A Igreja Católica expressou hoje preocupação com o “atraso” na recolocação de 160 mil refugiados e recomenda às autoridades europeias e nacionais “maior celeridade” na concretização deste processo.
No comunicado final da assembleia plenária da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), que hoje terminou em Fátima, no distrito de Santarém, os bispos manifestam, também, o desejo de que os refugiados “possam ser acolhidos dignamente antes do frio de inverno, acabando com a cena desumana destes novos pobres diante de muros de betão e de arame farpado”.
O documento, lido pelo porta-voz da CEP, padre Manuel Barbosa, adianta que, “perante o drama dos refugiados que fogem à guerra, à perseguição e à fome no Médio Oriente e no norte de África”, os bispos “reafirmam o dever do acolhimento em nome das raízes humanas e cristãs da Europa”.
“Neste contexto, saúdam as instituições portuguesas que estão desde já preparadas para esta missão e congratulam-se pelas iniciativas da Plataforma de Apoio aos Refugiados (PAR – Famílias), na qual se encontram muitas instituições da Igreja”, adianta o comunicado.
Os bispos destacam, ainda, a “solidariedade dos portugueses para com os refugiados que se encontram em campos no Líbano, através do programa ‘PAR-Linha da Frente’”, sendo que, para estes, “será canalizado o contributo da operação ‘Dez milhões de Estrelas – um gesto pela Paz’ deste ano”.
Na conferência de imprensa que sucedeu à reunião do órgão máximo da Igreja Católica portuguesa, o presidente da CEP, cardeal-patriarca Manuel Clemente, considerou que a situação dos refugiados é “inquestionável como prioridade”.
“Temos que atender àquelas pessoas. Vai cair-lhes o inverno em cima, já está a ser rigoroso nalgumas partes e é assim que vão ficar [os refugiados], debaixo de tendas e sem proteção?”, afirmou Manuel Clemente, defendendo a necessidade de se questionar esta “falta de intervenção atempada”.
Para o presidente da CEP, “os sinais mais positivos” que tem notado na sociedade europeia face a este drama “é de respostas, mais ou menos espontâneas, mais ou menos organizadas, da parte de cidadãos”.
“Isso mostra que somos ainda uma Humanidade propriamente dita, mas temos que o ser”, declarou, reconhecendo, contudo, que a classe política europeia “está diante de situações que têm a sua complexidade” e “têm opiniões públicas internas que também não são unívocas, concretamente nos países de mais imigração”.
A este propósito, Manuel Clemente afirma ainda que “há movimentos muito positivos e solidários de acolhimento”, mas começam a surgir outros “no sentido contrário”, pelo que os políticos “têm um papel complicado”.
Três milhões de refugiados deverão chegar à Europa até 2017, altura em que haverá uma “normalização gradual dos fluxos”, estimou no dia 05 a Comissão Europeia, nas previsões económicas de outono.
Portugal vai receber, ao abrigo do Programa de Relocalização de Refugiados na União Europeia, cerca de 4.500 pessoas, nos próximos dois anos.
Na última semana recebeu cerca de 30 pessoas, mas ao abrigo da quota anual estabelecida entre Portugal e o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados.