medronho, sobreiro para a cortiça e azinheira mais no aspeto de proteção e conservação de algumas áreas que ali existem. É sempre desenvolvido de forma a ter um equilíbrio entre os três eixos, não é um modelo 100% produtivista e extrativista, não é um modelo 100% conservacionista e protecionista do ambiente, da natureza, e também não é 100% focado no aspeto social.

Com base nesse mosaico agroflorestal bio diverso, ordenado e gerido, acreditamos que é o caminho para termos um território mais resiliente aos incêndios. Não quer dizer que não arda, mas mesmo ardendo temos espécies adaptadas aos incêndios – medronheiro, sobreiro, azinheira – conseguem recuperar.

São dois aspetos: maior resiliência face a um incêndio, prevenir que o incêndio aconteça, e se o incêndio acontecer termos um território melhor adaptado e resiliente para que a regeneração natural, e a sua própria recuperação natural, seja melhor do que aquilo que era antes com uma única monocultura e com desordenamento.

Projeto Renature. Créditos: GEOTA

Portanto são projetos que funcionam em parcerias. Quantas árvores foram plantadas através das ações de reflorestação de áreas ardidas em 2022.

No caso de Monchique é a Raynair, para além disso temos parceiros a Câmara Municipal de Monchique, o Turismo do Algarve, o Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas. No caso do Pinhal de Leiria, sendo uma área pública, o parceiro é o ICNF, no caso da Serra da Estrela é a entidade gestora dos baldios de Cortes do Meio. A entidade financiadora do Pinhal de Leiria e da Serra da Estrela é uma organização norte-americana One Tree Planted que financia projetos de reflorestação.

No Pinhal de Leiria o investimento será de um milhão e 600 mil euros, e na Serra da Estrela será nesta primeira fase cerca de 500 mil euros mas já estamos em negociação para duplicar o montante do investimento até ao final deste ano, portanto passar para 1 milhão de euros.

Em Monchique plantámos cerca de 240 mil árvores, num ambiente de serra onde a topografia muitas vezes é desfavorável os resultados são mais conservadores, até ao final do mês [a entrevista decorreu em fevereiro de 2023] queremos chegar às 270 mil árvores plantadas, desde o início. No Pinhal de Leiria plantámos até agora 250 mil árvores, o objetivo é chegar até ao final deste mês com 360 mil.

Na Serra da Estrela arrancámos agora em janeiro, vamos começar a preparação do terreno na próxima semana e começar as plantações daqui a duas semanas e até março iremos plantar 50 mil árvores.

Mas no geral, no Pinhal de Leiria até 2026 – data em que termina o projeto – iremos plantar em 1100 hectares 1 milhão e 300 mil árvores – pinheiro bravo, pinheiro manso, sobreiro e medronheiro. Na Serra da Estrela até março de 2024, 340 mil árvores, neste momento já estamos em negociações com mais um parceiro privado para expandir o projeto para alcançar pelo menos 700 mil árvores plantadas até 2026.

Porquê estes valores?

O Renature é realmente pioneiro em Portugal porque não são projetos de voluntariado. Temos equipas profissionais que executam as ações do princípio ao fim. Em Monchique temos 12 trabalhadores, em Leiria cerca de 12 a 15 – às vezes varia consoante as intensidades no terreno – e na Serra da Estrela no final do ano contamos ter 18. Ou seja, o voluntariado é importante do ponto de vista da sensibilização da comunidade local, da educação, e fazemos pontualmente essas ações. Para o trabalho ficar bem feito, para ter impacto, tem de haver uma especialização técnica e uma capacidade profissional de intervenção. Estes projetos estão no terreno de segunda a sexta-feira, faça chuva, sol ou neve, independentemente das intempéries temos as equipas no terreno a trabalhar e é esse modelo que implementamos.

Muitos dos projetos que existiam em Portugal de reflorestação, de associações de ambiente e às vezes parcerias público-privadas são importantes, não menorizo a importância desses projetos, mas efetivamente para termos um impacto na escala dos 900 hectares em Monchique para chegar aos dois mil – no caso no Pinhal de Leiria estamos a falar de 1100 hectares que representa 10% do Pinhal de Leiria, e no caso da Serra da Estrela que queremos chegar a 450 hectares até ao final do ano -, para se intervir nesta escala são precisos recursos e capacidade de intervenção.

Luís Miguel Jerónimo nasceu em Lisboa há 34 anos, cidade onde vive, mas tem as raízes bem plantadas em Vila de Rei. Créditos: mediotejo.net

Como é o processo, como colocam as equipas nos terrenos que maioritariamente como disse são privados? Os proprietários concordam sempre com as espécies que são plantadas nos seus terrenos?

Na Serra de Monchique e na Serra da Estrela, onde os terrenos são privados, há uma fase de planificação. Quando chegamos ao terreno já está tudo planeado e definido. Em Monchique recorremos a técnicas antigas, nos meses de maio, junho quando fazemos campanha de angariação de proprietários, espalhamos cartazes, flyers pelos negócios locais, restaurantes, mercearias. E aí temos uma forte parceria com a Câmara Municipal que nos ajuda nessa matéria. Colocamos alguns anúncios nas redes sociais a dizer as espécies que iremos plantar, as áreas afetadas, e quem tiver interessado para entrar em contacto connosco. Logo aí, ao entrar em contacto connosco quer dizer que a pessoa tem um interesse, é muito mais fácil. De seguida combinamos uma reunião no terreno, com a equipa de coordenação vamos com o proprietário ao terreno, avaliamos o que podemos fazer, tentamos encaixar o que ele quer e o que podemos fazer, há alguma flexibilidade nisto. Nesse momento que se define e “negoceia” o que vai ser feito no terreno.

Depois faz-se o design de intervenção, o planeamento, etc. Normalmente ocorre nos meses de maio a setembro, onde vamos aos 20 proprietários – todos os anos tentamos adicionar 20 proprietários -, assinamos os contratos. Para as plantações normalmente começa a preparação do terreno em outubro e as plantações em novembro para serem depois das primeiras chuvas. As plantações duram até finais de fevereiro. Em março, abril e maio são as ações de gestão, para resiliência dos incêndios, ou seja, fazer limpezas dos matos, um controlo de matéria orgânica, para que tenha maior proteção e resiliência face a incêndios e para conduzir os povoamentos. Depois reinicia o ciclo.

No caso de Leiria e da Serra da Estrela é ligeiramente diferente; em Leiria porque já há um Plano de Gestão Florestal aprovado, em que define como é a intervenção naquela área, quais as espécies etc, já está tudo definido, só temos de executar de acordo com o Plano Florestal que está em vigor. No caso dos baldios de Cortes do Meio, como é uma área muito grande, também há um plano de gestão florestal alicerçado na questão do mix de espécies e mix de produção. Nós reunimos com a entidade gestora e executamos de acordo com o plano da entidade gestora no terreno, obviamente que há sempre aqui alguns ajustes. Mas também é importante esta visão, que nós em Monchique estamos de certa maneira a fazer esse planeamento, mas é muito importante que logo à priori esse planeamento esteja feito. É de mais fácil execução se efetivamente tivermos uma visão do que queremos para o nosso território, um ordenamento e o que falta.

E o que de facto falta?

Executar. É um dos problemas do nosso ordenamento de território, das nossas leis. Se olharmos para as políticas de ordenamento de território e conservação da natureza até estamos bem situados, o grande problema é a execução. Isso é que nunca ocorre por falta de investimento.

Reflorestação. Créditos: GEOTA

Como disse muito deste financiamento para a reflorestação é privado. O Estado não tem interesse, não existem políticas públicas? Há entraves burocráticos nos apoios?

Há um antes e um depois de 2017. Depois de 2017 muito por causa da perda de vidas humanas que efetivamente o Governo, e Portugal inteiro, foi obrigado a olhar para a floresta, para o ordenamento do território de modo a evitar que catástrofes semelhantes voltem a acontecer, ou pelo menos tentar mitigar. Mas estamos a falar de um interior despovoado, com uma economia débil, e infelizmente tivemos ao longo das várias décadas – sou militante do Partido Socialista mas não tenho problemas nenhuns em fazer a critica interna. É transversal a todos os governos que houve um forte centralismo e um distanciamento face a estas temáticas – conservação da natureza, floresta –, na família das políticas públicas é sempre o parente pobre ou o primo afastado das prioridades e isso realmente levou a um afastamento e a um desordenamento do território que hoje conhecemos na nossa floresta.

Os proprietários privados que não têm meios nem capacidade técnica, não investem porque têm medo que venha um incêndio – até posso ter o meu terreno cuidado mas se no geral estiver tudo desordenado não vou investir porque posso correr o risco de perder. Houve um êxodo rural a partir da década de 1950, tal como fizeram os meus pais, que consequentemente leva ao abandono dos territórios. Não existiam incêndios porque tínhamos um território pobre, de sacrifício, em que as pessoas precisavam de aproveitar tudo, desde a caruma até aos tojos para fazer a cama dos animais. E quem tinha terras tinha mais capacidade económica do que as pessoas sem terras.

Atualmente inverteu-se, quando temos uma economia assente sobretudos nos serviços, nas grandes cidades, o território fica ao abandono, e isso é a grande mancha do afastamento: não temos pessoas, não temos atividade económica, não temos votantes, não temos retorno, não temos visibilidade. As árvores não votam. A floresta não traz visibilidade, só quando infelizmente acontecem tragédias. A partir de 2017 houve uma inversão nesse afastamento e há políticas públicas ambiciosas para todo o país. As Áreas Integradas de Gestão da Paisagem (AIGP) são a última ‘bala’ para tentar mitigar aquilo que serão os grandes incêndios e o impacto das alterações climáticas no nosso território de interior, na floresta.

E ou se aproveita esta oportunidade para a qual temos financiamento da União Europeia, do PRR, ou… ainda há umas semanas o Fundo Ambiental publicou um aviso de 217 milhões de euros para Operações Integradas de Gestão da Paisagem, ou seja ações na AIGP com financiamento a 100%, para executar até 2025.

É preciso que as pessoas entendam que neste momento há dinheiro e financiamento a 100% para se fazer investimento no território e o país tem de apanhar este comboio porque se o perde duvido que alguma vez consiga.

As AIGP podem ser um caminho?

Sim. Não são o único caminho mas são um avanço muito grande face àquilo que estava definido antes de 2017. Em Vila de Rei temos três AIGP. As ZIF só tiveram sucesso para o montado no Alentejo ou então para expandir ainda mais a monocultura do eucalipto. Não trouxe um real ordenamento do território, um mix de espécies, um mosaico agroflorestal bio diverso que seja resiliente ao incêndio. Nas ZIF a questão dos incêndios também não era central. As AIGP já têm em conta a resiliência aos incêndios, um mosaico bio diverso, tem de haver uma função produtiva, tem de haver retorno económico mas também o aspeto da gestão , aspeto ambiental com os serviços dos ecossistemas, portanto há aqui uma maior complexidade e no momento em que temos financiamento do PRR para executar. É preciso fazer, é preciso dinheiro. Espero que Vila de Rei apanhe esse comboio e que se consiga fazer alguma coisa no concelho.

Por falar nisso, qual o segredo para revitalizar a floresta do Médio Tejo e no Pinhal Interior (nomeadamente Vila de Rei, Sertã e municípios do norte do Ribatejo, como Abrantes, Sardoal e Mação) e até que ponto pode este setor ser chave para fixação de pessoas e criação de riqueza?

Pode ser chave. Temos de acreditar, não há outra solução. Porque se este território for afetado de 10 em 10 anos por grandes incêndios as pessoas vão associar a este território a grandes incêndios, a perigo de vida, correr o risco dos seus investimentos arderem, de não terem retorno absolutamente nenhum. Obviamente que tem de ser chave!

Como é que podemos fazer isso, ou seja inverter o processo?

Há duas componentes. Na componente de ordenamento de território temos de apostar num mosaico agroflorestal tendo a componente da agricultura e da floresta, porque temos espécies que estão ligadas aos dois campos, e que seja bio diverso, ou seja pode ser organizado mas tem de ser diverso. Não podemos ter uma extensão de monocultura de pinheiro ou de eucalipto. Essas espécies têm o seu lugar próprio de existir – trabalho numa associação ambientalista mas temos uma abordagem pragmática, e neste momento o eucalipto é a espécie que ocupa maior área em Portugal, uma espécie que vem da Austrália, não vamos conseguir mudar isso de um ano para o outro. Temos de reduzir mas não eliminar por completo até porque há uma indústria. Mas o caminho é o mosaico – medronheiro, sobreiro, todos os carvalhos associados e algumas espécies de madeira nobre, em que têm vários subprodutos. No caso de medronheiro não temos só aguardente de medronho, embora seja uma aguardente de luxo.

É preciso algum associativismo e cooperativismo de puxar por essa marca e gerar agregação e economia de escala mas é um produto que pode ser transformado em compotas, pode ser vendido fresco, podemos educar os consumidores. A cortiça não temos só a rolha, temos vários subprodutos, a indústria do design, dos isolamentos das casas, etc. Temos de aprender com os meios antigos e atualizá-los para o século XXI. Não ser aquela visão de sacrifício que referi há pouco, será um território de menor densidade mas altamente especializado e tecnológico. É esse o caminho.

Vivemos num território que é privado, temos de falar com as pessoas, ir ao terreno. As decisões não são feitas por decreto e é essa a principal aprendizagem nos projetos Renature. Nos sítios onde estamos a trabalhar não vamos ter capacidade de resolver todos os impactos dos incêndios. Em Monchique arderam 27 mil hectares, não temos capacidade para isso, o que nos interessa é demonstrar e como se deve fazer, e temos de ter equipas e lideranças no terreno que vão falar com as pessoas, que vão explicar, e depois temos de ter um pacote financeiro que consiga fazer esse investimento a 100%.

Porque são pessoas idosas sem capacidade de investimento, muitas vezes até têm capacidade técnica. Se as pessoas não tiverem interesse então tem de haver uma gestão cooperativa e as AIGP vão nesse sentido.

Ainda vamos a tempo?

Gosto de ser otimista por natureza senão não estaria a fazer o Renature se não acreditasse que seria possível. A alternativa é desistir e não há possibilidade de baixarmos os braços. Não podemos desistir face às alterações climáticas, face ao abandono do território, à desertificação não só dos terrenos mas também do ponto de vista demográfico.

Luís Miguel Jerónimo nasceu em Lisboa há 34 anos, cidade onde vive, mas tem as raízes bem plantadas em Vila de Rei. Créditos: mediotejo.net

Mas o Ministério da Coesão Territorial implementou algumas medidas, designadamente para apoiar o regresso das pessoas ao mundo rural. No entanto, os números são irrisórios…

Porque o território não tem economia de escala. Se na zona do Pinhal Interior tiver dois hectares, não consigo fazer nada com dois hectares. Se os reconverter num pomar de medronheiros talvez consiga ter alguma produção mas não consigo muita. Se for um produtor de mel também não irei ter grande retorno. Tem de se ganhar economia de escala e só se consegue através do associativismo, do cooperativismo, como disse. Tem de se puxar por marcas, não podemos ter tabus e complexos relativamente àquilo que os territórios produzem, o modelo não pode ser inverter e termos a população que tínhamos nos anos 1940/50, é impossível!

Mas conseguimos fixar população se o território for produtivo. Estamos aqui na Melriça, temos uma vista privilegiada 360º, quase que conseguimos ver a Serra da Estrela, até Abrantes, e vemos que a maior parte do território está abandonado, não é produtivo. Hoje em dia com as novas tecnologias, com a questão do teletrabalho que veio para ficar, a questão do turismo rural, tem de estar tudo junto num pacote.

Daí o mosaico agroflorestal que pode trazer muitas outras possibilidades. Não só o setor produtivo mas também o ecoturismo que também pode criar empregos, trazer nómadas digitais, pessoas em teletrabalho que em vez de estarem fechadas num bloco de apartamentos em Lisboa, com trânsito, podem trabalhar com muito melhor qualidade de vida nestes territórios. É muito mais saudável.

Portugal só vai conseguir ser um país desenvolvido, igual aos países nórdicos e do centro da Europa, com os quais nos gostamos de comparar, se olharmos para o território como um todo. Todos os territórios têm as suas potencialidades, ou aproveitamos o máximo das potencialidades e especificidades de cada território – temos um país dos mais diversos que existem – temos uma oportunidade gigantesca. É preciso liderança.

E é preciso investimento, como disse há pouco. Mas há ou não um desajuste em relação às necessidades no terreno? Concorda que as pessoas tenham de avançar primeiro com os investimentos e só depois são reembolsadas?

Esse é um dos grandes problemas. Talvez o principal problema destes financiamentos. No nosso caso planeamos os projetos, os projetos têm objetivos, os financiamentos não vêm depois das árvores estarem plantadas. Há metas que têm de se cumprir e os financiamentos vão sendo libertados, alguns antes, durante, e alguns depois. Pessoas que não têm capacidade financeira, técnica, se exigem que avancem com os investimentos mesmo que prometam que depois são reembolsados a 100%… se calhar muita gente faria se tivesse essa capacidade de investimento, se não o faz é porque não têm. É preciso primeiro avançar.

Ficou popular a questão da taskforce na covid-19, na vacinação, que foi altamente bem sucedida. É preciso criar essas taskforces no terreno que conseguem planear, executar as ações que acompanham esse processo. Decretar e lançar dinheiro europeu mas depois um pequeno proprietário tem de avançar com 20 ou 30 mil euros… as pessoas não têm essa capacidade. Temos de aprender com erros , designadamente de quando Portugal entrou na CEE e muito dinheiro foi esbanjado sem ter qualquer impacto, tem de haver uma fiscalização e um acompanhamento e à priori um planeamento para que a intervenção tenha robustez.

E tem de haver um calendário de pagamentos. O Estado não pode exigir ao cidadão que cumpra todos os prazos, e se não cumprir leva com uma coima ou uma multa, e depois quando é o Estado já não ser da mesma maneira. Tem de ser transversal. Os pagamentos têm de ser a 30 dias no máximo e têm de se implementar esse modelo.

O GEOTA tem vindo a formar uma frente ativa no combate à desflorestação em Portugal e pretende criar metas mais ambiciosas e ajudar a construir um país mais verde e sustentável. Sabemos que o País tem problemas estruturais. O que é isso de ‘metas mais ambiciosas’ e de facto quanto tempo poderá levar?

Não há que ter medo das palavras; estes processos vão demorar pelo menos 20 ou 30 anos. Isto se tudo correr bem. Estamos a plantar sobreiros que demoram 30 anos a crescer, e os ciclos dos grandes incêndios são de 10 anos, hoje em dia são mais curtos. Independentemente da cor do partido que está no governo, se é de esquerda ou de direita, tem de haver um pacto de regime para não destruir aquilo que foi feito. Portanto durante 20 ou 30 anos com investimentos anuais robustos e no terreno a acompanhar. É a única solução.

Temos de gerar emprego local. Estes 217 milhões de euros que estão agora disponíveis têm de ter impacto localmente. Quando falo do impacto social não é só na questão dos proprietários mas também nas pessoas que vivem naqueles territórios. Há que trabalhar a partir da base, não pode ser feito a partir de gabinetes em Lisboa. Tem de haver uma grande autonomia e grande capacidade de intervenção no terreno para que o impacto se gere realmente. A importância que damos ao SNS e à escola pública se calhar temos de ter um serviço nacional da floresta ou o que lhe queiram chamar. É uma coisa que vai custar muito dinheiro, mas esse dinheiro investido agora vai-nos permitir poupar muito mais do que se não fizermos nada.

A verdade é que há uma tendência para o ser humano viver na cidade…

Mas atualmente começa a haver uma inversão desse modelo. Neste momento com as tecnologias de informação, com o sistema de teletrabalho isso vai ser quase prática comum. Então numa economia de serviços vamos poder viver em quase todo o lado e trabalhar, não só em Portugal, mas daqui estarmos a trabalhar numa empresa no Reino Unido ou outro país qualquer. Sem esperar que a coisa aconteça por si, porque há países que vão aproveitar isso muito mais e outros muito menos. Temos de criar as condições para que isso aconteça.

Sendo um jovem, mudo-me para o Pinhal Interior mas depois a escola vai fechar por falta de alunos, se não tenho creches, não tenho serviços de saúde, se não tenho acesso à cultura obviamente as pessoas também não se movem. Mas todo o setor da floresta pode criar muitos empregos, suficientes para mudar radicalmente a realidade destes concelhos, porque se eu criar 200 postos de trabalho em Lisboa não tem grande impacto mas se criar 200 postos de trabalho em Vila de Rei o impacto é brutal. Com menos meios conseguimos criar mais impacto, fazer muito mais a diferença.

Como demonstra, tem ideias para a nossa região, designadamente para o seu concelho – Vila de Rei – também várias vezes fustigado pelos incêndios. Mas qual será o primeiro passo?

A questão da floresta é central. Complementarmente a isso, saindo o âmbito da floresta, acho que se tem de apostar na prestação de serviços públicos de qualidade, uma escola, um serviço nacional de saúde de qualidade, um forte programa cultural, tem de haver esse dinamismo. E agora a questão das maternidades… as pessoas têm receio disso. Tem de haver excelência na prestação desses serviços, do ponto de vista mais global tem de se perceber as potencialidades e especificidades de cada território, e aqui temos muitas nomeadamente a produção de energias renováveis. Tem de haver consciência que a maior parte da população vive nas cidades e são centros e estruturas altamente deficitárias.

A energia que se consome em Lisboa não se produz em Lisboa, os alimentos que se consomem em Lisboa não se produzem em Lisboa. Todo o resto do território alimenta esses centros e tem de haver uma justiça e coesão territorial para que também se aposte no resto que está a alimentar estes centros urbanos.

Portanto defende uma discriminação positiva?

Sim. Aliás, já existe, mas é preciso financiamentos, etc. Por exemplo no pagamento dos serviços de ecossistemas. A água que eu bebo em Lisboa vem de Castelo de Bode. Ou seja, se este território for gerido para potenciar essas reservas de água, se eu sou um proprietário que potencia, eu deveria ser ressarcido por isso. Deve haver um pagamento por serviços de ecossistemas. Se tenho uma visão de potenciar o ciclo da água, do sol, de ter serviços de produção de alimentos, madeira, etc, para além dos apoios públicos. Da mesma maneira que pago a escola pública, não só da minha freguesia, mas como um todo. É esta a lógica.

A energia é produzida fora das cidades, os alimentos, todos os bens materiais são produzidos fora das cidades e portanto tem de haver um equilíbrio de pagamento de serviços de ecossistemas mas sempre numa nova visão de equilíbrio, ambiente, social e económico.

Luís Miguel Jerónimo nasceu em Lisboa há 34 anos, cidade onde vive, mas tem as raízes bem plantadas em Vila de Rei. Créditos: mediotejo.net

Nesta sub-região do Médio Tejo, e também noutras zonas do interior do país, a maior ocupação é monocultura de eucalipto, como disse, uma espécie da Austrália. Como chegámos a este ponto?

Na floresta portuguesa, o eucalipto ocupa 26%. Na Rede Natura de Monchique, por exemplo, ocupa 35%. Um ciclo de corte de pinheiro, se for bem feito, é 70 anos. Com eucalipto, em 30 anos, um proprietário consegue fazer três cortes. No imediato, o ‘petróleo verde’ como chamavam ao eucalipto, vai trazer mais retorno. Isso aconteceu porque há uma indústria que só pensa no retorno a curto prazo.

A Navigator, por exemplo, é uma das maiores empresas de produção de papel do mundo. Conseguiu atingir esse estatuto porque está fixada num país como o nosso – embora hoje em dia a matéria prima venha também de outros países, de Moçambique ou do Brasil. A média de propriedade privada rural na União Europeia representa 55%, em Portugal é 98%, altamente fragmentada e dispersa. Os países que mais se aproximam é Espanha e Suécia, com média de 80%. Portanto, houve aqui uma capacidade das grandes indústrias profundamente capitalistas entrarem pelo território adentro, convencerem os proprietários a plantar, assinam contratos a 30 anos, normalmente, em que fazem três cortes, pagam uma renda anual.

O retorno a curto prazo que têm é muito grande. Sou arquiteto paisagista, venho muito da escola de Gonçalo Ribeiro Telles, um pioneiro na área do ordenamento do território que não só atualizou Portugal durante a década de 1980 em termos de políticas de ordenamento de território mas foi pioneiro, colocou-nos à frente de outros países, demos um salto de gigante, contudo a execução falhou, com a crise, FMI, etc. Para ele o grande problema era o eucalipto e nunca foi dada prioridade a isso.

No entanto, os proprietários florestais e indústria da celulose alertam que restrições ao aumento da área desta espécie têm causado “prejuízos económicos” ao país. E pedem o aumento da área de eucalipto e de outras espécies de árvores de crescimento rápido em zonas de mato abandonadas para reduzir o risco de incêndio e desenvolver o setor. Isto faz algum sentido para si?

Para mim não faz sentido. Na ótica deles faz, é um negócio. Respondem perante os acionistas que querem lucros, quanto mais eucalipto tiver mais lucro vou ter. Não me surpreende que tenham essa visão porque estão a defender os seus interesses num curto prazo, e quando digo que é uma matriz profundamente capitalista é nesse sentido. Estão a defender aquilo que é seu no curto prazo não estão a pensar no valor da terra para o proprietário daqui a 40 anos, isso não interessa. Se olharmos para o aspeto económico, ou seja, lucro num curto prazo não há modelo de negócio que combata o eucalipto a não ser, se calhar, o turismo rural ou ecoturismo de luxo.

Mas qual é o problema desse negócio?

É que neste momento não contabilizamos o passivo ambiental, ou seja, a degradação dos solos, a perda de biodiversidade, a perda do banco genético natural, a perda da infiltração de água, a perda produtiva do solo. Ignoramos isso completamente e não incorporamos no negócio porque se incorporássemos esses fatores no negócio, passava de lucro a prejuízo. Daí aquela lógica que falei sobre o pagamento de serviços de ecossistema. É exatamente para beneficiar e incentivar a quem gere bem e a quem faz bem. Porque em termos de passivo ambiental reduz brutalmente.

Portanto, as áreas de eucalipto das grandes celuloses face a incêndios, porque há uma limpeza total, e se há uma redução da matéria orgânica em teoria há uma maior resiliência face aos incêndios, menor probabilidade de arder. Mas em primeiro lugar o eucalipto não é todo assim: há eucalipto que os produtores plantam e se der, dá, se não der, não dá. Não há qualquer gestão. Neste momento há uma lei que proíbe a expansão do eucalipto, e muito bem, tem de se manter.

No caso do eucalipto o balanço é negativo. Aliás as próprias celuloses já estão a fazer um certo reajuste e só estão a apostar naquelas que são mais produtivas. A técnica foi primeiro expandir para todo o lado, e essas empresas de escala mundial têm técnicos a fazer cenarizações de acordo com as alterações climáticas, o impacto que isso vai ter no solo, na produtividade… porque se a propriedade não gerar certa tonelada de madeira, não for produtiva, não interessa. Interessa continuar a defender a expansão, em termos de comunicação, para que o eucalipto não perca a importância que tem.

Mas se olharmos para os cenários daqui a 40 ou 50 anos, muitas áreas de eucalipto não vão ter a mesma produtividade que têm hoje, pelo impacto das alterações climáticas, processos de desertificação etc. Portanto já estão a reorientar um pouco da sua estratégia. Para mim o principal problema desse negócio é que não incorpora o passivo ambiental. Quando se calcular isso, e já há muita investigação académica a ser feita nesse sentido, universidades a trabalharem para saber como incorporamos esse passivo ambiental num plano de negócios, tem de ser científico, robusto e ter personalidade jurídica. E são esses modelos que agora estão a ser discutidos. Quando isso acontecer vai revolucionar tudo.

O medronheiro, o carvalho e o pinheiro manso são algumas das espécies plantadas ou a plantar. O objetivo passa por plantar cada vez mais árvores endémicas …

Os carvalhos têm diferentes distribuições, há carvalhos que se dão mais no Norte. O sobreiro e a azinheira têm uma ocupação muito transversal em Portugal. Em Monchique temos o carvalho-de-monchique (quercus canariensis) porque só existe naquela serra, uma espécie que está criticamente ameaçada em perigo, há estudos que indicam que só existem 250 árvores na região. Estes valores são incorporados nos projetos, no Renature Monchique tentámos plantar essa árvore, temos quase um subprojeto só para essa árvore, é tentar que essa espécie não se extinga, mas é apostar nas espécies endémicas porque são aquelas que estão melhor adaptadas ao nosso território, embora o eucalipto também venha de um ambiente de fogo, climas secos e solos austeros, e adaptou-se daí dar-se tão bem em Portugal, mas depois tem uma competitividade face às espécies endémicas que não é proporcional.

Também motivar as próximas gerações a cuidar das florestas no plano ambiental, social e económico. Mas como é que isso se faz sem gente no mundo rural?

Por isso, como disse, as nossas equipas têm uma matriz muito jovem, embora os operadores de máquinas sejam pessoas com mais idade. Mas os sapadores, os plantadores, são pessoas na casa dos 20 ou 30 anos. Gerando este trabalho estamos a conseguir fixá-los naqueles territórios. É uma atividade contínua, trabalho há sempre.

Após a plantação, continuam a apoiar o proprietário na sua gestão?

Sim, no caso de Monchique. No caso de Leiria a gestão é feita pelo ICNF e no caso da Serra da Estrela é feita pela entidade gestora dos baldios. É esse o compromisso.

Miguel Jerónimo enquanto deputado do PS na Assembleia Municipal de Vila de Rei. Créditos: mediotejo.net

O GEOTA nasceu a partir de uma ideia fundamental: considerar o ambiente como um fator central de desenvolvimento. Sendo certo que não há desenvolvimento possível sem salvaguardar os recursos ambientais, mas não é possível proteger o ambiente à revelia das aspirações dos cidadãos. Sente que os portugueses se preocupam com o ambiente? Estão preparados para alterar hábitos de consumo ou de alimentação? Não continuam as novas gerações a ser demasiado consumistas?

Acho que mudou bastante. E acho que vai mudar. Estamos a falar das gerações que agora têm 15 a 20 anos. Ainda não entraram no mercado de trabalho, ainda não têm um poder de atuação assim tão grande. Têm mais a visibilidade mediática que lhes é atribuída. Foram essas gerações que colocaram o tema na agenda, falo de Greta Thunberg e outros ativistas, greves nas escolas, etc. Acho que deram muita importância mediática ao tema e é uma coisa que não volta atrás.

E mantendo o meu espírito otimista, quando estes jovens chegarem aos seus trabalhos, aos lugares de decisão, vão ter outra sensibilidade e vão dar outra importância a esta temática. É o pensar global, agir local.

Em tudo, do trabalho aos hábitos de consumo, pessoais, podemos gerar impacto e com as novas gerações vai-se notar. Neste momento não se nota porque ainda não são os principais consumidores mas no entanto vemos marcas em que a sustentabilidade, para além de ser uma moda, mas efetivamente isso é mais positivo do que negativo. As marcas tentam ‘esverdear’ aquilo que é a sua atuação, e não tem nenhum impacto, mas vemos esta mudança e achamos que pode trazer diferenças. Em Portugal ainda não reciclamos como devíamos, é certo, mas reciclamos muito melhor. Mas mais do que a reciclagem é a redução de consumo.

No que toca a eletrodomésticos, equipamentos e aparelhos, felizmente na União Europeia há legislação desenvolvida para evitar que se compre novo quando se estraga um. As empresas desenvolveram os produtos, a engenharia, de tal maneira que é quase impossível arranjar um telemóvel ou um micro-ondas. Neste momento está a ser desenvolvida legislação na União Europeia para que todo o processo se reverta, um pouco como era antigamente. Nos carros há uma mania de comprar carro de dois em dois anos, toda a gente na família tem de ter carro. Não! Andar mais de transportes públicos, mas para isso tem de haver oferta. Do ponto de vista do consumo penso que esta geração tem maior sensibilidade para isso. Estamos a falar em mosaico bio diverso, se eu apostar em produtos regionais e tendo em conta a sua sazonalidade vou ter um impacto muito grande.

As cadeias curtas de consumo podem ser uma revolução brutal, é reorientar o consumo, o mercado, como era antigamente. Nas cidades há uma maior apetência para isso, de ir ao mercado, à feira. Quando digo incentivar o consumo local é olharmos para o país como local.

Tornar-nos mais protecionistas, é esse o caminho?

Tem de haver um certo protecionismo mas também a noção que, ao criarmos um mercado global, deslocalizámos o nosso sistema produtivo para países na África, Ásia, América do Sul. Temos de ser mais protecionistas mas não de um dia para o outro. Impusemos os sistema àqueles países, levámos o nosso modelo de desenvolvimento económico àqueles países, e agora sendo mais protecionistas tem de haver alguma justiça para esses países. Por exemplo, para a União Europeia a carne e os produtos agrícolas chegam muito de produção externa. Obviamente que temos de produzir mais cá e incentivar essa produção, e terá um impacto muito grande principalmente para países como Portugal.

Mas depois enquanto bloco continental não podemos dar uma volta de 180 graus e gerar crises sociais. A pandemia alterou muito, não só a indústria mas também os hábitos de consumo de alimentos, estas crises inflacionistas também advêm disso, ou seja, se há um mercado global e se há um impacto, há uma paragem, das cadeias logísticas etc. Se as pessoas estão em casa porque têm de estar confinadas e a indústria está a trabalhar a meio tempo, se deslocalizamos tudo, se há uma paragem no caminho, temos este cenário, e agora há esta questão da guerra mas a inflação já existia, veio piorar a situação.

Os principais consumidores continuam na Europa e na América do Norte mas o sistema produtivo está todo em África, na Ásia, na América do Sul, os recursos naturais como o lítio muito em África. Not In My Back Yard [não no meu quintal], ou seja não querem ter os impactos no seu território. Há aqui um fino equilíbrio, também não podemos sub-explorar o nosso território mas também não podemos abandonar completamente os outros países e ser demasiado protecionistas porque alimentamos crises sociais e económicas nesses locais que vão ter um impacto global.

Na verdade já vemos esses impactos…

Sim. Mas os migrantes da guerra vão ser uma ínfima parte daquilo que serão os migrantes climáticos. Quando houver faixas do globo, maioritariamente junto ao equador, em que vai ser quase impossível a existência humana, porque as temperaturas vão ser altíssimas, essas migrações comparadas com o que estamos a assistir vão ser de muito maior escala. Vão ter de sair para sobreviver e temos de nos preparar para isso. Tornamos isto demasiado global e agora se acontece alguma coisa não temos capacidade de fazer nada – há uma visão mais protecionista, até um certo limite acho que é positivo. Equilíbrio é a palavra.

Se fizermos uma fortaleza que é o que estamos a construir, quer na Europa quer na América do Norte, ninguém cá entra… e isto é um bocado paradoxal porque estes dois blocos precisam altamente de mão de obra imigrante. Embora a capacidade de produzir no nosso país deva ser potenciada, há décadas que não conseguimos produzir os cereais que consumimos em Portugal, não temos território para isso. Mas se reduzirmos o consumo de carne e variarmos o consumo de carne, com raças autóctones, com carnes brancas, aí temos capacidade de fazer grande diferença e diminuir a pegada ecológica. Já acabámos com as centrais a carvão, um salto brutal, apostámos nas energia renováveis.

Politicamente, embora seja um deputado municipal eleito pelo Partido Socialista – já foi vereador -, mas considera-se um ativista pelo ambiente ou um técnico?

Sou um ativista. Em inglês é mais fácil… sou um ativista de ação. Ou seja, o ativismo resulta de ações concretas no terreno. Ambas as lutas são importantes, mas o ativismo às vezes tem de ser concreto e impactante no terreno, principalmente nestas matérias. Têm de ter uma especialização técnica muito grande, senão o impacto é mais do ponto de vista de comunicação.

Sendo um ativista em defesa do ambiente, na sua opinião qual a razão de um partido ecologista, como os Verdes, em Portugal tem pouca expressão, contrariamente ao que acontece no Norte da Europa, por exemplo?

Nos anos 1970/80 com o crescimento dos partidos verdes na Europa, houve uma maneira do PCP ir buscar esses votos com uma coligação. De certa maneira, bloquear o crescimento de partidos verdes em Portugal, acho que houve jogadas políticas que impediram o desenvolvimento desses partidos. Por outro lado, quando começaram a surgir esses partidos verdes na Europa, o estado de desenvolvimento de Portugal era completamente diferente, estávamos a sair de uma ditadura em que não tínhamos Serviço Nacional de Saúde, não tínhamos educação pública. As nossas preocupações foram outras.

O ambiente começou a ser discutido com Gonçalo Ribeiro Telles, com as suas políticas de ordenamento de território mas em termos de impacto no terreno, do ponto de vista legislativo, os impactos começaram a sentir-se sobretudo após a entrada na CEE – e tivemos mudanças brutais. As pessoas hoje em dia não se recordam e eu, que nasci em 1988, conheço essa realidade pelos estudos mas as indústrias poluidoras nas grandes cidades, no estuário do Tejo, o saneamento, os tratamentos de água. Demos um salto gigante.

Mas os Verdes, como estavam a crescer na Europa, poderiam fazer o seu caminho autónomos…

Ficaram ali. E já tivemos vários encontros – o GEOTA –, fazemos reuniões com vários partidos, temas específicos, e do ponto de vista técnico, da preparação dos temas, o Partido Ecologista Os Verdes, porque esteve muito tempo no Parlamento, eram de longe as pessoas do ponto de vista político mais capacitadas para esse efeito. A CDU veio condicionar muito o surgimento de partidos verdes, acho que o Bloco de Esquerda não tem uma fundação dos verdes da Europa, neste momento o Livre talvez tenha essa fundação ecológica, o PAN ainda é um partido muito da causa animal, tem muitas limitações para o resto, inclusive tecnicamente. Infelizmente vivemos outro problema do ponto de vista político.

As gerações mais jovens votam muito menos que as gerações mas velhas, temos uns votantes mais envelhecidos e os mais jovens são muito abstencionistas. Mas gosto de acreditar na mudança, quer dentro do PS, onde já vejo uma mudança forte do ponto de vista da importância da sustentabilidade, das políticas públicas, do ordenamento do território, as AIGPS e a transformação da paisagem são resultado disso. O PS nunca vai ser um partido verde porque é um partido da social democracia – é muito mais vasto do que isso -, portanto embora seja um ativista e um acionista do ambiente tenho uma visão global da sociedade e essa marca histórica do PS é isso que me leva a ser militante e a defender as suas causas como o Serviço Nacional de Saúde, a entrada na CEE…

Além dessas, quais as causas que o movem?

Embora profissionalmente trabalhe muito nesta área do ambiente acho que tem de haver um equilíbrio e uma justiça social em todos os campos. Temos de ter serviços públicos fortes, sobretudo na Educação e na Saúde. O PS foi o grande defensor e que executou, em democracia, essas políticas e tenho orgulho dessa herança. A importância que o PS tem hoje na sociedade vem muito dessa herança. Mas depois outras políticas, como o ordenamento do território, do ambiente, dos transportes públicos da energia. Sinceramente vejo que o PS está mais virado para o futuro, no século XXI, do que os restantes partidos, nomeadamente o PSD ou a Iniciativa Liberal, de alternativas de governação. É um partido com novos quadros, capazes, não dependemos do nosso primeiro-ministro António Costa, temos alternativas internas, pensamentos diferentes. Esperemos que esta fase mais complicada que o governo está a atravessar possa ser ultrapassada e concentrar-nos nos problemas reais, estruturais e geopolíticos que estamos a atravessar neste momento. Sou um defensor da causa pública. Há espaço para haver uma economia mista, não tenho dúvidas, mas tem de ser muito forte em certas políticas e acho que o PS tem defendido isso.

Portanto, defende um capitalismo controlado?

Sim. Embora ache que – se tudo correr bem – o capitalismo será sempre um sistema transitório. Qualquer dia, com as novas tecnologias, com maquinização do trabalho, com a desmaterialização do mundo, haverá uma altura em que não dependeremos com trabalho – hoje dependemos do trabalho para coexistir na sociedade, ou seja, a sociedade está assente no trabalho, mas cada vez mais a sociedade está-se a desmaterializar, a mecanizar, a automatizar –, a inteligência artificial vem revolucionar o trabalho, portanto qualquer dia o ser humano – embora do ponto de vista intelectual não digo que não sejam necessárias algumas profissões mais técnicas – muito do trabalho que tem em 2023 será automatizado e aí não pode ser o capitalismo que temos hoje. Será um novo sistema que estaremos a discutir daqui a 30, 40 ou 50 anos.

E quem é o Luís Miguel Jerónimo?

Sou um social democrata muito à esquerda. O Partido Socialista é de base social democrata, obviamente após o 25 de Abril tinha de ser Partido Socialista para não ser conotado com política de direita, o Partido Social Democrata que é de centro-direita, quase da democracia cristã, tinha de ser Partido Social Democrata. Do ponto de vista social não sou casado mas tenho uma companheira, estamos juntos à 14 anos, acredito ser uma base para o futuro. Tenho um filho de 1 ano e quatro meses, tenho de ser otimista e acreditar nas novas gerações e não pensar que isto que está condenado. E sou sobretudo uma pessoa que olha para o mundo como um todo, não separa entre pessoas que vivem nas cidades das que vivem no campo, das pessoas que vivem na Europa das que vivem em África. Não! Somos todos seres humanos, somos todos iguais, temos todos direito às nossas diferenças, orientações, diferenças culturais, etc, e temos todos espaço na nossa sociedade. É esse o mundo em que acredito. É para isso que luto. Do ponto de vista profissional como arquiteto paisagista a minha atuação é muito gerar impacto e mudança para a sociedade, utilizando os meus conhecimentos técnicos ao máximo. É aquilo que posso dar.

Luís Miguel Jerónimo nasceu em Lisboa há 34 anos, cidade onde vive, mas tem as raízes bem plantadas em Vila de Rei. Créditos: mediotejo.net

Qual a sua melhor recordação de Vila de Rei?

São as festas, os arraiais. As festas de Milreu, a feira do mel onde era uma liberdade completamente diferente. Cresci na cidade, nos subúrbios de Lisboa, juntava os meus amigos em Vila de Rei, que viviam em Lisboa, em Coimbra e em outras cidades. Era a liberdade de andar de bicicleta pela floresta, tínhamos todo o mundo à nossa volta para explorar. Os nossos pais davam-nos autonomia com responsabilidade e éramos efetivamente seres 100% livres. Acho que foi isso que puxou muito inicialmente.

E à medida que fui crescendo perceber a riqueza que há nos dois mundos, ou seja, as coisas boas da cidade e as coisas muito boas que existem no campo. As tradições, os produtos, a gastronomia, estar à volta da lareira, fazer a vindima, fazer a apanha da azeitona, depois ver o resultado disso, ajudar os meus avós na horta. As tradições das aldeias, as janeiras, todos os ciclos da produção em que estavam todos interligados às tradições, na casa dos meus avós fazia-se a matança do porco normalmente no inicio de dezembro, a aldeia juntava-se, era uma coisa comunitária, marcava-se para que toda a aldeia pudesse ajudar naqueles processos, portanto, todos ajudávamos em todas as casas. As mulheres faziam os enchidos e punham-se no fumeiro, normalmente no Natal já estavam prontos para se provar. O vinho também já estava feito. No dia 25 juntava-se a aldeia e ia-se de casa em casa provar o vinho, quando era mais novo era uma tradição só de homens felizmente hoje já incluiu as mulheres e levamos as crianças.

E esse tipo de raízes ao território, sinceramente, não me sentiria uma pessoa completa se não tivesse vivido isso, e é pela manutenção desses valores e desse mundo que luto em Vila de Rei, luto no meu dia a dia profissional, para que isso se mantenha. É essa experiência que tenho que é tão rica, que faz ser a pessoa que sou, mais aberta, não pensar que há pessoas melhores que outras. Somos todos diferentes, cometemos erros, somos humanos. Acho que sem essas experiências da terra era muito incompleto.

E também dependeu da educação que os meus pais me deram. Vieram de um meio muito difícil, a minha mãe nasceu numa casa sem casa de banho, sem eletricidade, sem água, sem nada. Sempre me transmitiram essa visão de humildade e sem preconceitos, todos temos um potencial muito grande e temos de saber trabalhar isso. É o que quero transmitir ao meu filho.

Qual o seu local favorito e porquê?

A aldeia do meu pai, Milreu. As festas junto à igreja. Nos verões íamos muitas vezes ao Penedo Furado, tenho memórias muito próximas daquela zona. E o meu pai é um adorador de avifauna, de pássaros, e vai para o meio da floresta aos ninhos identificar onde, por exemplo, o gaio fez o ninho, em que altura do mês. Lembro-me de ir com ele, desde muito pequeno, aos ninhos, os sítios, anotar, um pouco por todo o concelho de Vila de Rei, portanto todo o concelho tem um lugar especial no meu coração.

O que gosta de fazer nos seus tempos livres?

Gosto de ser um cidadão do mundo. Gosto da gastronomia, portanto, gosto de ver os produtos, ir aos restaurantes, falar com os cozinheiros. Em Lisboa gosto muito de ir ao teatro, a exposições, ler livros, ir ao cinema. Para termos mundo também temos de nos enriquecer com cultura, com história. Adoro viajar, já estive em vários continentes, em vários países, nos últimos dois anos foi mais difícil por causa da pandemia – quando se deu a pandemia estava a voltar de uma viagem na América Central, uma semana depois fecharam as fronteiras. Esse espírito aventureiro mas também muito enriquecedor de conhecer outras pessoas, outras culturas. Neste último ano e meio mais difícil tem sido por causa da criança. Ainda não voltei ao normal mas não perdi gosto nenhum. E agora com ele, é mostrar-lhe tudo.

Qual foi o projeto que lhe deu mais prazer e o mais difícil de trabalhar?

O projeto que me dá mais prazer é o Renature Monchique porque não há amor como o primeiro. É o mais complexo porque é só propriedade privada, temos 60 proprietários, é uma gestão muito de pessoas, temos de criar uma relação. Aquele que nos dá mais trabalho, de longe, mas também o que nos dá mais desafios e retorno. O Renature Estrela estamos a começar, não será exatamente a mesma experiência mas acredito que possa ser parecida. O minha maior concretização na vida será a relação que tenho com a Inês, a minha companheira, e o meu filho.

Paula Mourato

A sua formação é jurídica mas, por sorte, o jornalismo caiu-lhe no colo há mais de 20 anos e nunca mais o largou. É normal ser do contra, talvez também por isso tenha um caminho feito ao contrário: iniciação no nacional, quem sabe terminar no regional. Começou na rádio TSF, depois passou para o Diário de Notícias, uma década mais tarde apostou na economia de Macau como ponte de Portugal para a China. Após uma vida inteira na capital, regressou em 2015 a Abrantes. Gosta de viver no campo, quer para a filha a qualidade de vida da ruralidade e se for possível dedicar-se a contar histórias.

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